Opinião

Opiniao 26 02 2015 666

Ensino superior: inclusão ou exclusão? – Ronaldo Mota* Somos um país de 200 milhões de habitantes, sendo que, dos 24 milhões de jovens ema idade universitária típica (18 a 24 anos), somente 15% deles frequentam ensino superior (3,5 milhões). É um dos menores índices entre países de porte econômico semelhante e muito aquém dos principais parceiros ou competidores no cenário internacional. Há aproximadamente 13 milhões de profissionais com título superior no Brasil, que somados aos 7,3 milhões de matriculados neste nível de ensino, supondo que todos se formem, beiramos os 10% da população total, o que reflete baixo nível de escolaridade. Por tais evidências negativas, o Plano Nacional de Educação, que é Lei, estabelece que no Brasil tenhamos matriculados 33% dos jovens entre 18 a 24 anos no ensino superior até 2024. Hoje, estamos distantes da metade do caminho. A principal fonte de alunos do ensino superior, em tese, deveria ser o1,8 milhão de formandos dos 8,7 milhões de matriculados no ensino secundário, sendo que desses 1,6 milhões fazem o Exame Nacional de Ensino Médio, o Enem. Por outro lado, aproximadamente,12 milhões de candidatos têm procurado acesso ao ensino superior a cada ano, 8,7 milhões via Enem, evidenciando que a maioria deles não érecém-egressa do ensino médio, mas, sim,concluiu o nível médio há mais tempo e busca, anos depois, o retorno aos estudos. Certamente constitui limitador ao crescimento do número de universitários o baixo número de formandos no ensino médio e as dificuldades conhecidas daqueles formados no ensino médio há mais tempo em retomarem seus estudos. Se os formandos atuais do ensino médio evidenciam graves deficiências, natural supor que, para aqueles formados há mais tempo, o afastamentodas salas de aula e a falta de tempo para os estudos tornam tais dificuldades ainda mais severas. Talvez no item memória eles sejam prejudicados, mas possivelmente sejam compensados por terem, em geral, uma atitude mais madura, a depender de utilização de metodologias e tecnologias inovadoras especialmente adaptadas a estas circunstâncias. Uma das maneiras seria comparar os rendimentos médios dos dois grupos no Enem. Porém, este exame, em que pesem tentativas anteriores de torná-lo um exame mais de raciocínio do que de mero exercício de memória, nas suas versões mais recentes, a ênfase tem sido gradativamente em detalhes conteudistas e em especificidades de informações, restando pouco espaço para raciocínios, lógicas aplicadas e mensuração da capacidade de resolver problemas a partir de informações disponibilizadas. O Governo Federal, ao adotar, em nome da qualidade,nota mínima no Enem para acesso ao financiamento FIES, pode eventualmente atingir, ou excluir, principalmente este público trabalhador que busca no ensino noturno e na rede privada concretizar o sonho não realizado quando concluiu o ensino médio. Quanto à real possibilidade de incluir este público trabalhador e recuperá-lo dentro do contexto do ensino superior, há estudos mostrando que, em se adotando estratégias apropriadas e um conjunto de disciplinas de nivelamento, os resultados finais deste grupo são equivalentes, às vezes superiores, aos grupos com deficiências menores iniciaisque não participam do programa de recuperação. A título de exemplo de experiência internacional, em trabalho recente, os pesquisadores Erick Bettinger e Bridget Long, das Universidades de Stanford e Harvard, respectivamente, tratam de necessidades de estudantes mal preparados, analisando se disciplinas de nivelamento ministradas no início dos cursos surtem efeito em termos de rendimento acadêmico posterior. Os resultados por eles obtidos, ainda que em realidade distinta, evidenciam que os alunos que frequentaram disciplinas (matemática e inglês, basicamente) de recuperação tiveram melhores rendimentos e, proporcionalmente, desistiram menos do que os demais, com bases acadêmicas anteriores similares. No Brasil, dentro da mesma inspiração, e em conjunto com aqueles pesquisadores, pretendemos estudar se há significativa diferença em termos de melhoria de aproveitamento e diminuição de abandono quando, por exemplo, em um curso de engenharia, ao invés de submeter de imediato os calouros às disciplinas de física e cálculo, estas são precedidas de disciplinas de nivelamento. Além de recuperar os conteúdos do ensino médio, o estudante faz intenso uso de novas metodologias e tecnologias inovadoras, preparando-os para o mundo das ferramentas digitais aplicadas à educação e ao convívio, sem medo, com plataformas de aprendizagem, ao tempo que eles são estimulados ao hábito do aprender a aprender, em complemento ao simples aprender. Raciocínio semelhante se aplica às mais diversas carreiras, cada qual com suas peculiaridades e especificidades.   O Brasil precisa desesperadamente de um desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável, sem o que não enfrentaremos nossos desafios, entre eles o de aumento de produtividade, diretamente relacionado ao nível de escolaridade do seu povo. Os estudos, especialmente no nível superior, em complemento a preparar profissionais para carreiras específicas, contribuem, ao ampliar o nível de escolaridade,para a melhoria de qualidade de vida, no nível individual, e por um país mais competitivo e sustentável, no plano coletivo.Haveremos que aprender a conjugar escala e qualidade, ofertando ensino superior de padrão aceitável e para muitos. *Reitor da Universidade Estácio de Sá e professor titular aposentado da Universidade Federal de Santa Maria ————————————- Três amigos – Afonso Rodrigues de Oliveira* “O indivíduo criativo não tem preconceitos intelectuais. Não tem medo do ridículo nem da novidade”. Tive três amizades importantíssimas pra mim, aqui em Boa vista.Na verdade, as amizades continuam; embora os amigos, como pessoas, já não estejam mais em nossoconvívio. Foram três caras extraordinários como amigos, pela simplicidade, sinceridade e honestidade, que fizeram parte da nossa conexão. Foram o Joaquim, o Manuel e o Paulino. Conversávamos muito e aprendi muito com cada um deles. Eram pessoas sem instrução intelectual, mas tinham tudo que eu desejava numa amizade. O Paulino era um caboclo amazonense e morava ali, do outro lado da rua, em frente à minha casa. Aposentado, passava o dia sentado num banco de madeira, ouvindo músicas num radinho à pilha. Um dia lhe perguntei quando ele tinha chegado a Boa Vista.Ele balançou a cabeça e respondeu: – Sei não… Mas naquela época o Colégio Princesa Isabel ainda era coberto com palhas de buriti. Eu trabalhei muito lá. Manuel era um nordestino, cuja família ainda é uma das mais importantes amizades que curto, com minha família. Naquela época, eu tinha uma mangueira enorme no centro do quintal. Quase diariamente, Manuel e eu nos sentávamos debaixo da mangueira, e ele me contava toda sua história desde que chegou a Roraima, em 1942. Naturalmente, foi trabalhar no interior, nas fazendas dos então coronéis. Cara, o que o Manuel me contou da verdade, nada citada, da vida e acontecimentos entre os mandões da época, me enriqueceu muito. Tenho anotações fantásticas, citadas pelo Manuel. Joaquim foi um caso interessantíssimo na nossa convivência. Conhecemo-nos no início da década dos oitentas, lá na Confiança I. Tempos depois, viemos para Boa Vista e, coincidentemente, moramos vizinhos. Em nossa amizade não houve muita conversa. Ele não falava muito e fazia questão que eu falasse. O que é terrível pra mim. Mas nos divertíamos muito. Mas o mais importante é que nossa história é muito diferente da dos dois outros amigos. É umahistória muito curiosa e não dá para eu contar aqui e agora. Já andei falando dela por aqui, mas só em retalhes. O Joaquim, na sua simplicidade, manteve um comportamento simplesmente extraordinário. Juro pra você que logo irei contar a história na íntegra. É muito divertida, mas requer muita dignidade para ser entendida. E o Joaquim entendeu. É muito importante como consideramos nossas amizades. Elas podem estar exatamente onde não parecem estar. Não meça suas amizades pela “importância” que você dá à importância aparente. É na simplicidade que está averacidade. Pense nisso. *Articulista [email protected]     99121-1460 ———————————– ESPAÇO DO LEITOR SUBSÍDIO O leitor Levy Sampaio protestou contra a aprovação de subsídio extra para vereadores. “Acredito que não só em Roraima, mas é necessário uma reflexão sobre a questão da aprovação de verbas para que os vereadores que integrem comissões recebam adicionais em seus subsídios para isso. Chega a ser uma incoerência. Enquanto eles recebem R$8.000,00, o trabalhador tem que contar com um salário mínimo que não chega a R$ 800,00  mensais”, frisou. CENTENÁRIO Moradores que residem no bairro Centenário enviaram reclamações sobre a empresa que está executando obras no bairro. “As obras de tubulações que estão sendo realizadas na rua João Dantas, no Centenário, têm como conseqüência inúmeros problemas relacionados à forte poeira que tem prejudicado crianças e idosos. Já tentamos falar com os responsáveis pela obra para que disponibilize um caminhão pipa a fim de amenizar a situação, mas nada foi feito. Acredito que deveria ocorrer uma fiscalização para obrigar que as empresas atentem para esta questão”, reclamou Lídia Marinho. ENTORPECENTE O internauta Luiz Alves enviou o seguinte comentário: “Quase todos os dias é divulgado na imprensa a apreensão de uma farta quantidade de entorpecentes, geralmente maconha trazida livremente da Guiana. Policiais temos de sobra com o ingresso de policiais militares que podem dar suporte a estas operações. Acredito que a intensificação do serviço de fiscalização no posto localizado no Município de Bonfim inibiria a quantidade de droga e outros materiais de contrabando que são comercializados sem nenhuma fiscalização nas praças e mercados da Capital”.   PARQUE ANAUÁ A leitora Luiza Mendes comentou: “A situação em que se encontra o lago existente no Parque Anauá é apenas um alerta para a situação de degradação a que estão expostas os locais que possuem a interferência da população. Segundo relato de pessoas que habitavam o local, que já serviu até de área de camping na década de 70, ali existia uma paisagem ao redor do lago formada por pés de caimbés e outras árvores nativas que simplesmente foram arrancadas, e não foi feita a devida preservação das espécies que protegiam a margem do lago”.