O Vitimismo e a Síndrome de Estocolmo – Luiz Maito JúniorAndei por aí, descansando pernas, voz, ouvidos e pontas do dedo, queria que o cérebro também parasse, mas esse por demais efervesce, mesmo que a certa distância do mundo. Quando as conexões estão peremptoriamente estabelecidas, os recursos cognitivos se recusam ao ócio. Então seja feita a vontade dessas sinapses pilhadas.
O progresso exige trabalho e a exaustão é uma fraqueza individual. E o mundo vai andando e atropelando o descanso, mesmo que merecido daqueles que se indignam dignamente, sim, porque há uma indignação não digna, uma indignação seletiva, escolhida dentro de um discurso pronto e com laço de presente. E se é presente dizem não se pode recusar, já que está prontinho porque não aceitar de bom grado?
Tudo bem, bons modos sempre foram qualidade de meninos polidos, de família. Construção antiga, diria quatrocentona para usar um termo já envelhecido em um século, se tão velha assim diz respeito apenas àquelas que estiveram à frente de nossa história, e se assim o é, são essas famílias que construíram nosso modelo social, político, educacional e por fim os bons modos nossos em relação a eles.
Espantaria se você que foi “construído” dentro desse sistema, que nunca observou, por preguiça ou por incapacidade; que a reprodução do discurso majoritário se impregna da perpetuação do modelo; tivesse opinião diferente, a meritocracia que se vangloria de premiar os mais capazes, que adora citar exceções como regra não te alcançará, e se sim, apenas confirmará que você é apenas e tão somente uma exceção.
Ao propositalmente aliar-se aos seus carrascos, criam uma Síndrome de Estocolmo social, apaixonados pelo sofrimento imposto aos seus dias, absorvendo maldades, absolvendo os maldosos. Ou ainda aquilo que Gilberto Freyre no seu livro Casa Grande e Senzala diz a respeito do negro em relação ao colonizador português. O masoquismo dos negros e negras diante do bom e superior dono de engenho. O querer o açoite, o estupro, sendo ele que o deseja, não o feitor ou coronel. Assim se naturaliza a submissão.
Deveria dizer que me entorpecem os sentidos, no mais horrível sentido da frase, saber que em nome de um discurso “moderno”, se encalacrem conceitos tão antigos quanto o período paleolítico, esta ausência de criticidade que nos assola e que chega até os corredores acadêmicos realmente não me assusta mais. Quando alguém de um curso de história diz que há um vitimismo num discurso sobre a condição humana é porque realmente algo falhou.*Estudante do 8° semestre de História da UERR ——————————————O fato é resultado da crença – Afonso Rodrigues de Oliveira* “As moléstias da mente prejudicam o poder do corpo”. (Ovídio) Para um início de semana um papo ameno faz bem. Quando vivemos num mundo de revoluções devemos aprender a evoluir. Ou evoluímos ou naufragamos nas revoluções jurássicas; vivendo um passado que deveríamos esquecer, para evoluir. E a Mente Cósmica é o maior poder que temos para nossa evolução. É pelo que sou que não me deixarei levar pelo negativismo que pode me levar ao fracasso. Quando queremos ser o que não somos devemos ser o que queremos ser. E isso nos obriga a evoluir em contato direto e permanente com a Mente Cósmica. É só não confundir isso com religião ou coisa assim, e você chegará aonde quer chegar.
Nossa origem racional nos dá o poder de conseguir tudo que queremos na vida. A dificuldade está em não acreditarmos ou desconhecermos nossa origem. Ainda acreditamos que nos originamos de um bolão de barro. E só quando nos livrarmos dos pensamentos negativos que dizem ser nossa origem, é que procuraremos o rumo da imunização racional. E só com ela alcançaremos nosso verdadeiro mundo racional. Porque foi de lá que viemos e é para lá que iremos. Mas não devemos nos esquecer de que lá, de onde viemos, não há unidade de tempo. Um milhão de anos pode ser um mero piscar de olhos. O que indica que sofrer ou ser feliz por aqui é uma questão, ou de livre arbítrio, ou de desconhecimento de nós mesmos.
As influências terrenas podem ser tanto negativas quanto positivas. Tudo vai depender de como você vê os acontecimentos. Porque é como os vemos que eles nos influenciam. E procurar ver as coisas com racionalidade não é tão difícil assim, desde que você seja consciente de sua racionalidade.
Treine em não dar corda a pensamentos negativos. Assim que eles derem as caras, descarte-os, jogue-os para escanteio. Toda sensação de liberdade dentro de você é um indício da Mente Cósmica Universal. Cabe a você saber desfrutar o poder que tem, para ser feliz e voltar ao seu mundo de origem. Somos todos da mesma origem. Viemos e chegamos aqui por livre arbítrio. Ficamos porque quisemos ficar. Voltaremos quando quisermos voltar. Mas a nossa volta depende única e exclusivamente de cada um de nós. Comece a caminhada deixando para trás tudo que for negativo e estiver bloqueando o positivo. O problema é que não nos tocamos que somos, enquanto seres humanos, mais influenciados pelo negativo do que ao positivo. É uma característica do ser humana. O tempo que ainda ficaremos por aqui, não sabemos; mas, acredite, tudo vai depender do quanto nos sabemos responsáveis pela nossa volta. Pense nisso.*[email protected]—————————————–Descaminhos sociais – Tom Zé Albuquerque* A cada dia fico mais disperso e atordoado em relação à sociedade. Sinceramente não estou conseguindo lidar com boa parte do modo de viver das pessoas quando geralmente destino parte de meu tempo a observar. Mas reconheço que o problema sou Eu, por não me adaptar ao cotidiano vigente.
A minha infância foi munida de banhos de açude, tiragem de frutas na árvore, visitas rotineiras a parentes, almoços em família, balanços na rede, muitos ensinamentos sobre valores (atualmente banalizados), conversas sobre cumplicidade e equidade, além de lições sólidas sobre moral, respeito e solidariedade. Por vezes fui chamado à atenção, ainda criança, por não cumprir horário ou minhas tarefas diárias, no lar ou na escola. Meus brinquedos eram raros, e geralmente a criatividade imperava na transformação de um chinelo velho ou um pedaço de tijolo em um objeto impressionante de entretenimento.
Sobrevivi sem controle remoto na TV (por muitos anos sequer assistia em cores), sem videogame, sem celular ou internet. Os veículos quase não tinham tecnologia, e o companheirismo era demonstrado de forma intocável sempre quando precisávamos empurrar o surrado carro, por qualquer defeito que por pouco dinheiro o sanava. Nas escolas estudávamos Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política Brasileira, que mais tarde ficaram tachados como abomináveis, erroneamente atrelados à ditadura. Tempos aqueles em que se respeitava professor, havia disciplina e ordem.
Não havia naquele tempo expectativa de disputar o tênis “da hora” ou o celular último modelo; grife em roupa era coisa desnecessária. A alimentação era saudável, não havia dependência em produtos supérfluos e composto de elementos químicos de aceleração no consumo. A obesidade ainda não era, porquanto, um problema seríssimo de saúde pública. Nós éramos orientados a nos proteger da abordagem de viciados em drogas, que se resumia à maconha, diferentemente dos poderosos barbitúricos e das inúmeras alternativas de cada vez mais nocivas composições alucinógenas destruidoras de lares. A corrupção era medida em objetos furtados e raramente um patrimônio era apropriado por falcatruas, justamente pela não constância do locupletar. Havia confiança nas pessoas, nas palavras, no olhar.
Mas o que está acontecendo com o ser humano? O contato, o convívio, a coerência… onde estão? O corre-corre do dia-a-dia tem deixado as pessoas insensíveis? A quem devemos mostrar capacidade, conhecimento, poder ou poderio econômico? Por que o homem está sempre preocupado em mostrar ao externo aquilo que não é? Por que se deixa de viver para vivenciar um formato de vida imposto por uma sociedade doente? Qual o motivo de as agendas de Psicólogos e Psicanalistas estarem lotadas? Por qual motivo cada dia mais cresce a venda de pílulas da felicidade? O crescente consumo de drogas ilícitas tem a ver com essa instabilidade humana?
No livro Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, as pessoas permanecem sempre jovens e são “felizes” porque tomam o ‘soma’, uma droga que impede a manifestação da tristeza e do sofrimento. O que é felicidade, afinal? Eis aí o primeiro e inefastável desafio. E a maior parte da sociedade foge desse questionamento primário, e acaba por afugentar tantas outras reflexões. A raça humana está, pelo que se vê, inexoravelmente falida. *Administrador – email: [email protected]———————————————— Tudo no colo do contribuinte – Júlio César Cardoso*É constrangedor o governo basear o seu plano de desenvolvimento na cobrança provisória de um imposto. É melancólico assistir ao governo implorar pelo retorno da CPMF, cujo instrumento já fora reprovado pela sociedade. Parece até que se escafederam as cabeças pensantes da administração petista.
A CPMF foi um cambalacho aplicado no passado pelo governo FHC, que depois o PT assimilou. Por acaso, alguém conhece o montante da contribuição arrecadado e devidamente empregado em sua finalidade? Por exemplo, o SUS sempre foi um caos, mesmo no período da CPMF.
Agora, o governo quer destinar a arrecadação para a Previdência Social. Fala-se em previdência deficitária, mas não existe nenhum laudo auditado mostrando, por exemplo, a entrada e saída das contribuições, e nem os devedores da previdência.
Chega de onerar e espoliar a população. Sempre imposto sem serviços públicos de qualidade. Novamente o governo quer jogar no colo da sociedade a responsabilidade por seus erros.
O governo não corta na carne as despesas extravagantes púbicas. A ilha da fantasia, Brasília, é um ninho de desperdício do dinheiro público. São miríades de cargos comissionados e mordomias. Por exemplo, nos Três Poderes não há enxugamento de despesas, e o governo federal não tem coragem de conversar com os demais poderes para reduzir o gigantismo da máquina pública.
É uma temeridade vincular uma contribuição provisória à saúde previdenciária e de outras despesas. Só que essa receita provisória no porvir passará a ser definitiva. E já existe ministro defendendo que a CPMF seja cobrada nas duas pontas, um absurdo!
Por que tudo no colo do contribuinte? Por que os bancos, que faturam muito, não são convocados também a contribuir com o país neste momento de crise? E parece piada ouvir de alguns políticos, que vivem das mordomias e sinecuras, que a CPMF representa apenas uma pequena contribuição que nem vai ser sentida no bolso. Trata-se, como se observa, de opiniões irresponsáveis, vindas de quem demonstra não ter estatura para representar a sociedade brasileira.
Finalmente, por que o governo não cobra as dívidas dos grandes devedores do país? Por que o governo, por exemplo, facilita as dívidas fiscais de clubes de futebol, que continuam a pagar altos salários a técnicos e jogadores?*Bacharel em Direito e servidor federal aposentadoBalneário Camboriú-SC———————————————–Glamourização do “ter filho” – Pedro Cardoso da Costa*Em 1994, quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente da República pela primeira vez, escrevi um texto com o título de “Planejamento familiar”, que fez parte de um documento maior intitulado “Se eu fosse presidente”.
Abordei a proibição de mulheres e homens realizarem laqueadura e vasectomia pelo Sistema Único de Saúde – SUS. Passaram-se 21 anos e os problemas continuam praticamente os mesmos.
Houve diminuição na quantidade de filhos por casais. Em contrapartida, os jovens passaram a ter filhos ainda mais novos do que antes. Não é considerado que os casamentos hoje têm prazos de validade curtos. As pessoas continuam não se estruturando para casar ou para ter filhos. Mais do que antes, os adolescentes não precisam de autorização dos pais para trazer as namoradas para suas casas. Mais rápido ainda são aqueles que trazem para casa de forma definitiva após o encontro numa balada.
Os filhos vêm fruto da irresponsabilidade da primeira noitada, sem preocupação com as condições materiais para cuidar, nem com o caráter do outro, muito menos com a própria saúde. Os problemas como a violência doméstica e de abusos sexuais contra filhos que já existiam são rotineiros e de conhecimento público.
Não existe razão única para a perpetuação de problemas sociais. Muitas variantes ajudam, o que dificulta identificar a raiz e o remédio eficaz para a cura.
Na “fabricação” desenfreada de filhos a qualquer custo, uma das mais complicadas é a glamourização do “ter filho” nas camadas sociais mais pobres e ter isso como sinônimo de felicidade plena.
Qualquer demonstração de infelicidade de quem não procriou é associada a essa falta, a esse vazio. O inverso é proporcionalmente verdadeiro: só é feliz plenamente quem tem filho.
É comum se ouvir que “agora estou plenamente realizada”, quando se constata uma gravidez, mesmo precoce, mesmo do décimo filho e dentro de uma situação de absoluta pobreza. Mesmo desempregados, sem um plano de saúde e até sem uma casa para morar não pesam na busca da felicidade épica.
Se uma pessoa opta por viajar, frequentar restaurantes, parques de diversão, em vez de fazer mamadeira ou limpar cocô de criança, é vista como dissimulada. Afinal, como alguém pode fazer uma opção tão absurda dessas!
Não há nada de errado no fato de cada um fazer da sua vida o que bem entender. Erro está nas consequências posteriores. E a responsabilidade nunca é atribuída a quem deu causa. É sempre dos governos e da sociedade.
Um bom começo para barrar essa “fabricação” de filhos seria quebrar a glamourização inconsequente, mencionar a trabalheira e dor de cabeça que filhos trazem e jamais difundir a ideia de que só é feliz quem tem filho.*Bacharel em direito