Opinião

Opiniao 30 07 2016 2778

A Estratégia Perversa da Indústria do Tabaco – Cristina Perez*No ano 2000, lei federal proibiu a propaganda dos cigarros nos grandes meios de comunicação, como TVs, jornais e rádios. Em 2011, outra legislação apertou ainda mais o cerco: anúncios nos pontos de venda foram vetados. A indústria do tabaco, porém, reagiu. E da forma mais perversa possível: atraindo jovens e crianças para o tabagismo com a estratégia de expor seus produtos em meio a doces e chocolates nos pontos de venda, além de utilizar embalagens coloridas e atraentes.

No Brasil, a imensa maioria dos fumantes (80%) dá sua primeira tragada antes dos 18 anos de idade. Em média, no mundo, é aos 15 que acontece o primeiro contato com o cigarro – produto que mata dois a cada três de seus usuários. Para entender como a indústria tabagista busca driblar a proibição da propaganda, a Fundação do Câncer e o Instituto Nacional de Câncer (Inca) realizaram a Pesquisa Pontos de Venda de Produtos Derivados do Tabaco: Estratégias de Marketing.

A técnica de investigação adotada foi a de cliente oculto. Durante dois meses, junho e julho de 2015, visitamos 54 pontos de venda de cigarros. Eram bancas, padarias, lojas de conveniência de postos de gasolina e bares nas cidades de Rio de Janeiro e Teresópolis, no Estado do Rio de Janeiro; São Paulo e Embú das Artes, em São Paulo; e Porto Alegre e Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul. As conclusões foram estarrecedoras.

Como se não bastasse estarem posicionados perto de balas, chicletes e outros produtos com apelo infantil, os maços de cigarros também são encontrados frequentemente juntos aos caixas, por onde todo o público é obrigado a passar. Além disso, em muitas ocasiões são organizados em mosaicos coloridos nos displays, simulando grandes painéis. Isso sem falar em paredes inteiras revestidas com material especial, repetindo as cores da embalagem do produto exposto, e a iluminação forte nas ‘vitrines’.

Portanto, com a proibição da propaganda de produtos de tabaco nos pontos de venda, a indústria passou a investir pesadamente nestas artimanhas para continuar atraindo novos consumidores. As advertências de malefícios à saúde ocupam uma face dos maços, mas a outra continua sendo cada vez mais trabalhada para chamar a atenção e, principalmente, passar a impressão de que aquele produto não é nocivo.

Tramitam no Congresso Nacional três projetos de lei que determinam a padronização das embalagens de produtos de tabaco. Todas deverão se apresentar numa cor padrão, sem desenhos ou quaisquer outros artifícios gráficos e possuir o mesmo tipo de letra. Legislações neste sentido já foram adotadas na Austrália. França, Reino Unido e Canadá deverão seguir o mesmo caminho.

Acreditamos que a medida se faz necessária com urgência no Brasil, para dizer o mínimo. Não é possível que um produto que causa dependência, doença e morte, e que ainda por cima tem autorização para ser comercializado de forma legal, possa continuar direcionando seus esforços livremente a crianças e adolescentes. Afinal, trata-se de um público cujas escolhas sofrem grande interferência de estratégias de propaganda como as da indústria do tabaco, que travestem de inofensivos comportamentos de risco, como fumar.   *Psicóloga, Consultora Técnica da Fundação do Câncer———————————–Não ao “Juízo Final”! – Jaime Brasil Filho*Vivemos cercados de mentiras, de falsas percepções.

As mentiras têm muitos objetivos, às vezes elas querem que aumentemos o consumo como é o caso das propagandas, ou que nos sintamos bem sem ter motivo (livros de autoajuda) etc., existem mentiras inócuas também, claro. Mas, às vezes, as mentiras têm um propósito bem maior, que é o de nos manter apáticos e inertes diante daquilo que nos ameaça e que tenta nos destruir. Há mentiras que tentam nos manter cegos diante da esperteza alheia, diante da sanha, da ganância e da voracidade de quem vem há tempos levando o nosso país ao caminho do desastre.

Nos debates sobre o Brasil, não há mentira maior do que aquela que diz que o Estado brasileiro é um Estado gigante. Mentira! O Estado brasileiro é mínimo, quase inexistente. Precisamos de muito mais Estado para que o Brasil volte a crescer e para que a população tenha o mínimo de bem-estar.

Vejamos. Como chamar de gigante um Estado que gasta apenas 3,91% do seu orçamento com saúde e 3,44% com educação?

Como chamar de gigante um Estado que investe apenas 0,11% em cultura; 0,37% em Ciência e Tecnologia; 0, 35% em Segurança Pública; 1, 17% com o Justiça?

A verdade é que a única coisa gigante no Brasil é o que pagamos aos banqueiros e agiotas internacionais, que no caso de 2014 foi da ordem de 42% do orçamento da união.

Não temos uma boa saúde pública ou boa educação, simplesmente porque os impostos que pagamos diariamente não são dirigidos ao bem-estar do povo, mas, sim, para uma meia dúzia de bilionários.

Há muitas maneiras de alimentar os predadores e carniceiros do capital. Primeiro o neoliberalismo, com esse papo de que o Estado tem que ser mínimo, inventou mecanismos de transferência do patrimônio do povo para as mãos das grandes corporações. Por isso o FHC tem a cara da privatização, aquele tipo de estrega de patrimônio onde só quem ganha é o capitalista e os seus políticos comensais. A outra forma de transferência de riqueza para as mãos dos muitos ricos é acabar com o serviço público, achatar salários, cortar pessoal, fechar escolas, postos de saúde etc.

É isso que Temer busca com o chamado Projeto de Lei Complementar Nº 257, que está pautado para ser votado na Câmara dos Deputados na próxima segunda-feira. Esse projeto está sendo chamado de Projeto do Juízo Final. Isso porque, se for mantido o texto original, os serviços públicos nos Estados da Federação entrarão em colapso. Não se trataria de uma crise passageira, seria uma ruptura do tecido institucional.

Trata-se de um Projeto de Lei que deixará, caso aprovado, a população de uma maneira geral desprotegida, e a população mais carente abandonada.

O Projeto do Juízo Final ataca a todas as instituições republicanas, sem exceção.

Para se ter uma ideia, caso o Projeto seja aprovado, no curto prazo, a Defensoria Pública deixaria de funcionar por completo, diante da ausência de pessoal para trabalhar, já que os limites de gastos com pessoal previstos no Projeto são inexequíveis. Também o Ministério Público e o Judiciário sentiriam profundamente, definhariam. Se já temos processos judiciais lentos e carência de Juízes, Promotores e Defensores, com esse Projeto todo o Sistema de Justiça pararia.

Temer passou dos limites. Em busca de apoio para se manter no cargo, atraiu Governadores acenando com a diminuição da dívida dos Estados, e, em troca, os Estados praticamente terão que acabar com os serviços públicos destinados à população.

É o cúmulo do tecnicismo, da frieza, e da insensibilidade a serviço dos interesses dos grandes capitalistas. Sim, porque se as dívidas dos Estados são em relação à União, no fundo, União busca na mentira do chamado “equilíbrio fiscal”, na diminuição do “Estado gigante”, a solução para que sobre mais dinheiro para banqueiros, especuladores e afins.

O que se vê na mente dos burocratas a serviço do financismo é que tudo pode ser suprimido, destruído. Nada é sagrado para eles, a não ser a transferência de riquezas para aqueles que inventaram dívidas imorais, ilegítimas e impagáveis.

Destruir o Sistema de Justiça sob o argumento de buscar o chamado “equilíbrio fiscal” não é apenas mentir, mas também submeter milhões de pessoas à ausência do Estado brasileiro, que já é mínimo e, que, agora, tende a desaparecer nas mãos de políticos comprometidos apenas com seus interesses particulares e com o grande capital.

O Governo Temer, por um lado, coloca na conta dos trabalhadores algo que poderia muito bem ser pago pelos que têm mais, os mais ricos, e, ao mesmo tempo, tenta fazer tudo isso exatamente para transferir mais dinheiro para quem deveria pagar a conta.

No Brasil é a classe média e a pobreza que sustentam os lucros estratosféricos dos grandes bancos e especuladores.

Já é tempo de desmascararmos os falsos discursos daqueles que fingem se preocupar com o Brasil e com o povo brasileiro.

Já basta de tantas mentiras e manipulações. *Defensor Público——————————-

Meditando – Afonso Rodrigues de Oliveira*“O homem é o espírito fecundado na íntima fusão da liberdade com a fé”. (Rui Barbosa)A liberdade nos leva a um mundo extraterreno, sem que percebamos. E isso não quer dizer que devamos nos tornar eremitas para meditar. Podemos estar meditando sem nos desligarmos da vida atual e do momento em que estejamos. É só uma questão de paz de espírito. Ontem pela manhã meditei a meu modo. Pensei nos momentos vividos no “Curso Barão”, em São Paulo, nos anos 60. Foram momentos interessantes no meu desenvolvimento. Talvez eu venha a repetir momentos interessantes e que já tenha falado por aqui. Mas isso não importa. A verdade é que eu nunca tive a intenção de ser intelectual nem dono da verdade. Longe de mim tal futilidade. O que sempre me interessou foi viver a vida no momento. Vivê-la intensamente. E essa intensidade está dentro de mim e não nos acontecimentos. Eu não vivo o acontecimento, mas nele. O que for bom fica armazenado na minha memória e vez por outra aflora. Mesmo sendo momento muito simples e até com aparência de insignificância. O Miguel Ângelo já disse que: “A insignificância faz a perfeição, e a perfeição não é uma insignificância”.

Acordei cedo e fiquei pensando nos dias vividos na Rua Barão de Itapetininga, no curso pré-vestibular, “Barão”. Repito: nunca tive a intenção de ser intelectual. Eu fazia aquele curso apenas para aprender com um grupo dos maiores professores das grandes faculdades de São Paulo.

É uma história bonita pra dedéu. Aí sorri, lembrando-me da colega Munira. Era uma israelense lindinha. Sentava-se sempre ao meu lado e conversávamos muito. Naquela época ainda não havia vestibular. Os cursos se espalhavam preparando os jovens para o início do vestibular nas faculdades.

Iniciaram-se as matrículas na Faculdade Álvares Penteado. Munira se inscreveu e me forçou a me inscrever com ela. E é claro, eu não tinha nenhuma intenção de fazer faculdade. Finalmente chegou o dia do exame para a faculdade. E a meu modo driblei e não fui ao exame. A Munira foi, claro. Na segunda-feira ela chegou ao curso muito braba comigo porque eu não compareci ao exame. Mas ela estava mais braba ainda com uma das perguntas no exame: “Quais os nomes dos três sobrinhos do Pato Donald”. Rimos muito e a Munira não passou no exame. E ela sempre acreditou que foi porque não sabia os nomes dos sobrinhos do pato. Legal pra dedéu.

Não se incomode em se lembrar dos momentos simples do seu passado. Se se lembrar e se sentir feliz é porque valeu a pena. São os momentos simples da vida que nos fazem feliz na vida. E a felicidade está em nós mesmos. Pense nisso. *[email protected]