Ensino médio: os riscos da proposta do governo – Ângela Portela* A sociedade brasileira foi surpreendida esta semana com o anúncio de uma reforma no ensino médio. Todos os que como eu militam na educação reconhecem a necessidade de mudanças não apenas nessa fase da educação básica. Reestruturação de currículos, com adequação aos temas e tecnologias atuais, valorização do magistério e escola em tempo integral são algumas das bandeiras que estão na ordem do dia da educação. Muitas delas, inclusive, fazem parte do Plano Nacional de Educação, aprovado em 2014.Ocorre que o governo propõe mudanças no mínimo polêmicas, por meio de um instrumento que inviabiliza a discussão necessária: a medida provisória. Como bem alertou o Ministério Público Federal, por meio de nota, “as mudanças em um sistema que envolve redes públicas de ensino da União, estados e Distrito Federal e ampla rede privada precisam de estabilidade e segurança jurídica, o que o instrumento da Medida Provisória não pode conferir, uma vez que fica sujeito a alterações em curto espaço de tempo pelo Congresso Nacional”.Deve-se ressaltar também que a medida provisória, conforme vem sendo anunciada, tem inúmeros problemas potenciais, o que indica a necessidade de uma discussão mais equilibrada do tema, ao contrário dos efeitos imediatos, como pretende o governo.Chama a atenção no texto o fim da obrigatoriedade do ensino de artes e educação física nos três anos do ensino médio. A reforma imporia ao estudante a escolha de uma área de interesse ainda no início do ensino médio. Isso significa que um jovem de 15 anos vai ter que dizer qual carreira pretende seguir ainda nessa idade. Depois, se resolver trocar, o que não é incomum, optando por outra área de conhecimento, terá que retornar ao terceiro ano do ensino médio. Ao contrário do que apregoa o Ministério da Educação, teremos aí forte desestimulo para a continuidade dos estudos e aumento da evasão escolar, que já é um dos maiores problemas educacionais em nosso país.A clara intenção do governo é desvalorizar as disciplinas relacionadas com humanidades e com a formação de cidadãos e cidadãs. A única preocupação seria formar mão-de-obra para o mundo do trabalho. Não se pode negar a importância de preparar os jovens para o mercado, mas não há qualquer incompatibilidade entre isso e uma formação geral sólida. Esta, pelo contrário, torna mais capaz e bem preparado qualquer profissional técnico.Outro problema é que o governo federal pretende criar obrigações para os estados, já sob enormes dificuldades orçamentárias. E por contraditório que possa parecer, o mesmo governo que apresenta essa proposta é o que patrocina a chamada PEC da Meta Fiscal, que imporá restrições orçamentárias drásticas às áreas sociais, notadamente a saúde e a educação.Novidade não menos preocupante é o fim da exigência de concurso público para a carreira do magistério técnico.Os equívocos da proposta talvez se expliquem por um erro de diagnóstico do governo. Se acerta ao dizer que a escola atual não dialoga com os jovens, o ministro Mendonça Filho erra ao imaginar que a solução está na retirada de disciplinas de humanidades ou na possibilidade de formação profissional ainda no ensino técnico.Os estudantes não ficam na escola porque os ambientes são antiquados, os professores ganham mal e não têm motivação, entre outras razões, algo que os especialistas em educação já apontam há bastante tempo. Medidas governamentais que atacassem esses problemas seriam uma boa forma de começar a resolver o problema do ensino médio.
*Senadora da República por Roraima——————————————Os sócios do estado e seus dividendos – Percival Puggina*Minutos após as tenebrosas revelações da força-tarefa da Lava Jato sobre as atividades do companheiro Antônio Palocci, o PT descobriu que escandaloso, mesmo, é o ministro Alexandre de Moraes que mostrara, na véspera, saber que havia uma operação prevista para a semana que iniciava.Literalmente, o país ficou mais abandalhado ante as provas de que o ex-prefeito de Ribeirão Preto tinha conta corrente no setor de propinas da Odebrecht. Os números são de deixar Donald Trump de cabelo em pé. O “italiano” titular da conta movimentou R$ 216 milhões no caixa subterrâneo da empresa! Note-se que Palocci não era sócio da Odebrecht recebendo dividendos. Por sua autoridade, até prova em contrário, operava como representante do PT, recebendo dividendos societários auferidos pela sigla na condição de sócia do governo. Ou propina, como afirmaram, de modo mais tosco, os policiais federais e os procuradores da república atuantes na operação.Lula movimentara 52,3 milhões de reais; Antonio Palocci, 216 milhões de reais; Fernando Pimentel, 3,1 milhões de reais; Erenice Guerra; 26,3 milhões de reais. Ou seja, um total de quase 300 milhões de reais.Qual a atitude dos líderes petistas, no ano passado ou agora, face a tais revelações? Deram alguma explicação? Escandalizaram-se? Solicitaram investigação interna para esclarecer os fatos e o destino dos milionários créditos? Eximiram o partido de qualquer responsabilidade? Emitiram sinal de constrangimento? Não. Arregaçaram as mangas, gargarejaram mel com limão e foram aos microfones atacar o boquirroto e infeliz ministro da Justiça. Os deputados federais petistas Paulo Teixeira e Paulo Pimenta não precisaram contar até dez antes de proporem à CCJ da Câmara a convocação do ministro fanfarrão para as necessárias explicações. Vanessa Grazziotin fez o mesmo no Senado. Dilma Rousseff, desde a constelação .Passaram-se as horas, virou o dia, e até este momento, o único a dar explicações foi o ministro Alexandre de Moraes, já com o pé na soleira da porta de saída. Não sei por que razão me vieram à mente estas palavras de Josué Montello ao descrever a decadência de uma cidade em Noite sobre Alcântara: “De repente, já longe, teve a sensação nítida de que ia andando pela alameda de um cemitério. As casas fechadas eram sepulcros e ali jaziam condes, barões, viscondes, senadores do Império, deputados, comendadores, sinhás-donas, sinhás-moças, soldados, mucamas, juízes, vereadores, sacerdotes. Somente ele, assim desperto dentro da noite, estaria vivo na cidade de mortos. *Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país ——————————————
Clima de competição – Afonso Rodrigues de Oliveira*“O espírito de competição é o oposto do espírito esportivo. A pessoa competitiva é incapaz de jogar apenas pelo prazer de jogar, porque precisa ganhar ou causar boa impressão”. (Marguerite Beecher) A competição no esporte é de certa forma um entrave para o desenvolvimento esportivo. Acabamos fazendo do mundo do esporte um mundo de batalhas. E se caracteriza mais no profissionalismo. A truculência caracteriza a incompetência esportiva. Quando respeitamos o adversário não o confundimos com inimigo. E quando não há inimigo não há por que lutar. Não deve haver espírito de competição onde deveria haver espírito esportivo. Quando sabemos o valor que temos, respeitamos o valor do adversário. A boa impressão que devemos dar no nosso desempenho está no respeito que demonstramos pelo adversário. É quando sabemos que o valor da nossa vitória depende do valor do adversário. Nenhum time de futebol, por exemplo, vai se sentir orgulhoso por ter vencido um time de várzea.Use seu espírito esportivo na sua vida profissional. Seja qual for a profissão que você exerça. Isso faz parte do relacionamento humano. O mais importante nas relações humanas é reconhecer nosso valor, reconhecendo e respeitando o valor das outras pessoas. É importante que você nunca se sinta inferior. Porque se não se sentir inferior não há por que lutar para mostras sua superioridade. É assim que surgem os líderes no ambiente profissional. Quando você tem um espírito de liderança não precisa mandar. Liderar é fazer as pessoas fazerem o que você quer que elas façam por que elas querem fazer. A era dos chefões já era. A empáfia nunca foi um meio eficiente de dirigir. Líderes não discutem. Eles sabem que não há como vencer uma discussão. Ninguém vence uma discussão. E por isso só os tolos discutem. Quando você pensa que venceu uma discussão está sendo enganado por você mesmo. Seja sempre gentil com as outras pessoas. Elas não são inferiores a você, nem você a elas. E percebemos isso quando sabemos que vivemos em constante e permanente evolução. E que cada um está no seu nível. Quando entendemos isso estamos contribuindo para a evolução da outra pessoa. E, consequentemente, estamos evoluindo. Então não precisamos competir. Basta sermos o que somos. E somos todos de origem racional. Todos, indistintamente. Logo, somos todos iguais. Cada um no seu caminho, rumo à racionalidade. Contribua para o progresso da humanidade fazendo sua parte como ela deve ser feita, e só. Levando isso para o desempenho profissional, o máximo que fazemos é apenas parte do que deve ser feito. Pense nisso.*[email protected] 99121-1460