Bois de Piranha – Jaime Brasil Filho*
Nestes tempos tão turbulentos a sensação é que cada grupo, e mesmo cada um, escuta apenas aquilo que deseja. Pouquíssimos são aqueles que buscam ter honestidade intelectual e reconhecer as contradições dialéticas em seus posicionamentos.
Há aqueles que não percebem, e não querem perceber, que todas as dificuldades pelas quais o PT e Cia passam foram causadas originalmente por eles próprios. Eles alimentaram as cobras que hoje, em magotes, se alçam contra quem os alimentou por mais de uma década.
No primeiro ano de Governo Lula, sua primeira grande ação foi apoiar o ataque aos direitos previdenciários dos trabalhadores, e, assim, foi aprovada a famigerada Emenda Constitucional Nº 41. E, para que servia essa emenda? Para transferir dinheiro dos trabalhadores para os banqueiros e agiotas internacionais.
É sintomático que Dilma, nos dias de hoje, tenha em pauta justamente a aprovação de uma nova reforma na Previdência e que tem os mesmos objetivos que Lula buscava em 2003. Aliás, este Governo Dilma não tem absolutamente nada de esquerda, e eu desafio alguém que prove o contrário. Sem falar nos direitos dos trabalhadores já surrupiados desde o ano passado, Dilma se omitiu, há pouco, diante de uma lei que criminaliza as manifestações e os movimentos sociais organizados, é a chamada Lei Antiterrorismo, e capitulou diante do projeto de lei de José Serra que entrega o Pré-Sal para as multinacionais.
Mas, a despeito do estelionato eleitoral cometido por Dilma diante do prometido em campanha comparado ao que tem feito nesse segundo mandato, aqueles que buscam a sua saída precoce não querem transformar a República, mas, sim, “normalizar” a República, ou seja, deixá-la como era antes.
Por acaso há alguma outra forma de se eleger candidatos neste país, com raríssimas exceções, que não seja com base no poder econômico, dentro de um ciclo de corrupção e favores políticos prestados aos empresários, que, depois, retribuem os favores entregando propinas aos agentes públicos e detentores de mandatos? Claro que não. Desde o tempo da escravidão que o espaço político institucional brasileiro é reservado aos que têm mais dinheiro. Existe alguma casa legislativa no Brasil onde a maioria necessária à governabilidade do executivo não seja construída em troca de dinheiro e cargos? Diga-me qual.
O que boa parte dos legisladores de Brasília quer é que o país volte à “normalidade”. E a normalidade para eles é a corrupção. Afinal, eles estão “perdendo” dinheiro com tantos holofotes atentos a qualquer negociata que se insinue, claro, por conta da Lava Jato. Tanto barulho assim, todos os dias, é ruim para os “negócios”.
A corrupção não é a causa dos nossos problemas, mas, é sim, é a consequência deles. Se o sistema político permanecer como está, ou pior, se mudar dentro das propostas ainda mais excludentes que desfilam por aí, como é o caso do tal voto distrital, por exemplo, nós permaneceremos como estamos, controlados por corruptos e por gente que não quer nem saber do povo brasileiro.
Mas é Dilma e Lula quem os alvos da imolação no altar público da expiação. O objetivo de muito dos seus adversários e detratores é que eles purguem os “pecados” de todo o sistema, e tragam a redenção à maioria dos corruptos que aplaudirão histericamente as chamas que consumirão os dois “bodes” escolhidos.
Há quem se atreva a dizer que todas as acusações de corrupção são falsas. Mas esses são “religiosos políticos”, transformam partidos em times de futebol, são apaixonados pelo que escolheram e cultuam personalidades como forma de justificar a própria crença em alguém ou em alguma coisa, ou ainda, estão no fundo defendendo seus cargos e seus bolsos. O fato é que a corrupção existia e existe, sim, e é sistêmica, e não começou nos governos Lula\Dilma. Todos os governos anteriores se utilizavam de esquemas similares para se manter no poder. Portanto, dizer que é tudo invenção da mídia é o mesmo que dizer que a mídia está agindo com isenção. Não está.
A burguesia e a grande mídia já fecharam questão: chega de intermediários. Os grandes capitalistas certamente chegaram à conclusão de que é um desperdício de tempo e dinheiro ter que negociar e sustentar o aparato burocrático do PT para gerir o Estado, já que há a possibilidade de que os próprios agentes nativos do capitalismo se apropriem das rédeas do poder.
Para expulsar o PT do poder, os poderosos escolheram o método mais simples que há. Qual a maneira de se desgastar qualquer governo neste país? Ora, utilizando o calcanhar de Aquiles que quase todos têm: falta de ética, corrupção.
Dilma e o PT deram a chance que a burguesia queria. Exageraram na dose, apareceu Moro, os fatos avançaram, e, então, os poderosos bateram o martelo para tirar do poder aqueles que agora, para eles, não passam de serviçais anacrônicos do capital.
Claro que dentre muitos dos que querem a saída de Dilma há os cheios de ódio de classe. É gente que odeia gente, principalmente se não for branca e rica. Mas a maioria do povo é mesmo contra a corrupção, e, por isso, se deixa levar pelos discursos fáceis de que acabando com essa corrupção específica da Lava Jato muita coisa mudará. Não mudará.
Se Dilma vier a cair, as primeiras reações da grande mídia e dos grupos políticos opositores serão gritar pela unidade, pelo pacto pela governabilidade, para que os ânimos se acalmem etc. A Operação Lava Jato será necessariamente amortecida e desestimulada, simplesmente porque se ela continuar como está toda a República cairá. Porque a nossa República é montada e manipulada por grandes e pequenos corruptos, e nenhum dos principais atores, e que buscam a saída de Dilma, têm interesse nisso.
Somente os ingênuos acreditam que se muda um país organizado para a corrupção prendendo alguns corruptos, e pior, somente os mais tolos ainda imaginam que serão presos e punidos todos os corruptos em um país governado majoritariamente por eles.
Dentro dos marcos constitucionais, hoje, seriam Temer ou Aécio a assumir a Presidência da República. Ambos estão acusados de crimes em delações na Lava Jato, e, depois deles, ocupando postos sucessórios, outros nas mesmas condições.
Dilma e PT deram todos os motivos para estar como estão. Pensaram ser aceitos pela plutocracia nacional e pelas oligarquias tradicionais, abandonaram as bandeiras históricas e se deixaram embalar pelas estruturas corrompidas do sistema. Mas eles são apenas bois de piranha. A boiada vai atravessar nesse cenário manipulado e pontual.
Precisamos de um outro sistema político, protagonizado e controlado pelo povo. Onde teríamos “Lava Jatos” populares permanentes. Os olhos e as ações da coletividade a serviço da própria coletividade. Sim, teríamos revoluções permanentes. E somente o próprio povo organizado pode inventá-las.
*Defensor Público———————————- Rui e Joaquim – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Quanto mais corrompida a República, mais leis”. (Rui Barbosa)
Mais uma vez não cumpri minha palavra com você. Prometi que nunca mais me envolveria na fogueira em que está nossa política, mas não resisti. Estamos vivendo um dos momentos mais desagradáveis da nossa história política das últimas décadas. Se você viveu como eu vivi, os movimentos políticos que antecederam a posse do regime militar de sessenta e quatro, sabe do que estou falando. Sofremos e comemos o pão que o diabo amassou, mas não aprendemos e nada mudou desde então. Continuamos elegendo políticos despreparados e desonestos, e nem nos tocamos que somos nós os responsáveis pela bagunça que eles fazem. E eles sabem que não é fácil, mas é possível nadar na desordem causada pelo número exorbitante de leis que não nos protegem; mas protegem os malfeitores da política.
Como o Rui, o Joaquim Barbosa, em nossa época, acabou de dizer: “Somos o único caso de democracia que condenados por corrupção legislam contra os juízes que os condenaram”. Porque o que temos de leis ridículas que protegem os corruptos, não está no gibi. Tudo está vindo à baila e ninguém presta atenção. Mas como prestar atenção se somos todos despreparados para a política? Se ainda votamos como verdadeiros paus-mandados? Você já reparou que estamos nos aproximando de um “31 de março”. Que nada vai mudar enquanto nós não mudarmos como pretensos cidadãos? Porque cidadãos ainda não somos nem seremos enquanto formos obrigados a votar. E só seremos capazes de votar facultativamente quando formos politicamente educados; e não o seremos enquanto não nos educarem. E ninguém está a fim de nos educar, para não perder o poder que tem sobre nossa ignorância.
Já lhe falei da noite em que assisti a uma entrevista com o Marechal Juarez Távora, em mil novecentos e sessenta e dois, quando ele falou: “Os militares não gostam de assumir o poder no País. O fato é que os senhores civis assumem o poder e bagunçam tudo, levando o País à bagunça. Quando o País entra na banca rota, os militares assumem, põem a casa em ordem e devolvem aos civis; e os senhores bagunçam tudo novamente.
Agora, no dia em que os militares assumirem o poder neste País, terão que ficar, pelo menos trinta anos, para poder arrumar a casa de maneira que os senhores civis nunca mais possam bagunçar”. O programa era trinta anos, mas ficaram só vinte e um anos. Logo, estamos lhes devendo nove anos. Tenho certeza que não haverá revolução, mas nada impede que no próximo dia 30, você durma com um olho fechado e outro aberto. O mais seguro morreu de velho. Pense nisso.
*Articulista – [email protected] – 99121-1460 ———————————-
ESPAÇO DO LEITOR
MUDANÇAO internauta Everton Leandro Carvalho ([email protected]) encaminhou o seguinte e-mail: “Não adianta apenas trocar os responsáveis pela gestão da Secretaria de Segurança Pública se não ocorrerem investimentos e principalmente confiança no gerenciamento dos recursos oriundos de verbas federais e convênios para manutenção do sistema de segurança. É necessário retomar o comando central da Segurança Pública para a secretaria estadual e buscar sanar as pendências que existem nos distritos policias. Daí planejar e retomar as ações de competência da pasta. Sanada esta situação, com certeza teremos ótimos resultados nas operações policiais”.
SEM CONDIÇÕESProfessores e alunos do Município de São João da Baliza, Sul do Estado, protestaram contra as condições em que se encontra a unidade escolar municipal: “É vergonhosa a situação da unidade escolar em Baliza. Falta tudo, não temos como realizar o planejamento das aulas, pois nem material didático a unidade escolar possui. É humilhante para os professores não terem como desenvolver um bom trabalho pela inércia do poder municipal”.
IRACEMA Sobre a recondução do prefeito de Iracema, o leitor Misael Carvalhedo opinou: “Para a Justiça não interessa o estrago que esse cidadão vem fazendo no Município de Iracema, onde nada funciona ou só funciona o que não é de responsabilidade da Prefeitura. O povo de Iracema que se dane, já que ainda existem prerrogativas para que este senhor possa assumir novamente o cargo, mesmo que seja somente para cumprir tabela, já que a população é quem sofre as consequências por esta renúncia de responsabilidade”.
TRÂNSITO “As novas adequações que o setor de trânsito municipal fez em algumas ruas localizadas no Centro para desafogar o trânsito foram positivas, no entanto, como era de se esperar, mesmo com relação às placas sinalizando sentido único, é incrível o desrespeito por parte de alguns motoristas. É preciso reforçar a fiscalização e coibir estas imprudências”, comentou o leitor