Sobre frutos e árvores – Walber Aguiar*
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.Drummond
Ali, na Rua da Jaqueira, encontrei dias de graça e de conhecimento, de sentimento e de incomparável experiência. Encontrei os Magalhães, na figura bonita e simples de Dorval de Magalhães. Tomávamos suco gelado debaixo de frondosas mangueiras, onde, sendo desfraldada a história e a poesia, resvalava em todos o resultado grandioso e pacificador da existência.
Estávamos ali, sob a sombra da grande árvore, o homem que virou mito, o mito que deixou frutos e sonetos, ideias e livros. E livro lembra biblioteca, e isso nos remete à capacidade de fluir e de deixar fluir o conhecimento, de quem espalha livros à mão cheia e faz o povo pensar. Isso nos remete a um ser humano fantástico chamado Tânia Magalhães de Alencar, a fada dos grandes e pequenos volumes, das histórias infantis e dos grandes romances da literatura brasileira.
Se filho de onça já nasce pintado, Tânia herdou do pai a doce fala, o verbo firme, a poesia que se entremeia nas falas mais simples, nos discursos mais profundos. Coisa de quem faz o deserto virar mar e o mar virar a geografia dos mais profundos e infinitos mistérios. Por isso a menina de Dorval, mesmo nos domingos e nas terças mais enfastiadas, consegue transformar o tédio em melodia, pela capacidade de criar e de imaginar a força da palavra e do conhecimento; pela vontade de fazer e de transformar o conhecimento em algo palpável, concreto, mensurável.
Daí o grande privilégio de conhecer a frondosa árvore e seus frutos vermelhos, que, à semelhança do buriti, espalham vida e enchem os olhos de satisfação e alegria, de reflexão e de contentamento. Gente que resiste com a força dos caimbezais, diante da estupidez e das intempéries do existir.
Aprendemos com Tânia que o botão precede a flor, que a flor precede o fruto, que o encasulamento vem antes do fascinante voo das borboletas. Que o livro é o travesseiro de todos aqueles que acordam com esperança e dormem com a mais leve das consciências, com o senso do dever cumprido. Que uma biblioteca não serve para guardar livros, mas para alimentar as almas sedentas de luz e de saber, a fim de que se possa banir o obscurantismo conservador que nos engessa, aliena e mata.
Vamos celebrar com ela o dia 23 de outubro, para fazer lembrar a todos que a vida segue, ainda que na placidez de um rio esquecido ou na tempestade insaciável do mar. Vamos viajar pelo conhecimento ilimitado, a fim de que descubramos que “não existem raças, o que existe é o gênero humano”… Afinal, o fruto nunca vai cair longe da árvore…
*Poeta, professor de filosofia, historiador. Conselheiro de Cultura e membro da Academia Roraimense de Letras. [email protected]
Simulação à busca de lucro – Marlene de Andrade*
“Seja, porém, o vosso falar: sim, sim; não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna.” (Mateus 5.37).
Existem empregadores que exploram seus funcionários, mas também existem muitos trabalhadores bastante desonestos. É inadmissível entender que todo empregado que dá entrada na Justiça do Trabalho contra o empregador, o qual o demitiu, seja sempre, o vilão. De fato, existem empregadores perversos e exploradores e, por seu turno, trabalhadores desonestos e que simulam doenças não existentes, caracterizando um ato bastante imoral.
Já presenciei muitos trabalhadores adoecerem dentro do trabalho, porém já vi inúmeros deles fingindo estar doentes ao serem demitidos. Sendo assim, passam a acusar as empresas de serem responsáveis por terem adoecido dentro das mesmas, simulando doenças inexistentes.
E o interessante, é que grande parte desses trabalhadores antes de serem demitidos nunca se queixam de doença alguma, mas é só receber o aviso prévio para logo procurarem um advogado que lhes ajudem no seu propósito de atingir a empresa que o demitiu. E o mais interessante é que, infelizmente, existem advogados que se submetem a tal propósito cruel e maligno.
Certa vez fui nomeada por um Juiz do Trabalho para ser a sua perita em um caso muito chocante, pois o trabalhador, o qual era pedreiro, chegou ao meu consultório no dia da perícia mancando e alegando que havia caído dentro do trabalho e que por esse motivo se tornou incapacitado para continuar trabalhando.
O INSS não o aposentou e por isso comecei a questioná-lo o porquê do INSS o ter considerado apto para trabalhar. Ele deu algumas “explicações” desconectadas da realidade e eu passei a desconfiar que aquele trabalhador estava mentindo, mas ainda não tinha percebido a dimensão da mentira.
Esse homem se queixava de limitação na região coxo-femural, mas ao examiná-lo percebi que ele calçava botas e que as mesmas estavam bastante sujas de pó de cimento. Ora, ele entrou mancando no meu consultório alegando que não conseguia mais sequer pedalar sua bicicleta e como explicar aquelas botas sujas do pó de cimento?
Descobri aquele simulador trabalhando em uma obra de construção civil em cima de um andaime. Claro e evidente, que filmei aquela cena e a entreguei ao advogado da empresa ré. No dia da audiência o Juiz após assistir a tal cena imoral, imediatamente arquivou aquele processo. E o interessante é, que nesses casos o Juiz, salvo melhor juízo, não pode dar voz de prisão para o trabalhador pego na mentira, pois somente testemunhas é que não podem mentir durante a audiência.
*Médica Especialista em Medicina do Trabalho
Eu e minhas ideias – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Não é suficiente ter uma boa ideia; o principal é usá-la bem.” (René Descartes)
Conhecemos um zilhão de pessoas que tiveram ideias geniais e não souberam usá-las adequadamente. E por isso fracassaram nos programas traçados pelas ideias. Analise bem suas ideias e vá em frente. Todos os resultados que obtemos na vida são frutos das ideias. Até as ideias más realizam-se, claro. Porque elas dependem do nosso desenvolvimento racional. Sei que você já desperdiçou muitas ideias. E daí? Por que ficar desiludido com isso? Os desperdícios podem ser considerados erros. E é aí que devemos valorizá-los. Porque é com os erros que aprendemos, quando aprendemos a aprender.
Vou te dar uma ideia: nunca perca seu entusiasmo quando seu plano não der certo. Lembre-se do Edson. Ele falava que quando não conseguia acertar num projeto não errava; aprendia como não fazer. E é essa diferença que faz toda a diferença. Não sei como foi seu dia ontem. Mas isso não nos interessa. O que sei é que você cometeu, involuntariamente, pelo menos um erro. Eu cometi um zilhão deles. E espero que você aproveite alguma coisa dos seus erros. Nossa evolução racional caminha muito lentamente. E mais lenta quando não percebemos isso e vamos nos acomodando, deixando o tempo passar sem perceber que ele está nos levando com ele.
Ainda não aprendemos a dar importância à grandiosidade da vida. Que cada momento da nossa vida pode e deve ser dirigido por nós. Senão não seríamos responsáveis. Ninguém, além de você mesmo, tem o poder de dirigir sua vida se você não permitir. E por que permitir que alguém dirija sua vida? Porque se você permitir estará na condição de marionete. São os vulgarmente chamados de “puxa-sacos”. E, infelizmente, a sociedade está inundada por eles. Mas sei que você não faz parte de círculo de elefantes de circo.
Viva sua vida, hoje, sentindo-se superior. E ser superior não é ser arrogante. Só os fracos necessitam da arrogância, da petulância, para medir a fraqueza dos outros. Não é à toa que os sábios dizem que os covardes e os cachorros sabem quando você está com medo deles. E se você demonstrar medo, eles fazem de você, ou um trapo ou um títere. Mantenha suas ideias no topo dos seus pensamentos. São eles que vão fazer de você uma pessoa capaz de realizar suas ideias.
Seja um idealista. Valorize-se e você irá longe, na caminhada da racionalidade. Mas sem neuras. Você é um ser humano de origem racional. E todos nós temos que voltar às nossas origens. Mas nossa evolução por aqui depende de cada um de nós. Valorize-se no que você é, e não no que pensa que é. Pense nisso.