Opiniao 27 07 2018 6652

Mar calmo nunca fez bom marinheiro: o que eu aprendi sobre superar a crise – Samuel Leite*

Passei parte da minha infância na tranquila Laguna, uma cidade litorânea a cerca de 120 quilômetros de Florianópolis. A hoje aprazível Laguna já foi palco de importantes batalhas e teve em sua habitante mais famosa, Anita Garibaldi, um símbolo pela luta e independência de seu povo.

Uma das lembranças mais vivas que tenho da cidade é de uma frase na parede central de um velho estaleiro, em que se lia gravado “Mar calmo nunca fez bom marinheiro”.

Nestes últimos meses de incerteza no mercado, e sobretudo de algumas tempestades e mar revolto, as memórias da infância e a metáfora do aprendizado no mar voltaram mais vivas do que nunca.

Tanto no mar quanto na vida de um empreendedor o planejamento da jornada é fundamental. Entretanto estar preparado para as adversidades e mudanças de rota é o que torna você diferente. Agir com velocidade, tomar as decisões corretas na pressão, o cuidado na escolha da tripulação e a delegação correta das atividades são fundamentais em momentos de dólar descontrolado, inflação em alta e muita incerteza e pessimismo.

Entendo que, muitas vezes, em razão dos inevitáveis desvios, não chegaremos exatamente onde havíamos planejado. Porém, ao perceber as variáveis, podemos diminuir a incerteza e nos aproximarmos do alvo desenhado.

As mudanças significativas da política econômica brasileira, que abandonou a visão mais ortodoxa para um caminho de maior intervenção do Estado, linha muitas vezes pautada no assistencialismo e no estímulo excessivo ao consumo, somados à instabilidade internacional, são a representação da tempestade que nos assombra nos últimos meses e segue sem previsão de calmaria.

Ao contrário do navio estatal, inoperante, lento e carcomido, o empreendedor brasileiro segue remando uma vez e navegando outras, mas sempre enfrentando as adversidades do tempo, sempre superando a crise do dia.

Por falar em crise, na vasta coleção de usos que o Aurélio traz do verbete, ele define crise em economia da seguinte maneira: ponto de transição entre uma época de prosperidade e outra de depressão; em sentido mais geral, crise é o que sabemos: fase difícil, grave, na evolução das coisas, dos sentimentos, dos fatos; colapso.

Chamo atenção para a primeira definição: ponto de transição.

Voltando para a frase na parede do velho estaleiro, não há melhor maneira de formar bons navegantes que enfrentar o mar revolto. É em tempos como este que muitas empresas e empreendedores se reinventam. Em meio às maiores tempestades é que conseguimos realizar coisas extraordinárias. Foi sempre assim.

A mudança começa no exato momento em que decidimos agir sobre as adversidades, encontrando de maneira criativa novas rotas para o nosso negócio. Portanto, tome o leme da sua vida. Saiba que os ventos estão em constante mudança… sempre.

*Proprietário da agência Digitale e diretor da Associação dos Profissionais de Propaganda – APP Campinas

A intolerância na sociedade brasileira – Sebastião Pereira do Nascimento*

Diante de tudo que assistimos sobre as diversas situações de intolerância no mundo e, particularmente no Brasil, as pessoas mais perceptíveis compreendem cada vez mais que os atos de intolerância são oriundos da arrogância humana, da falta de respeito, da falta de condescendência e da falta de informação e conhecimento. Sendo tudo isso gerado por absoluta falta de ética e moral, onde, contextualmente, a ética se estabelece como um caráter eminentemente singular sustentado por cada pessoa; enquanto a moral se estabelece como um conjunto de entendimentos impostos por diferentes grupos sociais, visando proporcionar a saudável convivência entre os seus congêneres. 

No caso da intolerância, seja de que maneira for apresentada (raça, religião, política, cor, opção sexual, aversão aos estrangeiros, etc.), antes de ser um desvalor humano abominável, tanto fere a essência daquele que é ofendido como vai contra a preconização da declaração universal dos direitos humanos. Por isso, todo tipo de intolerância deve ser deverasmente combatido para que possamos ter a garantia de uma sociedade igualitária e libertária.

A intolerância é um fator que sintetiza a ideologia de quem foi doutrinado pela endoculturação, que nada mais é do que um processo permanente de aprendizagem dentro de uma cultura que se inicia com assimilação de coisas, imitações ou pelo condicionamento do meio social, a começar do nascimento de um indivíduo e até a fase final da vida. Contextualizando, é importante enfatizar que a endoculturação se remete a um processo dicotômico, visto que a aprendizagem a partir dela pode ser atribuída tanto para o bem como para o mal, ou melhor, pode levar ao vício da intolerância ou pode evitar a prática dela.

E diante das muitas intolerâncias que assistimos no mundo, vimos nos braços do fundamentalismo, do fascismo e do nazismo as atitudes mais hostis e cruéis no que se define como intolerância. Esses movimentos ganharam corpo e alma espalhando o ódio (religioso, político e racial), tendo o nazismo elevado isso ao nível mais alto de todos os tempos. A humanidade assistiu ao que a capacidade da mente humana, somada ao insano desejo de poder, é capaz de fazer. Aqui no Brasil também há muitos exemplos de intolerâncias, onde a antipatia à liberdade e às diferenças humanas sucederam (ou sucedem) várias atitudes de violência e práticas indecorosas repelidas com veemência em qualquer país decente.

Em cima dessa questão, Leonardo Boff explica que o Brasil trouxe à luz a intolerância latente no povo brasileiro. O qual é parte daquilo que o antropólogo Sergio Buarque de Holanda chama de povo “cordial”, onde o preconceito e a descriminação vêm do coração disfarçados de “hospitalidade” e “afeto”. No entanto, Leonardo Boff prefere dizer que o povo brasileiro é “cordial” e “passional”, visto que se mostra motivado excessivamente pela paixão do preconceito e da discriminação, o que qualifica como um sujeito “cordial-passional”. 

Também pode-se dizer que essas aversões se derivam do arquétipo da “casa grande” introjetado em todas as estratificações sociais, sendo que os grupos humanos estigmatizados como “minoria social” (pobres, negros, índios, homoafetivos, refugiados, etc.) são os mais hostilizados e discriminados até nos debates oficiais entre muitos políticos (ou candidatos) que se revelam pessoas intolerantes de modo intoleráveis.

Na atualidade o que mais vimos são pessoas que tentam tornar absoluto a sua verdade, ao mesmo instante em que se condenam à própria intolerância de não reconhecer e respeitar a verdade do outro. Os movimentos pró-Bolsonaro, por exemplo, têm por base esta intolerância, que é o mesmo entendimento ideológico radicalizado pelo presidente estadunidense: o esdrúxulo e decrépito Donald Trump. A ideia geral não é apenas tentar idiotizar as pessoas, mas convencê-las de que suas provocações estão sendo apregoadas em conformidades ética e moral.

Com base nisso é importante ainda evitar a “tolerância passiva”, aquela que aceita a diferença do outro não porque vê algum valor nisso, mas porque n
ão o consegue evitar. Há que se acatar a “tolerância ativa” que consiste na aceitação da diferença do outro porque consegue ver nela algo positivo para si e para o outro. A tolerância é antes de tudo uma exigência ética. Ela representa o direito de cada pessoa viver como se achar melhor, sem, contudo, prejudicar o outro. Haja vista que toda pessoa goza do direito de estar aqui com sua diferença, Porém, nenhuma pessoa goza do direito de odiar quem menos lhe afeta ou quem mais lhe oferece oportunidade de ver um mundo diverso.

*Filósofo E-mail: [email protected]

Vamos revolucionar – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A verdadeira revolução não é a revolução nas ruas, mas a maneira revolucionária de pensar.” (Charles Maurras)

De nada adianta você ir para as ruas gritar e espernear contra os erros que você mesmo cometeu. Estão comentando, e muito, a possibilidade de haver muitos votos nulos, nas próximas eleições. Outra tolice que pode nos prejudicar, e muito. Mas como evitá-la? Estou certo de que isso não vai ser possível em outubro; pelo menos o deste ano. Alguém também já nos disse que “Todo povo tem o governo que merece”. E eu assino embaixo. Os corruptos, que estão nos roubando, e outras coisas, estão aí porque nós os colocamos. Então, a responsabilidade é toda nossa. E se é assim, somos nós, eleitores, que devemos nos corrigir. Educar-nos para que possamos construir a política que ainda não temos.

Não adianta você anular seu voto ou deixar de votar. Embora eu não veja outra saída no momento. Não vejo possibilidade de corrigirmos a falha, num prazo tão curto. Ainda temos que nos educarmos e nos prepararmos para sermos cidadãos de fato e de direito. Mas a responsabilidade é nossa. Então vamos fazer nossa parte. E não conseguiremos enquanto continuarmos na condição de marionetes, títeres de espertalhões que ainda veem a política como a maior fonte de enriquecimento. E não seremos livres enquanto não entendermos que não há democracia com a obrigatoriedade do voto. O cidadão deve votar por dever e não por obrigação. Simples pra dedéu.

Nunca seremos um povo educado, civilizado e livre, enquanto formos obrigados a votar em corruptos politicamente despreparados. Com certeza não vamos mudar o rumo da prosa com as próximas eleições. Mas vamos tentar fazer o melhor, com cautela e responsabilidade, na escolha dos nossos candidatos. Embora saibamos das dificuldades que vamos encarar já que pelo que vemos, ainda estamos trocando seis por meia dúzia. Mas vamos tentar melhorar com responsabilidade e não com arrufos. Veja o que você pode fazer para convencer os administradores públicos de que a política faz parte da educação do povo. Que um povo sem educação não conseguirá alcançar a cidadania; e continuará no lamaçal da submissão.

A cultura da submissão é um dos nossos maiores problemas educacionais. E isso vem de longa data. Amanhã falarei de uma garotinha que conheci ontem, e que me alertou para esse papo. Ela tem apenas dois aninhos de idade, e me deixou encantado com o seu comportamento. No que devemos prestar atenção para podermos fazer o melhor para melhorar o mundo, através da política séria e respeitável. Nós podemos fazer isso. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460