Opinião

Opiniao 27 05 2019 8269

Populismo não é ameaça – Gaudêncio Torquato

O populismo se inspira em antagonismos: as demandas das massas contra interesses de elites corrompidas; a nova política, ancorada em programas contra a velha política, caracterizada pelo toma lá dá cá; a reforma das instituições de Estado versus o status-quo.

O cenário social brasileiro é propício a implantar o populismo? Se considerarmos que a corrente tende a caminhar por terrenos atolados em profunda crise econômica, tenha sido ela deflagrada pela esquerda ou pela direita, a resposta é sim. Atravessando um frágil ciclo econômico, com a população descrente nos agentes políticos, desanimada em ver roubalheira e corrupção por todos os lados, o país agasalharia as condições para implantação de uma política populista.

A isso, pode-se acrescer o fato de que o cobertor demagógico é feito de densa espuma emotiva, que se mostra na polarização entre alas, na expressão indignada de grupos contrários, que escolhem a arena das redes sociais para vituperar uns contra outros, expandindo a bílis que escorre pelas veias das correntes guerreiras.

Do desenho acima, seria possível inferir que, se não fizer as reformas necessárias à retomada do crescimento, o governo poderia tentar uma saída pela via populista. Afinal, a demanda por populismo é maior entre as camadas sofridas. Felizmente, tal alternativa é inviável no Brasil por um conjunto de razões.

Em primeiro lugar, é oportuno lembrar que uma solução como essa jamais seria abraçada pelo núcleo que atua na frente econômica encabeçada por Paulo Guedes. Os gestores que com ele trabalham vestem a camisa liberal e jamais iriam topar deixar a coerência de ideário por uma aventura populista. Não topariam bancar a demagogia. 

Segundo, nossa “revolução castrense” (militar), essa imaginada pelos generais que estão no governo, tem por meta o desenvolvimento da Nação, com o qual se identificam e que integra o manual governamental que decidiram adotar na administração Bolsonaro. Repelem a volta ao autoritarismo.

Terceiro, há um forte núcleo racional que habita o centro da pirâmide, composto por amplos nichos de classes médias – profissionais liberais, empresários, áreas da intelligentzia –, movidos pela preocupação de ver o país trilhando a rota do meio, onde o Estado do Bem-Estar Social encontra as políticas liberais, âncora da livre iniciativa. Portanto, esse contingente não combina com uma virada populista.

O nosso presidente até pode defender, em seu íntimo, programas ou ideias de grande aceitação popular, como atualização da tabela do Imposto de Renda pela inflação, como prometeu nesses últimos dias, algo que não combina com a ameaça de Paulo Guedes, ansioso para acabar com dedução de gastos com saúde e educação no IR. Pior: se a reforma da Previdência não foi aprovada, faltarão recursos para o Bolsa Família. Foi o que alertou Guedes. Imaginaram a grita geral?

Em suma, o que Bolsonaro pode fazer, e está fazendo, mesmo sob sérias críticas de parcela da sociedade, é o atendimento às promessas de campanha, particularmente a pauta das armas (flexibilização do porte e da posse de armas), a descontaminação ideológica (Escola sem partido), sob a régua da extrema-direita, essa que vitamina a polarização social. Agora, no que diz respeito a dinheiro, isso é competência da equipe econômica. O presidente até dá palpites, mas acaba recuando quando percebe que não pode furar o balão da economia.

O desencanto geral com a política e com os políticos dará um gás extra ao presidente, garantindo-lhe uma trajetória cheia de obstáculos, mas, ainda assim, permitindo que chegue ao outro lado do rio das mortes. A não ser que seja ele o propulsor de uma débâcle estrondosa nos quadrantes de nossa economia. Se isso ocorrer, babau. Ademais, o ciclo petista, e o que se passa ao nosso redor em matéria de esquerda, como é o vulcânico desastre venezuelano, funcionam como antídoto contra a volta do lulopetismo. Lembrando: mantida a decisão do STJ, Luiz Inácio só teria condições de voltar como candidato a partir de 2035, quando terá 89 anos.

Por isso, é viável inferir que a travessia de Bolsonaro, mesmo semeada de minas, pode ir até o fim. Mas seu estilo de atirador acabará viabilizando perfis mais moderados. 

*Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação

PAPO DE POLÍTICA – Selma Mulinari

O anúncio do contingenciamento dos recursos destinados às instituições federais de ensino superior gerou muita confusão e muita polêmica. Observando as manifestações e as entrevistas dos jovens participantes, muitos deles bem jovens mesmo e completamente desinformados, nem sabiam o que faziam, nem porque estavam participando dos eventos. Assim sendo, cabe perguntar: como educar politicamente essa juventude de forma a não permitir que sirvam de massa de manobra e de meros fantoches no campo da política ideológica e da ideologia política.

Falar de política é sempre muito difícil, cada vez que sentamos para tratar dessa temática, temos que ter muito cuidado! Quando me refiro à política, trato de conversas que abordam as regras estabelecidas para lidar com o que é público, me refiro às questões de gestão pública, me refiro à política enquanto uma ciência que volta seus interesses para o funcionamento e estrutura da sociedade, me refiro também às questões vividas no dia a dia e que envolvem a vivência em sociedade e os direitos e deveres dos cidadãos.

Nesse papo corriqueiro sobre política, no primeiro impulso queremos simplesmente versar a respeito da política partidária, corriqueira, cheia de mentiras, fofocas e má intenção. No segundo momento também temos uma tendência a desabafar e falar mal daqueles políticos que entendemos não estar fazendo o que deveriam fazer, ou que se propuseram a fazer quando pleitearam um mandato para representar o povo. No entanto, tratar de política na essência da palavra requer um exercício bem mais elaborado, fundamentado e principalmente ético.

Parando para refletir um pouco, analisando a conjuntura e os problemas que envolvem a política partidária e as eleições, então percebemos que o foco está errado e que o problema está em outro lugar. Está na forma equivocada como o político que foi eleito pelo povo para representá-lo enxerga o seu mandato, está na falta de educação do povo, no desconhecimento que o povo tem acerca da política, está na manipulação exercida pelos políticos em cima do povo e está também na miséria vivida pelo povo.

Para o político que se candidata a uma vaga para vereança ou em uma das instâncias das assembleias legislativa ou mesmo ao senado, o entendimento que se tem quando está no pleito da vaga é o de que o sujeito quer representar determinado segmento, então vale tudo, comunidade, bairro, grupos étnicos, grupos profissionais, grupo folclórico e agremiações esportivas e assim por diante. Então o discurso é bonito, todos os que se sentem incluídos nesse movimento são procurados, valorados e assediados, para que o político consiga chegar ao final do pleito com sucesso.

O sucesso é justamente se eleger, conseguir sentar na cadeira, ser diplomado, então o povo descobre que o mandato não é do povo que votou e elegeu e sim de quem
senta na cadeira. Os vereadores, deputados e senadores trabalham mesmo é para eles, para seus protegidos, para gerar ganhos pessoais. Numa escala bem menor os compromissos se estendem aos seus partidos e grupos políticos. Não existe nenhuma preocupação com o eleitor, com o povo que lhes deu uma oportunidade para trabalhar e melhorar a vida da sociedade. Ninguém está interessado no que realmente o povo pensa ou necessita, a menos que traga voto.

Voltando aos jovens, é impressionante como a política está longe das discussões e debates que acontecem nas escolas de ensino médio, portanto, longe dos jovens que estão aptos a votar já com 16 anos. O máximo que conseguimos é que, em tempos de campanha, os políticos se voltem para os jovens e façam mil e uma promessas. O discurso se volta para as dificuldades vividas pelos jovens, para promessas de primeiro emprego e promessas de bolsa universitárias. 

É tão degradante essa relação de troca, que vemos entre outras estratégias para se conseguir voto do jovem, o pagamento de ingressos para o cinema e para shows. Nesse sentido, como podemos educar politicamente esses jovens se eles se colocam em pontos tão vulneráveis diante das facilidades oferecidas. Como educar jovens que precisam urgentemente de emprego e de oportunidades para crescer. Alguns desses jovens vão chegar à universidade, e no Brasil os jovens chegam à universidade crus, sem formação no que se refere aos processos históricos e sociais.

Então nos damos conta que uma das maiores estratégias para se conseguir voto é a manipulação do eleitor. Essa manipulação acontece justamente em função da falta de educação do nosso povo, da falta de informação. Parece até incoerente se falar em falta de informação nos dias de hoje, mas não é. A informação que recebemos prontamente através das mídias disponíveis é a que contribui para a manipulação e fragilização do cidadão, é a que já vem eivada de ideologia.

Assim sendo, chego ao final concluindo que o despreparo do eleitor, a falta de informação, a falta de educação, juntamente com a miséria vivida pelo povo facilitam o caminho da manipulação. Abrem caminho para falta de respeito e falta de ética. Corroboram para que os políticos sem escrúpulos ajam livremente e impunemente. Então, para o Brasil, resta a plena conscientização de que precisamos nos educar. 

*Mestra em História Social Conselheira do CEERR [email protected]

Eterna transformação – Afonso Rodrigues de Oliveira

“Tudo está em transformação e, portanto, nada jamais morre. Assim como na vida, também além da morte você continua se transformando.” (Deepak Chopra)

Não deixe sua mente cair no lamaçal do negativismo. A vida, como você já sabe, é um eterno ir e vir. Nós vamos e voltamos num processo de evolução. E comece não levando isso para o campo da filosofia de botequim ou coisa assim. Somos todos de uma só origem. Não fomos feitos de barro nem de qualquer outro material. E é por isso que somos todos iguais, desde que respeitemos as diferenças que não são mais do que um grau de evolução de cada um. Encare isso como um processo de vida que deve ser levado em consideração. 

 Levantei-me e, como costumo, fui até a varanda. E lá estava o cobertor de nuvens brancas cobrindo toda a montanha, no Município de Iguape. Não pude evitar o popular, e chamei a dona Salete pra ela ver o espetáculo. Dali a pouco as nuvens foram se afastando e as montanhas surgindo como se estivessem acordando. Agucei a atenção e ouvi o barulho das ondas do mar. E foi aí que caí na reflexão sobre as transformações. Ainda não sabemos quantos dilúvios já vivemos sobre a Terra. Tudo que sabemos do último dilúvio não é mais do que fantasias. Histórias que nos mantiveram engessados por milênios e milênios. 

Olhei para o movimento pequeno na entrada do posto de Pronto Socorro. Quantos doentes estão entrando por aquela porta. E por que adoecemos? Não sei. Mas sei que temos o poder de evitar as doenças sem a necessidade dos postos de saúde. E por que não as evitamos? Porque estamos num processo evolutivo e cada um de nós está no seu grau de evolução. Simples pra dedéu. Mas vamos parar com o blá-blá-blá, e vamos viver nosso dia, como ele deve ser vivido. Pense na sua responsabilidade sobre você mesmo, ou mesma. Viva feliz o dia de hoje, o de amanhã e por aí afora. Você está num processo evolutivo para seu retorno ao seu mundo de origem: o Mundo Racional.

Não perca um minuto sequer com coisas ou pensamentos negativos. Nada pode, se você se valorizar, tornar o seu dia negativo. Só você tem esse poder. Chute a bola e faça o gol. Jogue pra escanteio tudo que não lhe faça feliz. Não importa o que seja. O que importa é sua felicidade. E ela está em você, nos seus pensamentos. Todo o poder de que você necessita para ser feliz está em você. É só você se valorizar. Ser feliz é estar de bem com a vida. Sem isso você nunca alcançará o horizonte, para onde você deve estar sempre caminhando. É lá que você vai encontrar seu pote de ouro. E todo o ouro está na sua felicidade. E ela depende dos seus pensamentos. Pense nisso. 

*Articulista [email protected] 99121-1460