Opinião

Opiniao 25 02 2019 7748

Você tem Síndrome do Olho Seco?

 Alexandre K. Misawa*

Quando vivemos em grandes centros urbanos, muitas vezes, não nos damos conta dos danos que fatores como a poluição e a baixa umidade do ar podem causar. No entanto, esses aspectos podem contribuir diretamente para o surgimento de doenças sérias. Se você já sentiu incômodos como ardor ocular, vermelhidão, sensação de corpo estranho nos olhos, coceira e fotofobia, é melhor ficar atento, pois esses são alguns dos sintomas da chamada “Síndrome do Olho Seco”.

Geralmente, essa secura aparece com sinais progressivos ao longo do dia. A doença consiste na deficiência do filme lacrimal ou da lágrima e pode ser agravada principalmente pela baixa umidade do ar. Usuários de lente de contato, operados de cirurgia refrativa a laser e mulheres da terceira idade estão mais propensos aos desconfortos dessa disfunção, que atinge de 15% a 20% dos pacientes que procuram um consultório oftalmológico. De acordo com a Associação de Pessoas com Síndrome do Olho Seco, calcula-se que 18 milhões de brasileiros sofram com esse mal.

Há dois casos principais para a decorrência do problema: a diminuição da produção e a evaporação da lágrima. Essa última causa pode ser prevenida com mudanças de hábitos do dia a dia, sendo que geralmente está associada ao uso intenso do computador, tablets, eletrônicos em geral e leitura prolongada. Além disso, é recomendada a realização de um check-up dos olhos uma vez ao ano.

O que se deve fazer para evitar a doença é dedicar-se a pausas regulares durante o uso do computador, diminuir o brilho do monitor, ingerir muito líquido e deixar os olhos fechados em intervalos regulares. Se mesmo assim, a sensação persistir, outra dica é piscar até sentir maior hidratação. Dentro de ambientes fechados, o ideal é evitar muita proximidade ou ficar com o rosto direcionado aos ventiladores. Em alguns casos, também é indicado utilizar lubrificantes artificiais.

Nos casos em que a síndrome ocorre por diminuição da produção da lágrima, o importante é investigar as causas e tratar a doença de base. Isso porque, além dos fatores ambientais, podem existir doenças oculares ou sistêmicas que contribuam para o olho seco, como alterações hormonais e algumas doenças imunes. 

Nessas situações, devem ser usadas lágrimas artificiais no início e, em quadros mais avançados, é indicado o uso de pomadas que possuem poder de lubrificação maior. Em algumas situações, ainda, é necessária cirurgia para preservar parte da lágrima do olho. De qualquer forma, ao aparecimento dos primeiros sintomas, as pessoas devem procurar um médico oftalmologista para o diagnóstico e o tratamento adequados.

*Médico oftalmologista e coordenador de Oftalmologia do Hospital San Paolo, centro médico de médio porte da Zona Norte de São Paulo (SP)

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Impunidade porque vale a pena

Tom Zé Albuquerque*

A cultura brasileira está sob o alicerce da corrupção. E isso não é novidade; a todo instante nos deparamos com alguém burlando, outrem trapaceando algo: na conta do restaurante, no trânsito, na fila… e, naturalmente, este problema ganha contornos gigantescos de pilantragem, fomentado pelo sentimento cruel reinante no Brasil: a impunidade.

A sensação de tolerância ao que é errado é secular no país da corrupção. Remonta, em bases documentais, o colonialismo. As capitanias hereditárias entonam essa realidade, oxigenada pela famigerada “política do perdão”, uma tradição portuguesa. Nem o governo central e as asperezas de seus corregedores resolveram o sentimento de autoproteção da elite brasileira. O primeiro código criminal do Brasil, em 1830, foi uma piada no que referia à punição, sobretudo pelos favorecimentos pessoais. “… as leis costumam ser feitas com muito vagar e sossego, e nunca devem ser executadas com aceleração, e… nos casos crimes sempre ameaçam mais do que na realidade mandam.”, foi o teor de uma carta régia de D. João V, em 1745.

No embalo do processo de colonização do país, proporcionalmente eram criados nocivos sistemas de proteção às nobiliarquias, cujas conquistas de maior monta tinham como lastro a inviabilidade às punições aos nobres ao ponto de, ao final do século XIX, nenhum homem rico ou influente ter sentado no banco dos réus para contenda jurídica sobre seus crimes. O discurso do regente Diogo Feijó consolidava essa desventura: “A impunidade deve cessar… O governo será infatigável em promover a execução das leis penais, cumpre que o cidadão pacífico, o homem honesto, não esteja à discrição do turbulento e do perverso”. Vê-se, pois, que ser impune no Brasil é genealógico.

A desmoralização política, o flagelo social, a amargura e sofrimento de cada cidadão honesto no Brasil que hoje é suportado podem ser definidos como algo patogênico. Convivemos com doçuras punitivas, proveitos, proventos e regalias a brasileiros surreais para qualquer nação séria e organizada; e o que dizer de um país onde a desigualdade de classes é abismal? Os prestígios da classe política e dos endinheirados (geralmente é a mesma coisa) no país da alienação blindam e protegem os facínoras de um câncer chamado impunidade, independentemente do tamanho do crime, da altitude do excesso ou da ocultez do escrúpulo, a regra dos “fins justificam os meios” está cimentada no cotidiano brasileiro.

A criminalidade no país onde a falcatrua é normal acresce a cada dia porque a impunidade existe e foi arquitetada para proteger o infrator. Como disse o criminalista Heleno Fragoso: “Muito mais eficiente que a pena é a certeza da punição. De nada adiantam discursos ideológicos sobre o crime, quando o delinquente sabe que jamais será punido”.

*Administrador

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As esquisitices do amor e outras tragédias nº 01

Hudson Romério*

Porque amar é preciso e viver não é mais preciso. Amar não é viver, quem ama não vive; e, quem vive sonhar em amar – o amor e a vida tem existências próprias, é aquém dessas… É a quem da morte; são paradoxais em suas formas e conteúdos. As duas coisas não se combinam: o amor é a existência sem vida, e a vida é a existência em busca do amor.

Quando vi minha cara no reflexo do espelho – não acreditei! Vi que não era eu! Mas era… Era eu refletido naquele espelho – aquilo era eu? Depois de quase cinco décadas eu não poderia ter me transformado naquilo ali!Naquela figura desfigurada era eu sim!  Metamorfoseado em algo que era eu.

Eu, parado, ali, naquela latrina, diante daquele espelho, vi que não tinha mais saída, era eu sim. Nem sei as horas! Nem sei que lugar era aquele? …eu ali inerte, vendo minha imagem, perdido em mim, achado dentro de um banheiro sujo, de um boteco desses da vida, dessa cidade que eu até esqueço que existe… Mas era eu…

Me sinto solapado em toda minha estrutura. É estranho descobrir quem realmente somos – depois de tantos anos a transmutação
física e moral nos mostra que mesmo involuntariamente é necessário passar pela vida e amar pelo menos uma vez. Foi numa dessas madrugadas quente, eu já de porre, caindo pelas tabelas de uma cloaca imunda, que descobri… Na verdade, se revelou o que eu já sabia, de que não se morre por amor, como falei acima, não se morre daquilo que não se tem vida. É isso que o amor nos causa, nos abala por inteiro, nos desestabiliza em toda nossa fé – assim como o presente e o futuro.

O amor não é um fato portentoso, não causa essas maravilhas que achamos que acontece quando se está amando. Mas é um pouco de tudo, porque não seria nada se não fosse tão utópico a ideia de que se amar é ser feliz. Então, mesmo sendo eu mesmo no reflexo do espelho, mesmo o amor não sendo vida, e a vida sem amor não fazer sentido – prefiro a ressaca de um dia inteiro do que a esperança de um amor por uma vida toda.

Foi catártica minha solidão – só de tudo… Só de todos! Até de mim mesmo. Depois de limpar os olhos e lavar o rosto, fitei-me por mais um tempo, e vi um semblante já gasto pelo tempo – sei da infinitude do tempo, e a minha finitude me fez crer em nada. Sei que a esperança é infinita, mas sei também que tudo é pra já!  Então, sigo minha vida simplória, já velho e cético de tanto acreditar no amor e tropeçar nas pedras da vida.

*Articulista

E-mail: [email protected]

Tel: (95) 99138.1484

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Vamos revolucionar

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A verdadeira revolução não é a revolução nas ruas, mas a maneira revolucionária de pensar.” (Charles Maurras)

Nunca conseguiremos revolucionar a nossa política enquanto não mudarmos nossa maneira de pensar. Continuamos tendo a política como a arte da maracutaia. Ou como uma forma de enriquecimento. Mas não há como mudar se nós não mudarmos primeiro. E a única maneira de mudarmos é mudando nossa maneira de pensar. Até podemos, mas não devemos, continuar marionetes dos que também não conseguem mudar sua maneira de pensar. Continuamos elegendo como nossos políticos os que nem sempre são políticos. Nada contra a política nem os políticos. Minha preocupação é o marasmo na nossa educação, que impossibilita a mudança na nossa maneira de pensar. Ainda não conseguimos fazer com que a sociedade acredite que não seremos uma sociedade civilizada, enquanto não nos civilizarmos.  Não conseguiremos isso sem uma educação de qualidade.

Nunca seremos respeitados como cidadãos, enquanto formos obrigados a votar, quando deveríamos votar por dever e não por obrigação. Mas para que tenhamos o voto facultativo, é necessário que sejamos suficientemente educados. Ou nos educamos ou continuaremos nos irritando com os blá-blá-blás ouvidos com comentários e justificativas de políticos acusados por desvios na administração pública. Vamos iniciar uma revolução dentro da nossa administração pública. Mas, uma revolução civilizada. Vamos revolucionar a nossa maneira de pensar. É com nossos pensamentos que vivemos os momentos bons ou maus nas nossas vidas. Todo o poder de que necessitamos para as mudanças na sociedade está dentro de nós, em nossos pensamentos. Eles tanto podem nos levar para o bem quanto para o mal.

Vamos levar mais a sério o problema que estamos vivendo na nossa política. E ele vem se arrastando há décadas. E é nosso dever fazer nossa parte para melhorar o que tende a piorar. Então, vamos nos cuidar. Enquanto ficarmos gritando e esperneando contra os resultados de nossas decisões, não sairemos do lamaçal político em que estamos atolados. De nada adianta ficar discutindo o indiscutível. De nada adianta querer que os outros façam o que nós mesmos deveríamos fazer. E se deveríamos, devemos. E se devemos vamos à frente e fazer a coisa como ela deve ser feita. Senão, não sairemos dessa avalanche de corrupção e bandidagem.

Nada de ir para as ruas fazer baderna. Isso não nos leva a lugar nenhum.  Continuaremos títeres pensando que somos cidadãos. E nunca seremos respeitados se não nos respeitarmos. Então, vamos nos respeitar na educação. Ela nos levará à liberdade cidadã. Pense nisso.

*Articulista

[email protected]

99121-1460