Opinião

Opiniao 29 04 2019 8088

MINHA ALDEIA – Hudson Romério

Minha aldeia vai além do que minha vista alcança.

Boa Vista é uma urbe incógnita, uma “unheimlich” – ela é familiar e ao mesmo tempo estranha. Ela está dentro de mim, sempre habitou meu ser, onde eu for ela vai – até nos meus sonhos a terra de minha terra suja meus pés, é áspera entre os dedos de minhas mãos. 

Existem muitas delas em mim: de minha infância, de minha adolescência, juventude e desta fase que chamamos adulta, que se estende até a velhice ao abismo da morte. (Vamos ficando velhos e as coisas vão diminuindo, o que antes era uma imensa babilônia, hoje não passa de uma aldeia-metrópole, que observo sentado num banco da praça já sem ânimo de conhecê-la, o que era antes tão pequeno-grande para uma criança é hoje tão grande-pequena que cabe na palma da mão de um velho). 

Minha impressão de menino já não tem os mesmos significados para um velho com saudade daquele menino. Sei que os meus olhos já não veem o mesmo de antes, até porque o mesmo de antes já se esvaiu pelo tempo – a memória hoje é falha; pois, tenho medo que um dia tudo desapareça dessas parcas reminiscências desses dias de outrora. 

Eu achava que tudo terminava naquele rio, onde as águas levavam as saudades, esperanças, vidas… a cidade, as ruas, os amores, as pessoas… como se ali tudo desaparecessem do nada – tinha medo de me aventurar naquelas beiras e margens, não sei se era por medo de me perder ou me achar nessa procura de menino. 

Seu desenho é um leque: inusitado e criativo (até porque faz muito calor!). A impressão que se tem é que as ruas e avenidas vão de algum lugar para lugar nenhum, de onde se anda até chegar ao infinito – são vias paralelas e perpendiculares – “fugam-se” para um horizonte tão distante de mim… tão distante de tudo… no meio desse turbilhão da cidade, nos resta tão pouco de nós mesmos, um quase pouco do nada do resquício do que fui (e fomos) antes e, do nada do que serei (ou seremos) depois.  

Essa cidade tão minha e, ao mesmo tempo singrada em mim. Cheia de bairros com nomes de santos, ruas e avenidas com prenomes de generais, coronéis, capitães… além das praças onde correm os curumins e cunhantãs dessa nova geração. 

Então, eu paro e observo toda essa gente passar, pois o tempo para mim já passou, chega-se numa idade que a ampulheta se exauriu e os últimos grãos de areia que restaram são os derradeiros dias desta insignificante existência desse exílio onde eu nasci – então restam em mim os últimos fluxos perturbadores dessa aldeia que todas as noites eu adormeço nela e ela em mim. 

*Escritor e Cronista [email protected] Tel:(95) 99138.1484

A GERAÇÃO VERTICALIZADA X GERAÇÃO HORIZONTALIZADA – Wender de Souza Ciricio

Meu mundo e minha história de vida desenterram para mim duas noções de mundo, duas fotografias com imagens díspares e com conceitos de vida muito diferenciados. Trata-se primeiro de um mundo fortemente verticalizado. Nesse mundo vertical, na ponta de cima estiveram meus pais e, sem qualquer dúvida, sem qualquer chance de ser diferente, estava eu na ponta de baixo. Se posicionando cada qual em seu devido lugar, o que se via, o que era palpável, é que a parte de cima exercia poder de mando e a parte de baixo, para não correr sérios riscos de sofrer danos físicos, obedecia irrestritamente. Não era saudável e aconselhável transitar na contramão do que determinava pai e mãe. Os que tentaram fazer isso pagaram um preço não muito barato, que o digam as varas, os chicotes e os chinelos ou às vezes “panelas voadoras”.

Na geração horizontalizada ocorreram significativas transformações. Se na geração anterior os pais tinham um pulso mais pesado, menos dialogo e mais taxativo, agora é diferente. Os filhos estão de frente para os pais discutindo, debatendo ordens recebidas e não se vendo mais como meros coadjuvantes. Os filhos agora são, com anuência dos pais, os protagonistas de sua própria história. São altivos, soberbos e com egos bem inflados. Sentam-se à mesa com os pais e com toda imponência que lhes foi permitida acabam por vencer e fazer prevalecer seus gostos, suas artimanhas e seus idealismos. Os pais desses filhos foram alvos de um passado verticalizado e para não repetir o mundo anterior, onde eram filhos, resolveram abrir a guarda considerando que isso é o melhor para seus filhos. Obviamente existem exceções tanto em uma geração como em outra. 

Existe nesse confronto de gerações uma melhor e outra pior? Possivelmente sim e possivelmente não. Na geração verticalizada a palavra “obediência” e “disciplina” ecoavam mais alto do que tantas outras. Em vários aspectos isso foi menos danoso para família e sociedade. Esse modelo de família entregava para instituições como escola e outros filhos menos rebeldes, mais obedientes e adaptáveis. Havia menos violência, menos drogas e menos insolência. Por outro lado, não eram comuns diálogos francos e abertos entre pais e filhos. A dureza, rigidez dos costumes, o conservadorismo e os tabus desconstruíam relações mais confiáveis e amigáveis entre filhos e pais. Essa espécie de ambiente meio que militarizada contribuía para que filhos fizessem quase tudo “certinho” mais pelo medo do que pela certeza de que aquele determinismo era a única proposta de vida correta e coerente. Alguns que obedeciam diziam: “meu corpo obedece, mas minha alma não mexe um nada”. 

Na geração horizontalizada encontram-se jovens menos reprimidos, meninos e meninas mais audaciosos e mais ambiciosos. A audácia e ambição precedida pela ética é sempre bem vinda. Essa geração livre das fortes amarras dos pais topou, também, com um mundo mais informado, tecnologicamente mais avançado. Seus recursos tecnológicos são infinitamente superiores aos de seus pais. Nas gerações passadas a telefonia era sustentada por “orelhões” e a máquina de datilografia era o mais imponente instrumento das mesas de escritório. Ninguém mensurava a ideia de ver seus filhos, nos dias atuais usando celular, computadores e conectados em redes sociais. Todos esses ingredientes têm dado a essa geração chances enormes de crescerem no conhecimento e na vida.

Entretanto o que não se pode ignorar é que esse quase estar no mesmo nível dos pais fez e tem feito vários filhos, não todos, confundirem seus papéis e suas responsabilidades no mundo em que pisam. Com egos inflados pensam que o mundo exterior a eles tem que se amoldar e se ajustar aos seus gostos e encantos. Garotos e garotas entram em sala de aula e extrapolam diante da autoridade de professores, não param em empregos porque querem se colocar no mesmo degrau de quem os empregou e na rua pensam que podem agredir todo mundo que olhe para eles. Não acostumaram com a verdade de que o mundo existe independente deles e não para eles. Agem como se fossem únicos, inigualáveis e absolutos. Em muitos momentos fazem da futilidade a essência de suas vidas.

Dois mundos com paradigmas diferentes, com vantagens e desvantagens. Cabe sua análise e suas conclusões.  Vivi a primeira como filho e vivo a segunda como pai, e confesso que nenhuma me conduziu para a infelicidade. 

*Psicopedagogo, historiador e teólogo [email protected]

Talvez você seja o que não é – Afonso Rodrigues de
Oliveira

“Aquilo que você é irá sempre desagradá-lo se você ficar preso ao que você não é.” (Santo Agostinho)

Nem sempre somos o que pensamos que somos. É o que faz com que fiquemos dando volta em volta de nós mesmo. Estamos sempre enjoados conosco mesmo. Perdemos mais tempo com o que não deveria estar em nossos pensamentos. Simples pra dedéu. Quando não estamos felizes com o que temos é porque não temos o que deveríamos ter. Porque não sabemos que temos, em nós mesmos, tudo de que necessitamos para ser feliz. Vá fazendo uma reflexão sobre isso durante seu dia de hoje. Talvez você esteja vendo as coisas pelo retrovisor. É quando nem percebemos que as estamos vendo pelo avesso. Mude seu modo de pensar e você começará a ver as coisas como elas realmente são. E é aí que você tem o poder de escolher o que lhe convém. 

Procure não perder tempo com coisas ou aborrecimentos que não lhe interessam. Por que ficar perdendo tempo com coisas ruins quando há um mundo de coisas boas à sua frente? Tudo vai depender da sua maneira de ver as coisas. E tudo depende de sua maneira de encarar o positivo e o negativo. Encare-os e escolha o que realmente lhe interessa. E não se esqueça de que ninguém além de você mesmo, ou mesma, tem o poder de fazer isso por você. Vá em frente, mesmo sem sair do lugar. Passeie nos seus pensamentos. Eles podem levar você muito além de onde você quer chegar. Seu poder não tem limites. Você pode estar caminhando rumo ao horizonte, ou marchando em direção ao pantanal. A escolha é sua. 

Pense bem nisso. Quando as coisas não estiverem dando certo, em vez de você se aborrecer, pense onde você está errando. Porque é com os erros que aprendemos a acertar. O Thomas Edson já disse: “Eu não estou errando. Estou aprendendo como não fazer da próxima vez.” Pare de se aborrecer com seus erros. Eles podem lhe servir de lição. Tudo vai depender de como você vê os erros e os acertos. Valorize-se no que você é. Tenha em mente que o que você faz de melhor, hoje, pode ser bem melhor amanhã, se você aprendeu com o que fez hoje. É assim que alcançamos o horizonte inatingível. 

Vamos atravessar o campo minado. Mas precisamos primeiro aprender a pisar nas pegadas dos que já o atravessaram. 

Valorize-se nos seus pensamentos. Eles podem levar você aonde você quer ir. Vai depender da sua capacidade de usar seus pensamentos para se comunicar com seu subconsciente. Este, sim, é o seu poder incomensurável. Ele vai deixar você onde você quer estar. Então não perca as oportunidades que você tem de progredir neste universo de progresso a regresso. O regresso aí é positivo. Pense nisso. 

*Articulista [email protected] 99121-1460