Povo marcado, povo estático, povo feliz – Tom Zé Albuquerque*Quando o povo brasileiro pensa ou acredita que algo de bom tende a mudar na conjuntura política brasileira, eis que vem outra pancada. A população assiste estático o Congresso Nacional agir como bem entende cujos parlamentares em maioria banalizam os interesses da coletividade e, pior, criam artifícios de autoproteção e perpetuação no poder.
Analisar detidamente a situação vigente no Brasil é questionar sobre o que realmente significa Democracia. A desigualdade social ainda perdura; a disparidade de oportunidades entre pessoas do mesmo nível, situação, formação e especialidade ainda é algo inconcebível. A máquina pública é algo inacreditavelmente inchada, com ministérios desnecessários, secretarias sem sentido de existirem, servidores públicos em demasia, em especial cargos comissionados ocupados por muitas pessoas despreparadas ou à margem de sua área de atuação e que mais corroem os cofres, que geram resultados efetivos, e assim segue a estrutura do Brasil, ainda uma colônia.
O país da bandalheira exalta o “jeitinho” da burla, abranda a trapaça e festeja a vitória do patife. O cidadão brasileiro adora eleger e reeleger, sem nenhum pudor, o corrupto. A cultura brasileira tem base sim no viralatismo, para qual se contenta com o pouco, com o passageiro e, principalmente, com o que satisfaz individualmente. O cidadão do Brasil, em regra, é egoísta e isso acarreta na falta de senso coletivo, para tal o que importa é o individualismo visando “se dar bem”, independentemente do todo. A demagogia predomina entre os políticos do país do feminejo e isso idiotiza as pessoas e joga com a ingenuidade dos analfabetos funcionais que abarrotam as estatísticas brasileiras, porque são muitos, e boa parte da população, quando o assunto é política, prefere a ignorância à análise crítica.
É inacreditável a quantidade de parlamentares brasileiros envolvida em corrupção. Ora, mas pra que ou quem interessa isso? Afinal, existe imunidade para o poder e as leis brasileiras são complacentes ao ponto de serem risíveis, patéticas; mesmo que não onere o tempo de tramitação, mas as penas são comezinhas, infantis e cheias de valas que permitem saídas pela frente de qualquer infrator. Acaba que o Superior Tribunal Federal, composto por advogados indicados, define o presente e o futuro do nosso país, inclusive exercendo a atividade legislativa, em substituição àqueles que deveriam zelar pelo país, corriqueiramente omissos ou covardes.
Como explicar, por exemplo, a existência de 35 partidos políticos e alguns deles sem nenhum deputado ou senador que possa representá-los no Congresso? Mas continuam a receber verbas, fundos e tantas outras benesses de cargos ou gratificações por uma enganosa e despropositada “fidelidade”. Tudo dinheiro público, pela ocupação de espaços e pelo usufruto de benefícios desmedidos de poder, dinheiro e status. Nem na época colonial o saque ao povo brasileiro foi tão grande, intenso e crescente. A Constituição Federal é uma salada de artigos, incisos e parágrafos que trata de tudo que se imaginar e que possa acontecer num país, mas aplica-se pouco, se efetiva minguadas ações puras, de interesses desvairados ou desvios de intenção.
Em quanto tempo será que o Brasil mudará? Somente quando algo brutal ocorrer. Do contrário, as enrolações e procrastinações perdurarão, e os direitos brasileiros imprensados pela liberação homeopática servirão como moeda de troca ou artifício de barganha. No final, a maioria vibra, agradece e aguarda o próximo demagogo. Viver na ignorância é uma dádiva e que evita o sofrimento de quem pensa, mesmo que seja um leigo inteligente, mesmo que não se saiba o desejo subliminar daqueles que definem nosso futuro.
*Administrador
O estranho que nós amamos – Oscar D’Ambrosio*Em tempos de empoderamento feminino, o filme “O estranho que nós amamos” (The Beguiled), dirigido por Sofia Coppola, é obrigatório. Traz para o centro da discussão diversos aspectos da psicologia humana e do relacionamento entre homens e mulheres em situações de extrema tensão.
A ação se dá em Virginia, em plena Guerra Civil dos EUA. A estabilidade de um internato de mulheres sulista é quebrada quando uma das jovens encontra no bosque um cabo da União ferido em combate. A primeira discussão surge justamente sobre a conveniência ou não de ajudar na recuperação dele e de denunciar a sua presença aos inimigos.
O soldado desperta reações distintas em todas as mulheres daquele espaço, desde a coordenadora até as crianças, passando por uma jovem em busca de uma nova vida e uma adolescente. Os elos vão progressivamente se articulando em ações que vão do carinho e da compreensão para a violência e a irracionalidade.
Interpretar o filme apenas por um olhar feminino é empobrecer a riqueza de relações humanas que ele traz à tona. Existe nos diálogos e na linguagem do corpo e dos olhares um infinito potencial de análise sobre o sentido da própria existência para cada um e como isso se articula com a presença de um estranho num ambiente aparentemente estável.
*Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais, atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp
Erros e dívidas – Afonso Rodrigues de Oliveira*“A amizade duplica as alegrias e divide a tristeza.” (Francis Bacon)Sexta-feira, logo cedo, eu soube do falecimento do meu amigo Chacon. Foi uma correria para ir ao seu velório. E tinha que primeiro, fazer o trabalho para o jornal. Aí resolvi falar do Chacon. Na pressa não tive o tempo necessário para a correção no trabalho. E só quando li o jornal no dia seguinte foi que vi os absurdos; primeiro onde deveríamos ler: “Abração, Chacon”, lemos, Abraão, Chacon. Cocei a cabeça e continuei a leitura e lá na frente li a palavra “sedo”, quando deveria ter escrito, “cedo”. Confesso que não tive coragem de continuar lendo. Mas se você encontrou mais algum absurdo desculpe-me. Foi correria. Confesso que vou ser mais respeitoso com você. Abração.
Continuei lendo a Folha e lá na frente fiquei alegre com a homenagem ao Sebastião Paulino de Lima. Aí sofri com outro erro que cometi e que virou dívida. Muitos anos atrás prometi para o Sebastião que nos encontraríamos, por convite dele, para um papo sobre a Segunda Guerra Mundial. Ele como participante e eu como apenas um observador atento, daqueles momentos em que eu ainda era quase crianças, mas vivi intensamente a época.
Desculpe-me, Sebastião, pelo, aparentemente, descaso. Na realidade não é nem foi descaso. É que sou meio desligado, o que me faz sofrer no que sofri, na alegria de vê-lo sendo homenageado no Dia do Soldado. Você mereceu e sempre merecerá, com certeza. Meus parabéns, e um abração do tamanho do mundo pra você.
É muito gostoso e gratificante ter amizades. E tudo depende de como você sabe construí-las. E é muito simples. É só você ser simples. A simplicidade é uma força oculta e construtora. Quando nos amamos no que somos, somos felizes. O importante é saber o que somos e por que somos. Sua simplicidade é a força maior para você vencer. Mas ser simples não significa ser submisso. Caia fora dessa. A força na felicidade consiste em você mostrar que é porque é.
Mas nunca se esqueça de que você não é superior a ninguém. Apenas está no seu nível de evolução racional, com o dever de orientar seu próximo para o caminho da racionalidade. Mas faça tudo com o objetivo de orientar, e não de dirigir. Quando dirigimos os pensamentos de alguém, estamos levando-o para nosso mundo e não o mundo dele. E por mais espertos que formos não somos capazes de saber qual o mundo do nosso próximo. Porque tudo depende do grau de evolução racional em que ele está. E seja qual for, é bem diferente do seu. Portanto, faça sempre grandes e boas amizades. Você sempre lucrará com os benefícios que elas lhe trarão. Pense nisso.