Opinião

Opiniao 23 10 2018 7119

CARTA ABERTA ÀS JUSTIÇAS BRASILEIRAS

Luiz Maito Jr*

Possivelmente em meses estarei morto, meus grandes amigos também, no máximo aqueles que podem irão embora do Brasil. Estaremos inutilizados por sermos vermelhos segundo a concepção do futuro governo. Seremos surrados, vilipendiados, humilhados, única e tão somente por acreditarmos na liberdade, na educação pública, na possibilidade de participação popular.

Acredito que por mais que tentemos ter fé, morreremos por causa da infidelidade dos ditos cristãos ao discurso de seu líder, do Messias verdadeiro, aquele de 2000 anos atrás. Apanharemos até sangrar, por sermos crentes em um sistema que embora falho, ainda é muito melhor que o coturno e o massacre “desideológico” da violência e o ódio.

Lembrando que morreremos, apanharemos e seremos vilipendiados porque quem nos teria de defender, tem medo, medo de morrer, medo de apanhar, medo do vilipêndio, do soldado e do cabo que lhes acabariam o sustento. O Supremo Tribunal Federal e também o Tribunal Superior Eleitoral serão os signatários dessas mortes, surras e humilhações.

Como maiores câmaras decisórias de seu poder, estes regulam a justiça, neste momento se apequenam frente ao covarde ataque. Mas muito mais do que isso, retificam os crimes e ratificam as futuras atrocidades de um regime totalitário, a História já lhes mostra o passado covarde, seja ao entregar Olga Benário, seja mancomunar com a ditadura civil militar de 1964, o presente parece caminhar para isso novamente.

Senhores ministros, vocês que tem o poder decisório nas mãos, tem no racionalismo a justiça que prevê a constituição, mas que tem o medo e o pavor da morte ou da infâmia que lhes aguarda no futuro, não matem, não deixem nos matar, não nos deixem apanhar, não nos deixem sermos humilhados. Estamos esperando a sua decisão, como uma última esperança, como um inocente esperando a decisão sobre uma pena de morte. Porque sim haverá aqueles que morrerão. 

Não se escondam atrás de discursos relativizantes, porque vocês sabem que não há neste momento o que relativizar. Não falem em marolas, quando o que vem por aí é um Tsunami. Não falem que golpe é um termo forte demais, quando o que teremos serão pessoas, histórias de vida, pensadores sendo pisados, mutilados. Dra. Rosa Weber, Dra. Raquel Dodge, Dr. Luís Fux não nos matem, não passem para a História como fiadores de um processo histórico sombrio, onde em escombros estarão todos nós.

Pais perderão filhos, filhos perderão pais, avós serão mortos, netos espancados, irmãos chorarão escondidos à violência que acreditaram ser a solução, primos rememorarão os tempos de infância quando aquela menina era tão doce, tios e tias entenderão que as armas, eram contra seus próprios parentes, haverá dor, haverá sangue em cada família, os mortos não voltarão, estarão mortos, sem vida, sem discurso, sem lhes amar mais, sem lhes dar bom dia, sem lhes dizer, quero te ver hoje, sem abraços, sem beijos, sem nada.

*Pós-Graduando em História da Amazônia

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Inclusive…

Walber Aguiar*

“Qualquer dia amigo, a gente vai se encontrar.” (Milton Nascimento)

Eram duas e meia da tarde. Estava indo para um compromisso não sei com quem, não sei aonde. Só sei que parei à sombra de uma árvore e decidi ir lá na farmácia do seu Zé Francisco. Algo me puxava na direção daquele ambiente agradável. Até porque, ali encontraria pastor Raimundo, um dos negros mais maravilhosos que tive o prazer de conhecer.

Estacionei naquele balcão e logo fui guindado na direção da discreta sala de atendimento da farmácia. Ali, o grande homem das palavras e do conhecimento, das injeções e do sorriso enigmático, revelaria segredos e coisas do cotidiano, delírios e desejos de que as coisas continuassem daquela forma ou melhorassem um pouco.

Mas ele estava sempre satisfeito. Ou não. Nômade que era, gostava de estar em constante mudança; principalmente de casa. Morou no Pricumã, no velho bairro de São Francisco, no Centro, e até nas proximidades do beiral, o famoso Caetano Filho.

Mudava-se constantemente. Sempre em busca de novos horizontes, de boas notícias, de uma boa conversa, de algo que pudesse tirá-lo daquela rotina cheia de seringas, feridas e males que atormentavam o corpo e a alma;

Ora, pastor Raimundo, um negro de Tomé-Açu, no Pará, era o evangelista, o anunciador das boas novas, o médico de todas as doenças. Tinha sempre uma ideia na cabeça e um vidro de remédio na mão. Falava muito e conversava termos variados, como quem tergiversa e não chega a amarrar as pontas soltas do diálogo.

Naquela tarde eu não fui mais ao compromisso, encantado com as palavras do grande homem que se postara à minha frente. Conversamos sobre matemática e terminamos montando um mosaico filosófico, que ia dos pré-socráticos a Nietzsche, de Platão a Jean-Paul Sartre.

Aquele homem feito de ébano e possuído por uma fragilidade de asa de borboleta, sempre me deixava fascinado pela gama de conhecimento que possuía, pela sabedoria com as palavras e com os gestos.

Sempre penso nele com carinho; no dia que entrei cedo na farmácia e saí mais de seis horas da tarde. Poucas pessoas me encantaram tanto nessa vida como aquele homem negro, simples e de educação ímpar.

Mas gostava mesmo quando ele dizia: inclusive, encompridando a conversa…

*Advogado, poeta, historiador, professor de filosofia e membro da Academia Roraimense de Letras. [email protected]

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Exames clínicos x exames laboratoriais

Marlene de Andrade*

O Senhor odeia os lábios mentirosos, mas se deleita com os que falam a verdade. (Provérbios 12:22)

Mais uma vez, volto ao assunto da solicitação de Eletroencefalograma, eletrocardiograma e outros mais, desnecessários nos exames de admissão, periódicos e demissionais, porém dessa vez cito a Norma Regulamentadora de n.º 35, que não deixa claro os exames a serem realizados nos trabalhadores que vão executar atividades em altura. 

Essa Norma estabelece os requisitos de proteção para o trabalho em altura, envolvendo planejamento, organização e a execução, a qual garanta segurança aos trabalhadores, que estejam direta ou indiretamente com esta atividade e se for necessário o médico especialista em medicina do trabalho poderá solicitar um ou mais exames laboratoriais, mas não que isso seja uma obrigação do profissional médico fazê-lo quando não há necessidade.

Outra NR que desejo citar e a de número 33 que contempla trabalhadores que exercem suas funções em espaço confinado. Essa norma também não faz exigências em relaç
ão a exames laboratoriais. No entanto, virou moda em todo Brasil algumas “clínicas” que atendem trabalhadores, solicitarem uma gama enorme de exames desnecessários a fim de obterem lucros à custa dos empregadores o que para mim é desonestidade com o cliente.

Além do mais, não adianta nada solicitar um EEG ou um ECG de um trabalhador e esses exames serem laudados fora do Estado, visto que esse procedimento é subjetivo e de fato nada revela de importante.

Infelizmente, um número enorme de clínicas se equipou com uma gama muito grande de aparelhos para realizar exames que além de serem subjetivos são muito caros, sendo assim os empregadores deveriam questionar esses absurdos. Ainda bem que muitos empregadores já acordaram. Afinal de contas as clínicas que atendem na especialidade de medicina do trabalho não são comércios.

O exame clínico é soberano e o médico, evidentemente, tem autonomia de solicitar, quando necessário, exames laboratoriais, mas tudo tem que ser realizado com ordem e decência, não é assim que a Palavra de Deus nos exorta?

O site slowmedicine fala de Francis Peabody, que no início do século XX, deixou claro que a medicina de qualidade não consiste na aplicação indiscriminada de exames laboratoriais no paciente e ele não era um médico qualquer e sim um “CaringPhysician” de Harvard. Francis Peabody deixou muito explícito que o paciente não deve ser visto apenas como uma fotografia e que o atendimento não pode ser impessoal. Que visão futurística tinha esse homem no século 19, pois hoje é isso que muito tem ocorrido. Volto então a repetir: o exame clínico é soberano e os laboratoriais apenas complemento para fechar o diagnóstico.

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT e Técnica em Segurança do Trabalho – CRM/339 RQE-341

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Quem paga?

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“O contribuinte é um cara que trabalha para o governo sem ter que prestar concurso.” (Ronald Reagan)

Eu era recém-chegado a Roraima e tinha um bom relacionamento com o pessoal da Secretaria de Educação. Frequentemente eu saía pelos interiores, com meu amigo Carlos Coelho. Certo dia, chegamos a uma escola de um interior bem afastado. O tempo era chuvoso, havia buracos e muita lama. Precipitadamente, o motorista jogou o carro por dentro de uma buraqueira terrível. E inadvertidamente, eu comentei:

– Cara… Você judiou do carro. Ele poderia ter se quebrado.

E como a fala foi brincalhona, o motorista respondeu brincando:

– Que nada… O patrão é rico. Se o carro quebrar, ele compra outro.

Preferi ficar calado. Afinal de contas é assim que vemos a coisa. O patrão a quem o motorista se referiu era o Governador do Estado. O motorista, como a maioria de nós, não sabe que o dinheiro de que o governo dispõe é nosso. Nós é que estamos pagando a compra desorganizada de carros que são quebrados por desleixe. O governo não paga as despesas com o dinheiro dele, ele está usando, legalmente, o dinheiro que nós lhe passamos através dos impostos que pagamos, até mesmo quando compramos o pão para o café da manhã. Nada de bronca, tá? Estou apenas falando de casos que acontecem diariamente e a todas as horas, e que não percebemos por nossa ignorância política.

Em poucas palavras, o Ronald Reagan nos deu uma lição de cidadania. Afinal trabalhamos para o governo, sem que percebamos. Todo mau político que extravasa o dinheiro público está gastando o nosso dinheiro. O Reagan também disse: “As melhores mentes não estão nos governos. Se alguma estivesse, a iniciativa privada iria roubá-la.” Deu pra sacar? Então vamos parar de espernear e gritar. O importante é que nos eduquemos politicamente, para que sejamos cidadãos de fato e de direito. Só aí nós iremos saber, notar, perceber, que política não é bandidagem. Política é coisa séria. E ela está em todos os locais, nos comportamentos civilizados. É na política que aprendemos a respeitar o adversário, porque nela não há inimigo. E não faremos uma boa política sem respeito. Então vamos respeitar os cidadãos, dizendo-lhes que são eles os patrocinadores dos gastos que deveriam ser honestos. Todo bom político sabe que na política devemos: “Manter nossos amigos bem perto de nós. E os nossos inimigos mais perto ainda.” E isso se faz com respeito, e não com bandidagem nem brigas comadrescas.

Vote com consciência. Mesmo sabendo que ainda não vamos salvar o Brasil nessas eleições. Mas podemos iniciar a caminhada com maturidade. Pense nisso.

*Articulista

[email protected]

99121-1460