Pecados abomináveis – Marlene de Andrade*“Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver.” (Mateus 25: 35 e 36).Gosto muito de participar, aos domingos, dos cultos solenes da minha Igreja, pois em vez de sair de lá exultando de alegria, saio mais cabisbaixa do que entrei e percebendo profundamente, que sou uma folhinha seca, voando ao sabor do vento, cheia de mazelas e até mesmo de pecados ocultos dentro do meu coração. É bom sermos estimulados a pensar o quanto ainda precisamos crescer para alcançarmos a estatura de varões perfeitos.
Recentemente, um jovem da nossa Igreja tocou em um assunto que me fez ficar envergonhada diante de mim mesma e profundamente arrependida. É que eu nem olhava para os rapazes que ficam tomando conta de carros nos pontos de estacionamentos de nossa cidade. Eu não estava nem aí para esse segmento de pessoas humanas tão, como disse o irmão, excluídas. Em vez de nutrir por eles o amor ágape, ou seja, o amor incondicional, os tratava com indiferença achando que eles iriam até me assaltar a qualquer momento. Isso era um pecado oculto. E o pior é que eu nem me tocava que isso era pecado.
Que desamor! Por que não me colocava no lugar deles, muitas vezes pobres moradores de rua, tantas vezes vilipendiados, escorraçados e humilhados por pessoas que, como eu, nunca pensam em se colocar no lugar deles. Quanto sofrimento passam largados à própria sorte! Que situação lamentável é agora descobrir que não posso fazer nada por eles a não ser, pelo menos, sorrir-lhes.
“… o outrora altivo discípulo, segue caminhando, mancando, num ritmo mais lento…; a sua beleza não é espelho de Narciso, antes é reflexo da imagem do Cordeiro projetada ainda que de forma distorcida pela silhueta da sua carcaça, a qual prossegue avante, rumo ao dia da sua redenção final… Hoje eu vi que o peregrino mais uma vez parou e exclamou baixinho, antes de continuar a sua jornada diária e penosa: Bendita a mensagem de esperança, essa mensagem da Cruz!… E assim prosseguiu puxando a sua perna, para mais um dia na sua jornada peregrina nesta terra cheia de sabores e dissabores, palco de tragédias…” (Pastor Raimundo Montenegro).
E eu, o que me resta a dizer, senão que sou uma pecadora, também peregrina, puxando as minhas pernas espirituais? O que me resta a não ser, aguardar do Senhor a Sua Infinita e Perfeita Misericórdia?*Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMThttps://www.facebook.com/marlene.de.andrade47Tel.: 3224-3445————————————-PASSOS NO ESCURO – Vera Sábio*”Mais cego é aquele que não quer ver”.É muito diferente a posição notada entre aquele que enxerga e não quer ver e aquele que por algum motivo nasceu ou veio a perder a visão física durante o decorrer da vida. A visão é algo extremamente importante para os julgamentos, os posicionamentos e muitas vezes para a mudança que tanto melhora o mundo.
No entanto, esta falta de visão não tem nada parecido com a cegueira condicional causada por má formação óptica ou doenças e acidentes que deixam muitas pessoas cegas.
A visão tratada como fonte essencial de percepção, forma pensadores críticos e pessoas capazes de darem passos no escuro, ou seja, avançar para um futuro não enxergado, mas com grandes possibilidades de ser mais justo e elevado, do que o qual a própria visão pessimista e sem atitudes de empatia e solidariedade, não pode imaginar.
Por isto repito que enxergar vai bem além do que os olhos conseguem. É algo que denota vontade, ações e otimismo.
Com tantos atos desonestos e corruptos, diversos indivíduos perdem todos os dias o poder de ver novas possibilidades, que permita agirmos diferente e darmos passos no escuro, cheios de confiança, fé, perseverança e gestos concretos, os quais mostrem que fazer o bem é a única opção para que o bem aconteça.
Não tem como colhermos o que não plantamos. E o que percebo são poucas pessoas com disposição para plantar. Até murmuram constantemente, divulgando nas redes virtuais o mal existente. Mas na hora de dar um passo, de tomar uma atitude, sentem-se fracas e desanimadas, ignorando o quanto são capazes, se realmente acreditarem.
Há até aqueles que se envolvem, como faz a galinha quando doa o ovo. Porém quase ninguém se compromete, como faz o porco quando se torna presunto.
E dessa maneira, quando muito, giramos em círculos, no entanto a maioria nem sai do lugar.
Quem faz pouco, merece poucas realizações. Mas é fato que chegamos a um ponto que não dá para fazer pouco ou quase nada. É necessário mudar o rumo da história se quisermos nossos filhos e netos em um mundo digno. Não tem como viver contemplando os tempos passados que foram bons e não agir diferente para que no futuro exista educação, saúde, segurança, igualdade, participação e justiça. Palavras tão proclamadas e pouco vivenciadas nos dias de hoje.
Portanto, não espere pelos outros, dê cada um seu passo inicial e determinante para a reconstrução da sua história. Cumprindo os deveres e fazendo com que aconteça os direitos que tanto precisamos e merecemos.*Psicóloga, palestrante, servidora pública, esposa, mãe e cegaCRP: 20/[email protected]. 991687731————————————–Escrever é fácil – Walber Aguiar*Feliz o que transfere o que aprende e o que aprende o que ensinaCora Coralina25 de julho, dia do escritor. Alguém perguntou: como você começou a escrever? Disse que, no começo, falava de coisas que encontrava com os olhos, que invadia a alma em dias de chuva e incerteza. Escrevia sobre a terra, à semelhança do grande carpinteiro da esperança e sonetista Dorval de Magalhães, o grande representante dos escritores roraimenses. Também escrevia sobre canteiros e jardins. Sobre a vida e a morte, como a do grande piadista “Fumaça”, que partiu nos ombros largos da noite.
Depois passei pela fase de artigos de opinião, da criticidade, na tentativa de consertar o mundo com palavras determinadas, incisivas. Fui convidado a parar de escrever em jornais, pois o que escrevia incomodava os viciados em poder, mexia com as estruturas apodrecidas da tirania. Não parei, perdi o emprego, mas continuei fazendo o que mais gostava: escrever.
Ademais, escrever é um exercício leve, é como embalar palavras num berço, sabendo que uma cova as espera um dia, sabendo que elas nascem e morrem constantemente. Mas, que, no espaço que habitam o mundo, tudo fica mais belo, simples, solto. Significativo. Por isso tornei mais terno o bico da pena, o teclado mágico que comporta levitei com as palavras, elaborando crônicas e passando vida para o papel em branco do nada, rascunhando sobre a dor, a mesmice e a ignorância.
A partir de meus canteiros literários, tentei alcançar o amor, na tentativa de ampliar os horizontes de quem, acostumado com a mediocridade dos dias, conforma-se com a mesmice, com a vida pouca, com um cotidiano sem aventura. Nessas andanças pelos livros meus e dos outros, aprendi umas palavras e tornei outras mais belas. Passei a desenhar sonhos dissertados, na esperança de construir uma realidade mais leve, uma vida, digamos, mais suportável.
Aprendi a linguagem filosófica, científica, cartesiana, existencial. Mergulhei nas páginas profundas da espiritualidade, em busca do Eterno e da eternidade, de mim mesmo e daquilo que na vida nos vence. À semelhança de Cora Coralina, afirmo que carrego mais terra nos olhos que cansaço nas minhas pernas; que afasto pedras, planto roseiras e faço doce. Um doce de ternura, esperança e fé na vida. Que na lição dura que as pessoas vão aprendendo com a dor e a amargura, parto para a didática mais divina e menos opressiva, a de que bondade também se aprende…
Vamos escrever a nossa história e elaborar nossos sonhos, ainda há tempo.
Quanto ao grande amigo “Fumaça”, que ele continue a soprar fumaça em nossos olhos e graça em nossos dias apressados, pois de amor todos estamos carecidos…*Advogado, poeta, historiador, professor de filosofia, Conselheiro de Cultura e membro da Academia Roraimense de [email protected]
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Mudando de Vida – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Nenhuma vida é tão difícil que não possa se tornar mais fácil pelo modo como for conduzida”. (Ellen Glasgow)Quando sabemos e conhecemos o poder que temos, nossa vida muda. Um caso em que as mudanças sempre são para melhor. Sempre que sua vida estiver lhe parecendo muito difícil, procure ver o que há de errado com você. Talvez você não esteja sabendo conduzi-la. E não adianta protestar nem tentar ridicularizar a racionalidade. Somos todos da mesma origem. As nossas diferenças aqui neste universo pequeno e ainda em desenvolvimento não são mais do que um processo evolutivo. E nossa evolução é problema nosso. O que indica que somos poderosos. E o que acontece é que não sabemos o que somos e por isso não conseguimos dirigir nossas vidas como elas devem ser dirigidas. Quando você pensa que sua felicidade está no potencial da riqueza que você não tem, você está nadando em piroga furada; está querendo viver a vida dos que são ricos e poderosos, não a sua.
A história não nos ensina, nós é que aprendemos com ela. E é assim que nos tornamos capazes de dirigir nossas vidas, sem a necessidade de orientações que não nos levam a lugar nenhum. Já sabemos que ninguém pode nos fazer feliz ou infeliz se não estivermos a fim. Porque toda a felicidade de que necessitamos para viver a vida com intensidade está dentro de nós. Mas muitas vezes necessitamos que alguém no aponte o caminho; mas cabe a cada um decidir se deve ou não, seguir o caminho indicado. Não fosse assim não seríamos racionais. Embora ainda estejamos caminhando pelas veredas da racionalidade. E os caminhos são longos e adversos. Cabe a cada um de nós saber, e decidir que caminho tomar, sem deixar de considerar que somos todos iguais nas diferenças. E por isso, as indicações podem vir de modos e maneiras diferentes.
Tudo de que você necessita para ser uma pessoa feliz e próspera está dentro de você. Mas você precisa acreditar nisso, mas sem menosprezar nem rejeitar os ensinamentos que vêm em outras trilhas. Nosso futuro nós mesmos o construímos. Nós e mais ninguém. Ou acreditamos nisso ou continuaremos marionetes dos que pensam que estão à altura para nos dirigir. Acredite em você mesmo para poder saber quando deve acreditar nos outros. É aí que olhamos nos olhos sem olhar nos olhos. Só quando acreditamos em nós mesmos somos capazes de ser feliz. Vamos repetir: tudo de que você necessita para ser feliz está dentro de você mesmo. Você não precisa sair por aí procurando a felicidade. Pense nisso.*[email protected]