Opinião

Opiniao 26 02 2018 5703

 

A contraditória filantropia bolivariana – Tom Zé Albuquerque*

O novel Estado de Roraima tem passado por uma situação atípica, especialmente na capital, Boa Vista, considerada cidade-estado. De tranquila, com crescimento populacional gradativo, organizada, sequer sem favelas, a população convive atualmente num furdunço atordoador, fruto da crise venezuelana.

Com o modelo perverso, cruel e impiedoso do chavismo/madurismo, os venezuelanos têm migrado para o Brasil, causando um inchaço populacional e, por conseguinte, inviabilizando o funcionamento da máquina pública, em todas as esferas e áreas, especialmente nos sistemas de saúde e segurança. Estima-se que mais de 80.000 venezuelanos estejam em Roraima, para qual não se tem uma noção real do tamanho dos problemas (atuais e futuros) e suas profundidades na organização social no Estado.

Tem-se criado uma comoção na cidade, prioritariamente através das redes sociais, no intuito de ajudar os venezuelanos. Parto do princípio que todo e qualquer ser humano deve ser amparado, acolhido, independentemente de origem, raça, etnia…; mas isso não implica na resolução de um problema com a criação de outro problema. Quando o Brasil escancara as fronteiras para o ingresso desmedido de pessoas, sem crivo de antecedentes criminais, sem o zelo com doenças a serem transmitidas, sem se importar com a degradação social, sem mensurar o quão pode comportar um aumento sazonal do número de habitantes, passa a, irresponsavelmente, vulnerabilizar seu povo. A Colômbia, embora tardiamente, tomou medidas sérias e judiciosas.

Duas situações têm chamado a atenção nessa turbulência. Uma, a forma forçosa que temos lidado em ter que ajudar os venezuelanos. Há uma pressão explícita pra que tenhamos de destinar recursos para estear os bolivarianos. É algo tão repressivo quanto o que ocorre na Venezuela. Eu, assim como inúmeras pessoas que conheço, contribuímos com essa triste realidade, mas sem coerção, de forma espontânea. Para muitas pessoas, os holofotes são mais importantes, a figuração de bondade é prioritária. E como disse uma colega de trabalho: “…e se eu não ajudar, o que vão pensar de mim?”.

O outro ponto se refere ao fato de os defensores do sistema venezuelano de massacrar seu povo não têm sido… digamos assim, chavistas. Tomei um susto quando soube semana passada que as estruturas físicas do Partido dos Trabalhadores em Roraima não estão sendo usadas como abrigo aos companheiros bolivarianos. Assim como não vejo o PCdoB, o PDT e tantos outros partidos adeptos ao ideário sócio-comunista da Venezuela se embrenharem em dar amparo aos irmãos madurenhos. Falta coerência em seus membros. Falta muita coisa mais.

Mas diante de todo o problema, algo se sobressai como relevante e promissor: nunca mais as pessoas deixarão de ajudar aos outros em Roraima.

Assim, em Roraima, em face do humanitarismo ao povo madurado, a partir de agora, acredito eu que a associação dos portadores de câncer nunca mais passará por dificuldade; a associação em defesa dos portadores de HIV certamente terá a compaixão do povo a partir de agora; a associação Anjos da Luz, que tenta diminuir o sofrimento de mais de 6.000 deficientes físicos e mentais gozará da misericórdia dessa gente tão acolhedora. As crianças abandonadas nos mais diversos abrigos jamais agonizarão pela falta de recursos e atenção devido à indulgência dos piedosos cuidadores dos venezuelanos. E isso é maravilhoso!

É muito cômodo ser contagiado pelo senso comum, a partir das lentes midiáticas preocupadas com seu público majoritário. Pessoas têm medo de se manifestar contrário à maioria, parte desta intimidada pela hipocrisia dominante. O famigerado “politicamente correto” almeja inclusive e principalmente dilacerar o exercício da razão. Execrável tudo isso.

*Administrador

O destino de uma nação – Oscar D’Ambrosio*

Há filmes que valem por um ator ou atriz. Outros, por uma cena marcante. ‘O Destino de uma Nação’, dirigido por Joe Wright, reúne esses dois elementos. O eixo central é a pressão a quem o primeiro-ministro Winston Churchill é submetido para fazer um acordo com Hitler quando todos os esforços de franceses e ingleses parecem estar condenados ao fracasso.

Ocorre, no entanto, um momento em que Gary Oldman, no papel central, decide tomar o metrô e ouvir as pessoas que estão próximas. Trata-se de uma cena fictícia, é claro, mas uma aula de democracia e de saber escutar numa sociedade como a nossa, em que todos querem ouvir. Ao sair de seu gabinete e escutar o que as pessoas esperam de seu país, o líder se reconecta com o mundo.

Existe um ensinamento muito singelo na cena. Talvez não seja cinematograficamente um achado, mas mostra como os políticos, encarcerados em seus gabinetes, vão, pouco a pouco, se distanciando do povo que os elegeu. Dessa maneira, perante a necessidade de tomar uma decisão, seja grande ou pequena, acabam seguindo os mais variados interesses.

O filme alerta com sabedoria para outro ponto essencial: estar sempre disposto a lutar pelo que se acredita. Perante dificuldades ou reveses, muitas vezes o bom senso – e, muito pior, o senso comum – indicam que fazer acordos e baixar a cabeça sejam as melhores alternativas. Churchill, em sua controversa carreira política não fez isso. E passou à História!

*Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais, atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.

Toda rua tem uma deusa – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A deusa da minha rua Tem os olhos onde a luaCostuma se embriagar. Nos seus olhos, eu suponhoQue o sol em doirado sonhoVai claridade buscar.”(Jorge Faraj)

Essa música foi composta lá pelos anos de mil novecentos e trinta e tarará. E como já sabemos, as encrencas entre compositores, naquela época, eram constantes. Mas o autor da letra foi realmente o Jorge Faraj. Mas, o mais importante é que ela foi gravada pelo Silvio Caldas, que nos encantou e continua encantando. O Roberto Carlos a gravou, e nem tão recentemente. O que nos conforta. E isso não significa saudosismo. Apenas indica que o sentimento que brota do amor nos alimenta, vida afora. E lamento que as mudanças de épocas sempre nos sacode, no alvoroço mental. Sentimos falta das músicas consideradas românticas. E me sinto feliz quando as ouço nos meios de comunicação e sinto o bem que elas trazem ao ambiente.

As deusas das nossas ruas serão sempre as deusas. As amazonas, que mesmo sem demonstrar fortaleza física, nos dominam como as da mitologia dominavam. E isso é bom ou ruim? Vai depender de como as vemos. A pena está nas mudanças que nos obrigam a vê-las como objeto e não como deusas. Já pensou nisso? Já observou como os tolos que continuam pensando que são os Hercules se deixam levar pela futilidade da aparência superficial?

Pare de nadar em águas turvas, cara. Observe mais a deusa, do que a indumentária dela. Garanto pra você que quando Deus criou a Eva, se é que você acredita nisso, ele não costurou nenhum vestido pra ela. Certa vez assisti, em São Paulo, a uma entrevista, pela televisão, com um oficial do exército. Estávamos no auge da moda-saco. Lembra-se dela? De repente, ingenuamente, a entrevistadora perguntou para o oficial, o que ele pensava da moda-saco. Sem pestanejar, ele respondeu: “Minha filha, o que interessa não é o saco, mas a batata que vai dentro dele”.

Reflita mais um pouco sobre o pensamento do oficial. Procure ver a deusa da sua rua como uma deusa e não como uma exibicionista do próprio físico. O vestido saco pode até ser de saco, mas o que interessa mesmo é quem o veste. Já falei pra você, por aqui, de uma garotinha que estudava comigo, na Escola de Base na Base Aérea, no final da década dos quarentas. Era uma garota extremamente simples, pobre e encantadora. E encantava pela simplicidade. E sempre foi considerada e admirada como uma deusa, até mesmo por quem nem percebia.

Procure ver e admirar mais as qualidades de uma deusa que, com certeza, está na sua rua e você nem percebe. Você está mais encantado com o short espalhafatoso, na vitrine da loja. Pense nisso.

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