Opinião

Opiniao 24 11 2016 3294

A neurociência percebida pela filosofia – Sebastião Pereira do Nascimento*De maneira geral, a neurociência é a área da ciência que estuda o cérebro humano, e visa desvendar o funcionamento cerebral e suas funções, a estrutura e o comportamento da mente e suas alterações. O termo neurociência surgiu recentemente, já na era científica pós-moderna, mas os estudos do cérebro humano remontam milhares de anos passados, vindo desde a antiga filosofia grega até os dias atuais.Com base nessas premissas, o biomédico Renato Sabbatini comenta que foi os egípcios, por volta de 2.500 a.C., que fizeram as primeiras relações da mente humana com o cérebro. Foi a partir de antigas escrituras deixadas por esses povos, e mais tarde decifradas por Edwin Smith, onde diziam que os egípcios acreditavam que a mente humana fosse como uma espécie de espírito, ao mesmo tempo em que esse espírito se “localizava” na caixa craniana.Ainda de acordo com Renato Sabbatini, na idade antiga os filósofos gregos já desenvolviam teorias sobre a compreensão do cérebro humano através de simples observações sintonizadas com a mente. Sendo os filósofos pré-socráticos Alcmeon e Demócrito, os primeiros pensadores a tratar desse entendimento, admitindo que a “sede” da mente humana era o cérebro.Tempo mais tarde, outros filósofos como Hipócrates e Aristóteles também deram importantes contribuições para compreensão da mente humana, consistindo na descoberta da “arte da cura”. Hipócrates, a partir da relação clínica com seus pacientes, sugere que era o cérebro o responsável pelas emoções, pelas aflições e pela consciência humana, ratificando que a base da mente fosse realmente o cérebro.Já Aristóteles, conjeturando sobre o mesmo assunto, mais pelo lado da elucubração do pensamento, acreditava que a “sede” da mente humana situava-se no coração, embora suas suposições não fossem baseadas em bases práticas. Mais tarde, Galeno compartilhando com os mesmos pensamentos de Hipócrates,voltou a propor que o cérebro era realmente o local da mente, fazendo uma serie de experimentos em animais, o que de certa forma contribuiu para contrapor as proposições de Aristóteles.Renato Sabbatini cita também o médico belga Andreas Vesalius – considerado na história da ciência como o primeiro anatomista de caráter científico. Vesalius escreveu, em 1543, sobre a constituição do corpo humano, fazendo profundos comentários a respeito do sistema nervoso, contribuindo muito para a compreensão dos complexos estudos da mente humana. Sobre os estudos de Vesalius, refiro-me aqui queforam demasiadamente elegantes quanto a sua estrutura técnica e muito importante para ciência moderna.Alinhados com belíssimos aportes filosóficos, Thomas Williis e Nicolaus Steno abordaram, separadamente, estudos importantes que compreendia a relação da natureza da mente e corpo a partir de ensaios práticos, abrindo um caminho mais puramente científico para os estudos da neurociência. Ambos rechaçaram a ideia da “mente espírito”, e que os ventrículos do cérebro, proposto anteriormente como elementos da consciência, não eram nada mais além de que uma estrutura decorrente da anatômica do próprio cérebro.Leonardo Da Vinci também foi um grande observador da mente humana, onde desenvolveu vários experimentos e observações relacionadas à mente a partir da dissecção de cadáveres, permitindo desvendar muitos “mistérios” para compreensão do sistema nervoso, chegando até desenvolver estudos sobre o senso comum.Outro grande ensaísta da especulação filosófica sobre a estrutura da mente humana foi René Descartes, o qual publicou o livro “ópera filosófica” que teve grande repercussão na época. Essa obra influenciou muito para os estudos sobre a filosofia da mente. Descartes, conhecido com o pai da “a ação reflexa” – que atribui ao estímulo sensorial –, acreditava que o corpo e a alma eram duas entidades distintas. Sobre essa concepção, Sabbatini argumenta ainda que esse pensamento serviu de base para fundamentar a teoria do dualismo mente e corpo de Descartes.No final do século XVIII, conhecido com século das luzes, os iluministas iniciaram os estudos mais aprofundados do sistema nervoso, adquirindo compreensões mais próximas e mais satisfatórias da mente. Esses estudos quebraram muitos paradigmas a respeito da evolução animal, consistindo em conclusões de que nos níveis mais altos da escala evolutiva, ou seja, entre os grupos de mamíferos, as ações deixam de ser meramente resultados de reflexos e instintos e passam ser uma plasticidade maior, uma característica dos animais inteligentes, assim como afirma o zoólogo Richard Dawkins.Assim, a partir dessas compreensões, passando por diferentes fases de especulações filosóficas e ensaios tecnológicos até os dias atuais, o entendimento sobre o sistema nervoso alcança um excelente patamar da neurociência, sendo modernamente de suma importância para a compreensão do cérebro dos animais, especificamente para compreensão da mente humana.*Filósofo– [email protected]———————————–O redemoinho na deseducação – Afonso Rodrigues de Oliveira*“A educação é como a plaina: aperfeiçoa a obra, mas não melhora a madeira”. Dizer-se que a educação no Brasil está falida é praticamente uma balela. Ela sempre esteve falida. Quem viveu a era, porque é era mesmo, da palmatória, sabe do que estou falando. A educação no Brasil começou nas faculdades da época em que só os poderosos podiam estudar. O menino não tinha como ir para a escola porque era pobre, a menina não podia ir porque era mulher. E mulher não precisava estudar. A menos que fosse rica e poderosa. E não faz tanto tempo que isso começou a mudar na educação. Mas uma abolição lenta, muito mais lenta do que o crescimento da população brasileira. A população cresceu, as mentes continuaram as mesmas, e a educação acabou caindo no pantanal do desmando.     Pelo cenário que estamos descortinando, hoje, na política brasileira dá pra os mais acordados perceberem que não vamos melhorar a educação, tão cedo. Mas a Lya Luft nos dá uma sugestão que poderemos, ou não, aproveitar de acordo com nossa educação: “E a gente sempre pode melhorar, desde que não seja apenas para ser como os outros querem que sejamos”. Legal pra dedéu. Porque até agora não conseguimos sair do balaio de caranguejos em que a política desonesta nos colocou, através de uma “educação” interesseira.     Bem recentemente um amigo meu foi, à tarde, pegou sua filhinha na saída da escola. Na ida para casa, dentro do carro, a garotinha falou:     – Pai, o que esse tal de Temer tá fazendo com o Brasil é um absurdo.     Ela continuou falando sobre os absurdos que o Presidente Temer estaria cometendo. O pai, dirigindo e com a testa franzida questionou:    – Não, filha. Não é assim não. Onde você ouviu isso?    – Foi na escola, pai. Foi a professora que falou isso pra a gente. Ela falou que o Temer vai acabar com o Brasil.     – Não, não é assim, filha. Não se deixe impressionar pelo que os outros dizem. Logo mais você vai aprender a ver as coisas como elas realmente são e não como os outros querem que você veja. Não fique impressionada com essas tolices que os outros falam.    A garota respondeu com apenas um “Hunrun”!! E o assunto encerrou-se. Mas não se encerrou. O pai da criança ficou preocupado e a criança, com certeza, com dúvidas. Afinal de contas, ela deve ter pensado: quem está certo, ela ou ele?     Enquanto não formos um povo politicamente educado não seremos cidadãos capazes de melhorar no que somos. E o que estou vendo é a preocupação política com a demonstração dada no despertar da população.

Mas ainda temos muito para fazer até entendermos que a luta deve ser silenciosa. Pense nisso.*[email protected] 99121-1460