Vergonha – Walber Aguiar*
De que me vale ser filho da santa, melhor seria ser filho da outra, outra realidade menos morta, tanta mentira, tanta força bruta… Chico Buarque
Era uma vez Kierkegaard, um filósofo dinamarquês, um cara que inventou os três estádios e falou sobre cada um deles. Primeiro, o estético, ou aquele que se toca e se percebe quando se nasce, ao encher os olhos e encantar o coração. O estádio do belo, do fascinante, daquilo que nos toca, que nos redime e magnetiza. Adiante, percebeu que o estético tinha que segurar as mãos do ético, a fim de que não houvesse um desmantelamento, uma ruptura entre o belo e aquilo que norteia a conduta, que desenha o íntegro e a integralidade. Daí o autêntico e o nu do corpo e da alma.
Ora, diante da argumentação do filósofo, nos deparamos com o discurso frágil e “conveniente” da politicalha que inventa cartilhas e leis sem conteúdo, visando o aplauso e os votos do falso moralismo. Alguém que tenta defender a família, mas o faz numa perspectiva oca e totalmente farisaica. “Coam o mosquito e engolem o camelo”, numa tentativa de “vender” uma proposta sem forma e vazia.
Afinal, o que podemos definir como vergonha? O que é mais feio, o nu artístico de Michelangelo na estátua de Davi, ou a ladroagem, os esquemas de corrupção, a falsidade, o desvio de verba, o cinismo e os grupos que se unem pra saquear o erário público?
Assim, podemos até comparar as duas Assembleias: a Legislativa e a de Deus. A primeira, num êxtase de falso moralismo, cria um discurso vago e sem graça, tirando o nu da arte e a arte do nu. Não me refiro à arte que passa por cimo do ético, do legal, da falta de coerência daqueles que ultrapassam os limites em nome de uma “arte” sem vergonha e sem caráter, sem norte e fronteira.
Falo de uma coisa tosca, de uma tentativa de empurrar as pessoas na direção de um moralismo que se faz passar por moral, que vislumbra apenas o interesse eleitoral, que engorda o coração em dias de matança.
A outra Assembleia, dita de Deus, que mais parece assembleia dos homens, é vazada por um convencionalismo que hipertrofia a graça de Deus, que cria preceitos que são doutrinas de homens, que inventa agenda pra Deus, sem que se perceba qualquer coisa do Eterno e da eternidade. Sem que se transforme o homem e sua conduta, sem que mexa no caráter ou faça do homem um ser humano melhor.
Nesse ponto, as duas assembleias se abraçam, nessa moralidade de cuecas, nesse moralismo exacerbado, que nenhum valor tem diante da sensualidade. O nu foi dado por Deus, foi concedido pela beleza da Graça do Eterno, por isso mesmo se converte em algo divino e fascinante.
A sexualidade é linda e santa, quando vista na ótica de quem a produziu e espalhou sob a forma de procriação e prazer. Assim, não há mais espaço para a era vitoriana, para as mentes medievalescas, influenciadas pelo obscurantismo conservador da pseudo-religião.
O corpo político nada entende da política do corpo. Entende apenas de aliciar garotinhas, numa síndrome de lobo mau, e de tentar captar votos sob a égide do discurso vazio e do moralismo feio e sem graça.
A política do corpo, essa sim, precisa ser estudada e trabalhada, a fim de que o nu Kierkegaardiano nos envolva com beleza e eticidade. O que passar disso é grito vazio, falso moralismo e socos no ar. Apenas isso…
*Poeta, professor de filosofia, historiador, Conselheiro de Cultura e Membro da Academia Roraimense de Letras
O mundo está cada vez pior – Marlene de Andrade*
“… aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece. (Filipenses 4:11-13).
Dias atrás fiquei pensando no que está escrito em Mateus 24, quando Jesus se reporta aos desastres ecológicos e, por exemplo, aos rumores de guerra, ser esses sinais, que o fim está próximo.
Meu professor da Escola Dominical afirmou que o este mundo não tem mais jeito. Imediatamente me lembrei da Suíça, cujas cadeias foram fechadas e no final da aula expus para ele essa questão. Ele disse que era verdade mesmo, porém me mostrou outro lado dessa história mundial, ou seja, ele me questionou o porquê de tantos suicídios naquele país e em outros tantos bem organizados.
É verdade que, em vários países do mundo bem desenvolvido, o suicídio é uma importante causa de morte. Na Suíça, país próspero, muitas pessoas por lá se suicidam em abundância e aí, o que está faltando para elas? E quanto mais o país é próspero e bem organizado, mais pessoas se suicidam. O que tem de suicídio nos Estados Unidos, Suíça, Japão e, por exemplo, na Dinamarca, é uma barbárie. Portanto, prosperidade e coisas supérfluas só aumentam o vazio existencial.
A Bíblia deixa claro que no mundo teremos aflições e o interessante é que riquezas, bons empregos, casas luxuosas, e entre outros, viagens, não nos traz a Paz que excede a todo entendimento, visto que essa Paz só Jesus pode nos dar. Neste contexto, Paulo Apóstolo aprendeu suportar qualquer aflição é que a paz que ele tinha não era de origem humana, mas sim aquela que alcançamos por Jesus. No entanto, hoje vivemos num mundo super avançado em tecnologia e, mesmo assim, a depressão só vem aumentando. É verdade que é difícil enfrentar o dia a dia de nossas vidas, porém, a Palavra de Deus nos convoca a não andarmos ansiosos por coisa alguma.
O vazio existencial é muito grande dentro daquelas pessoas que não foram alcançadas por Jesus e por isso, muitas delas, passam a beber bebidas alcoólicas, ou começam a usar outras drogas psicotrópicas, o que é totalmente, equivocado.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. (Mateus 11:28-30).
*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT
Que desilusão… – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“A velhice dá dimensões às coisas vulgares.” (Câmara Cascudo)
Pelas coisas absurdas que já aconteceram na minha vida, acredito que há um cara se divertindo comigo, desde minha infância. Já tentei, mas não consigo me lembrar de algo nem de mim, em encarnações passadas. Minha mãe dizia que eu era um ET. A dona Salete diz que eu devo ter sido o cara mais chato e mandão da paróquia. Não sei qual das duas tem razão. A verdade é que aquele cara está sempre à minha volta e me judiando. Tenho um número enorme de acontecimentos que me aconteceram e não dá pra explicar. E em cada um dos acontecimentos sinto, imediatamente, a presença do cara rindo pra mim.
Acho que já falei pra você, do dia em que entrei na oficina do meu pai, para fazer uma mesinha para meu filho Magno, que ainda era criancinha. Era um sábado à tarde e eu estava sozinho, na oficina. Liguei a máquina e quando ia colocar a madeira para serrar, ele empurrou minha mão para debaixo da serra. Olhei pra ele e o xinguei. Ele sorriu pra mim e caiu fora. Fui para o hospital com os dedos da mão esquerda todos feridos.
Ontem fui partir um côco, para tirar água para dona Salete. Só que senti a presença do cara. E foi aí que o facão em vez de cortar o côco, cortou meu dedo mindinho. Jorrou muito sangue e eu gritei para dona Salete:
– Tiiinhaaa… Venha cá. Rápido!
Como ela já me conhece, não se apressou e perguntou:
– O que foi, seu alarmista?
– Eu vou ser Presidente da República. Acabei de cortar meu dedo mindinho!
Ela chegou assustada. Não sei por que, havia mesmo muito sangue no chão. Ela pegou um pano, água e começou a limpar o corte. Olhou pra mim e falou irônica:
– Presidente… Não vai ser nem vereador. Cortou o dedo coisa nenhuma. Foi apenas um arranhão na pele. E não sei por que tanto sangue. Acho que algum fantasma tentou assustar você, e está espremendo as suas veias pra sair tanto sangue.
Não falei nada, mas olhei para o lado e vi a cara do cara rindo pra mim. Sempre ele. Esse cara já me fez rodar, no meu carro, na Via Dutra. Eu ia de São Paulo para o Rio de Janeiro, uma hora da manhã, quando rodei na pista, parando o trânsito nas duas direções. Felizmente foi só susto. Mas garanto que ele estava rindo, e do meu lado. Acredito que devo ter feito alguma coisa desagradável contra ele, na nossa encarnação anterior. Mas, mesmo sabendo que no universo em que ele está não existe unidade de tempo, espero que ele, um dia, considere o tempo que já estamos afastados. E seja o que for que eu tenha feito contra ele, já é tempo de considerar o tempo e me perdoar. Ficar me judiando não dá. Pense nisso.