Opinião

Opiniao 27 10 2016 3168

Os 300 de Esparta e modelos de gestão – Ronaldo Mota*Lendas e mitos nos ajudam a entender o presente e lançam luz sobre o futuro. Por vezes, símbolos simples são capazes de descrever coisas ou materializar ideias mais e melhor do que longos discursos. As cidades-estados da Grécia Antiga, entre elas Esparta e Atenas, viviam permanentemente aterrorizadas por uma possível invasão dos persas. Em 480 a.C., ocorreu a guerra entre a aliança liderada pelo rei de Esparta, Leônidas I, e os persas. Na Batalha de Termópilas, os persas haviam deslocado um enorme exército, centenas de milhares de homens, para, finalmente, conquistar toda a Grécia. Com um número desproporcionalmente menor de soldados, cabia aos gregos, mais uma vez, resistirem aos invasores. Rei Leônidas, num certo momento, liberou seu exército e enfrentou os persas com apenas 300 espartanos, além de alguns téspios e tebanos. Ainda que derrotados nessa batalha específica, ao final, os gregos saíram vitoriosos, sendo que a lenda dos 300 guerreiros de Esparta teria sido a principal inspiração de patriotismo, de coragem e, principalmente, de eficiência. Além da capacidade de se defender ou de atingir os inimigos, o que marcou aqueles guerreiros foi, especialmente, ajudarem-se uns aos outros. A solidariedade invulgar dos guerreiros de Esparta fez com que eles resistissem e, mesmo derrotados, se transformassem em lenda, dado que o atraso no avanço das tropas persas permitiu que os gregos se organizassem para os momentos seguintes. Assim, a passagem do herói individual a cidadão foi reforçada pela mudança da tática militar nas batalhas. O herói que demonstrava sua superioridade individual foi substituído pela tática da falange de vários homens, os quais não mais deviam se preocupar com o valor individual, mas substituí-lo pela submissão ao espírito de comunidade. Várias iniciativas interessantes têm adotado como fonte de inspiração esses guerreiros. Recentemente, um professor de matemática da UnB, Ricardo Fragelli (ver: https://www.youtube.com/watch?v=gay6TYwVwf4), liderou o Projeto 300, o qual consiste em uma metodologia inovadora de ensino, que busca a partir da aprendizagem ativa e colaborativa melhorar o desempenho dos estudantes em matemática. Inspirados pelos 300 de Esparta, os estudantes que se saem bem na primeira avaliação do semestre ajudam os demais que tiveram notas mais baixas, preparando-os para segunda avaliação. E ganham pontos por isso, valorizando a solidariedade coletiva tanto quanto as boas notas individuais.Os campos de aplicação dos mitos e lendas são ilimitados. Eles se aplicam também em modelos de gestão, os quais dizem respeito ao conjunto de normas e princípios que orientam os gestores na escolha das melhores alternativas para levar a empresa a cumprir sua missão com máxima eficiência e eficácia. O cumprimento dessa tarefa dependerá fortemente da cultura organizacional, ou seja, do conjunto de valores, crenças e princípios compartilhados pelas pessoas que fazem a organização. Fazer gestão, portanto, é fazer escolhas, incluindo selecionar como os indivíduos são motivados para perseguir seus objetivos. O mais influente modelo contemporâneo de gestão é baseado em cumprimento de metas. Estas devem estar acopladas a um conjunto de objetivos inter-relacionados. Para serem consideradas boas metas, em princípio, elas devem ser mensuráveis e acordadas entre os diretores, os gestores responsáveis e os demais colaboradores subordinados. No campo educacional, é extremamente complexo mensurar o seu objetivo principal associado ao processo de emancipação do educando, para o que não há métrica definida. Para complicar ainda mais, as trajetórias de aprendizagem são únicas, sendo que cada um aprende de maneira cada vez mais personalizada.Um equívoco bastante comum para quem não prestar a devida atenção no exemplo dos 300 guerreiros de Esparta é gerar metas individuais isoladas e não correlacionadas coletivamente, tal que deixe de ser especialmente premiada a solidariedade entre todos. Metas que não privilegiam objetivos coletivos e elementos de solidariedade ativa findam por estimular o egoísmo e correm o risco de gerar eventuais resultados parciais satisfatórios ao lado de missões finais gerais fracassadas. Como se vê, mitos convivem conosco no dia-a-dia e podemos e devemos utilizá-los para aprender ao longo de toda a vida. *Reitor da Universidade Estácio de Sá———————————————Continuidade da vida – Vera Sábio*22 Jesus respondeu: – Venha comigo e deixe que os mortos sepultem os seus mortos. (Mateus 8)Para muitos pode parecer estranho e até egoísta esta ordem de Jesus; todavia, como tudo na Bíblia é uma questão de interpretação, quero colocar meu ponto de vista e tirem vossas conclusões.Precisamos valorizar, preservar, cuidar, amar e nos dedicar à vida em todas as suas formas, principalmente a vida humana. No entanto, no momento em que morrermos, o corpo que abriga nossa essência, ou seja, a matéria que tocamos, vemos e sentimos fazendo parte de nós, mas não sendo inteiramente nós, esta matéria apodrece, é inutilizada e não serve para mais nada. Acredito que temos um espírito imortal como uma promessa deixada por Jesus que ressuscitou e nos deixou este legado: “Sejamos bons como o pai é bom, para que tenhamos a vida eterna”.Afinal, sem a certeza de que a alma ou o espírito sobreviva à morte do corpo, não teríamos o propósito de evoluirmos e o desejo de sermos cada vez melhores. Aí, sim, a maldade prevaleceria.Só coloquei meu pensamento para que reflitam. Pois, se para nós, que somos “espíritos” que habitamos este corpo, logo após este corpo morrer, não precisaremos mais dele, o qual não servirá mais para nada, não seria interessante salvarmos vidas ao doar nossos órgãos a quem pode viver mais e melhor com eles?Há filas e mais filas de pessoas que esperam por um coração, um rim, uma medula, uma córnea etc. São pessoas que morrem ou vivem com tratamentos agressivos e muito dolorosos para sobreviverem enquanto um órgão não for compatível ao seu.No entanto, em proporções bem maiores, há pessoas morrendo repentinamente por acidentes, as quais poderiam salvar outras vidas, se em vida tivessem doado seus órgãos, se houver familiares que deem esta autorização e ainda se houver recursos científicos para a preservação deste órgão até seu implante.Este trabalho de valorização da vida, de conscientização da importância de ser um doador e de menor burocracia nestes casos, possibilitaria muitas pessoas doentes e sem esperanças em voltarem a acreditar no futuro. E mais ainda, diminuiria drasticamente o tráfico de órgãos.Tenhamos mais empatia pela vida e levamos dos nossos entes queridos que foram afastados de nós pela morte. Os exemplos bons que deixaram sua bondade, seus carismas e sua luta, porém fazendo que o que de bom em seu corpo puder permitir que outros que estão aguardando um órgão para continuar mais um tempo com os seus, possam facilmente ter esta chance. Gesto de imenso amor.*Psicóloga, palestrante, servidora pública, esposa, mãe e [email protected](95) 991687731——————————————–Quem ensina? – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Na situação do ensino primário está o termômetro mais seguro da civilização de um lugar”. (Rui Barbosa)Já tivemos muitas leis mudando o nosso ensino primário, que atualmente não é mais primário, mas fundamental, ou coisa parecida. Tudo mudou, mas nada melhorou. Ao contrário, caímos de qualidade numa queda desastrosa. É como se a má qualidade no ensino primário não tivesse tanta importância na formação do cidadão. Pelo menos é isso que consigo ver no desmando no ensino. E o mais lamentável é que os erros de hoje só serão corrigidos daqui a sabe-se lá quantas décadas. E isso se começarmos a usar a plaina, agora. O que me parece não ser possível, diante das discussões primárias que ouvimos dos que não tiveram uma boa educação primária.    Eu ainda estudava no primário, quando li, e decorei, na barra da capa do meu caderno, na escola: “A educação é como a plaina: aperfeiçoa a obra, mas não melhora a madeira”. E como nossa Educação atual não consegue aperfeiçoar a obra, como quer lidar com a madeira apodrecida? Porque, infelizmente, é isso que está acontecendo. A sociedade está caminhando para um descontrole incomensurável. Coisa que não teremos condições de corrigir, se não tomarmos providências já. E cá entre nós, não vejo condições de nos safarmos do dilúvio devastador na nossa Educação.     E não vá pensar que estou dando uma de alarmista. Os erros na nossa Educação vêm desde os tempos da nossa colonização. O Rui Barbosa não se referiu à Educação dos nossos dias atuais. Ele sabia que nossas Educação e Cultura nasceram nas faculdades e não nas escolas primárias. E Foi aí que começamos a alimentar um erro que nos prejudicaria através dos séculos. Mas vamos acordar. Somos aprendizes de cidadãos, sem professores de cidadania; alunos de escolas sem classificação.     Só quando aprendermos que enquanto não formos educados não seremos cidadãos, seremos cidadãos. Então vamos lutar pela nossa educação para que sejamos cidadãos. E não seremos cidadãos enquanto formos analfabetos políticos. Porque enquanto não formos politicamente educados, não elegeremos políticos politicamente educados. E vamos continuar perdendo nosso tempo tentando limpar uma política suja que nos envergonha, e nem sabemos que somos responsáveis por ela. Ainda no século XIX, o Marquês de Maricá escreveu essa pérola: “Se há um idiota no poder, é porque os que o elegeram estão bem representados”. O que indica que somos todos responsáveis pelos desmandos na nossa política. E que tudo faz parte da nossa educação que não tem nada da Educação de que necessitamos para sermos cidadãos. Pense nisso. *[email protected]