Homicídios: a triste lição nordestina – Bene Barbosa*
De acordo com o Mapa da Violência 2016, das 150 cidades com maior taxa de homicídios por uso de armas de fogo no Brasil, 107 estão no Nordeste. Uma triste realidade que traz, ou deveria trazer, à tona duas verdades incontestes: o desarmamento fracassou e desenvolvimento econômico não significa menos crimes.
Desde os anos 2000 a região nordestina é destaque nas tais campanhas de desarmamento com adesão notável dos cidadãos honestos que, de boa-fé, entregaram armas e munições ao governo que prometeu em contra partida, além do pagamento de alguns trocados – e que em muitos casos nem isso cumpriu dando o mais puro e simples calote -, trazer mais policiamento, mais proteção, mais segurança ao cidadão. Promessas, promessas…
Na questão da venda legal, o nordeste também se destaca no cenário nacional e de acordo com dados da Polícia Federal essa é a região com o menor número de armas legais vendidas e registradas. Não deixo de fora também o grande número de armas apreendidas pelas forças policias, muitas vezes de sitiantes e pequenos comerciantes que sem outra opção as possuíam de forma ilegal para sua proteção. O desarmamento foi um sucesso ao desarmar o cidadão, mas como vemos pelos números de guerra civil, não passou nem perto de impedir que criminosos continuassem se armando. O desarmamento foi um fracasso e ponto final.
Outro paradigma quebrado é a velha questão apresentada por muitos sociólogos de que o desenvolvimento econômico e a melhor distribuição de renda são fatores primordiais para redução da criminalidade. Oras, se isso fosse verdade, com a expansão de polos econômicos, melhor distribuição de renda e do crescimento do poder aquisitivo nos últimos anos, a região nordestina, mais uma vez destaque também nesse quesito, teria uma obrigatória redução em suas taxas criminais. Não aconteceu. Muito pelo contrário! Derrotada a tese de esquerda que o crime é fruto da desigualdade social, uma tese preconceituosa que acusa os mais pobres de serem os responsáveis pelo cometimento de crimes.
Como bem define o psiquiatra e escritor britânico Theodore Dalrymple, a raiz da criminalidade não está na pobreza material e sim na miséria moral, na certeza da impunidade e no discurso de que o bandido, aquele que puxa o gatilho ou empurra a faca não é responsável única e exclusivamente pelos seus atos.
Que dentro dessa catástrofe nordestina, imbuídos com uma coisa chamada honestidade intelectual, nossos governantes possam aprender com essa triste lição e mudar de uma vez por todas o foco da nossa (in) segurança pública.
*Especialista em Segurança Pública, presidente do Movimento Viva Brasil e coautor do livro “Mentiram Para Mim Sobre o Desarmamento”. ————————————————Arrogância e Solidão – Flavio Melo Ribeiro *Numa pequena comunidade viviam em harmonia duas amigas: a “MaisBella” e a “MaisLinda”. Além de serem as mulheres mais bonitas, eram amigas inseparáveis e cortejadas por todos os homens. Diariamente trocavam confidências e conversavam sobre todas as cantadas que recebiam. Os homens se apaixonavam e se declaravam. Porém, por mais apaixonados que estivessem, seus sentimentos apenas roçavam os corações das duas belas. Por sua vez, elas os olhavam com firmeza e os capturavam na fragilidade de suas paixões. Por anos esse desprezo pelos pretendentes se manteve, no entanto, no final de uma tarde ensolarada, tudo isso mudou.
Por entre os raios de sol que batiam na porta da sorveteria, entrou o “MaisGato”, lançou seu olhar por todas, mas não se deteve em ninguém. Puxou uma cadeira, sentou e esperou. “Maisbella e “MaisLinda” sentiram pela primeira vez desconforto. Como que o homem mais lindo que chegou na sua cidade não as olhou e as desejou? Logo esse desconforto se tornou curiosidade e, por sua vez, passou a interesse.
Nesse dia, não trocaram confidências, nem tão pouco transpareceram emoção. E por uma semana o interesse alimentou seus pensamentos e desejos. Quando se encontraram, não esconderam que estavam a fim do mesmo homem. A harmonia foi abalada pela raiva e inveja. Se viram como rivais até perceberem que “MaisGato” estava apaixonado pela “MaisLegal”. Imediatamente questionaram: “como assim? A ‘MaisLegal’ até que não é feia, mas não é tão bonita como nós.”
Nesse momento abriu espaço para refletirem sobre seus valores e consequências para seus respectivos futuros. Mas ambas optaram pelo caminho mais fácil: manter suas personalidades banhadas na arrogância e desprezaram “MaisGato”, considerando-o como mais um. Dessa forma, escolheram continuar na solidão de mil cantadas sem o amor de um coração.
*Psicólogo CRP12/[email protected] (*)————————————————–Como você se julga? – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Somos todos iguais nas diferenças”. Quando você passa por um gari, pela manhã, na rua, por que não o cumprimenta? Porque ele é um gari, ou porque você é um advogado? Essa diferença social não é nada social. É, no mínimo, uma diferença entre a educação, tanto sua como do gari. Você se sente superior; e ele se sente inferior, muitas vezes sabendo que não é. O que alimenta, fortemente, a discriminação que é um dos maiores inimigos do desenvolvimento humano. Simples pra dedéu. E tal discriminação não está somente entre o gari e o doutor. Está em todos os lugares onde pessoas de níveis sociais diferentes se encontram. Mas não vamos detalhar essa arenga porque vou ser mal-entendido. Então vamos mudar de prosa.
Longe de mim, querer ser um exemplo de bom exemplo. Mas tenho boas experiências na vida, nesse mundo geralmente desconhecido pelos que não se prepararam, nem se preparam, para a evolução racional. Mas aprendi cedo, que quando nos sabemos iguais, nas diferenças, não confundimos liberdade com libertinagem, nem a misturamos com familiaridade. Eu aprendi ainda garoto, e isso faz um muito tempo, que “Não se mede o valor de um homem pela tarefa que ele executa e sim pela maneira de ele executá-la”. E se se considerar que o gari pode estar desempenhando o papel dele, na tarefa que executa, melhor do que você no seu papel de doutor, ele pode estar num nível superior ao seu. E você pode estar se valorizando, ou não, nessa interpretação.
Todos os dias, pela manhã, dou minha caminhada até à FOLHA, para pegar o jornal. Todos os dias, aquele cidadão está varrendo o quintal e a calçada da casa de uma família de classe social elevada. Comecei a cumprimentá-lo sempre que ele estava varrendo a calça. No início, a resposta dele era simplesmente um sussurro. Agora, quando cumprimento-o ele me responde com firmeza: “Bom dia, senhor!”. Sinto-me e saio muito feliz com a resposta dele. Não pelo “Senhor”, mas pela satisfação que sinto na sua resposta ao meu cumprimento. É uma forma de você se sentir você. Não se sentindo superior nem inferior, mas respeitando a igualdade que você fez a outra pessoa sentir dento dela mesma; sabendo-se ser o que realmente é, por ser respeitada como é. É quando nos sentimos como mensageiros da nossa própria evolução racional. E quando a mensagem é verdadeira, a resposta sempre vem como fruto do que plantamos. Nunca se sinta superior nem inferior a ninguém, independentemente das diferenças sociais, intelectuais e culturais. Não há diferença, a não ser onde a criamos. E a criamos de acordo com a nossa evolução racional. Pense nisso.