Opinião

Opiniao 31 01 2017 3592

Saudades da praça – Walber Aguiar*“A vida é um combate que aos fracos abate, e aos grandes e fortes só pode exaltar.  Gonçalves Dias Ele veio do Ceará.  Nordestino forte, de mão grande e coração largo. Era meu padrinho, era um guerreiro. E como todo guerreiro, precisa de colo, carinho, compreensão. Sempre trazia qualquer coisa na bagagem, uma simples lembrança, um “agrado” para as crianças, além do pão, do arroz, do feijão e da alegria de viver. Entre muitos invernos e poucos verões, ele construiu não apenas a casa, mas deu a ela a configuração de um lar.

Foi exemplo de pai. Não teve vergonha de vender picolé e pastel. Tampouco aprendeu num estalar de dedos a capacidade divina de cuidar e de se envolver paternalmente. Ele chegava silencioso. Ia lá no bar do “seu” Pinheiro, onde hoje funciona o Messias. Conversava muito. Cuidava da pracinha da Caer, no velho São Francisco, sob o olhar curioso da meninada. Plantava sempre. Colhia quando a vida permitia. Assim, colheu não apenas frutas e verduras, mas filhos, netos e amigos. Gostava de receber visitas e mostrar a casa que fez, no São Chico. Vinha sempre como um visitante inusitado. De longe lançava seu olhar carregado de bondade e esperança. E nem sempre alcançava a retribuição necessária.

Retribuição. Será que ela existe para aqueles que se lançam nos abismos da generosidade e se precipitam nos vaus da angústia cotidiana? Não se sabe. No entanto, há uma certeza: Mesmo ausentes, sempre manterão uma espécie de onisciência, uma soberania metafísica, um controle, ainda que relativo, sobre a vida e a morte.

Dentre todos eles, encontrei “seu” Zé, meu padrinho. Mas poderia ser o Joaquim, o Antônio, o João ou um Aluísio qualquer da vida. Porém, o termo qualquer não se aplica a eles; pelo fato de não se encontrar a benignidade e o amor silencioso em toda esquina do existir.

Meu padrinho teve dona Socorro, sua esposa; Aquilina e Samuel, seus filhos; além de muitos netos. Suas mãos enormes davam segurança quando apertavam meus dedos de criança inquieta e curiosa. Sua voz era mansa e profunda, sempre carregando um conselho, uma coisa boa de se ouvir.

Cearense alto, trabalhador, sempre respeitou os outros e trabalhou com todas as suas forças. Construiu com o tijolo e com a alegria casas e relacionamentos. Tudo que fazia gostava de fazer bem feito. Por isso vou sentir sua falta. Vou lembrar da tarde em que nos encontramos na pracinha e batemos um longo papo. Ele falava de coisas simples. De manga, seriguela, jaca. Também falava do velho Pinheiro, do “Chinelão”, dos problemas e alegrias da vida. À semelhança do poetinha ele não passou pela existência; ele a viveu de modo intenso e apaixonado. Até hoje lembro de sua primeira casa, na Barão do Rio Branco. Do inesquecível pé de abacate, lá no fundo do quintal. Do pastel quente que ele fazia para tornar melhor e mais suportável a vida. Sim, felicidade é isso. É fazer a vida acontecer, esperando que Deus dê a ela forma e sentido. Assim, suas mãos grandes e calejadas nunca vão sair da memória. Elas vão fazer muita falta num mundo cada vez mais complexo e sem graça…

Adeus, meu velho. Um dia a gente vai sentar no banco da praça e ter uma eternidade pra conversar…

*Poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de LetrasE-mail: [email protected]—————————————-Famílias ou agrupamento de pessoas? – Marlene de Andrade*“Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.”Vivemos hoje o período da pós-modernidade, onde a maioria das pessoas age de acordo com a ideologia liberal, assim sendo, a libertinagem vem tomando força cada vez maior no seio das famílias, pois afirmam que o “amor” é o que importa, não interessando se o marido trai a esposa, ou se a mesma e quem o trai, pois o importante é amar seja de que jeito for como, por exemplo, filho se juntar com a mãe, ou filha com pai.

Hoje a filha pode levar o namorado para dentro de seu quarto quando bem entender e o filho também. Devido ao fato, todos os dias nascem crianças sem pais. Todos esses fatos vêm deteriorando cada vez mais, grande parte das famílias, as quais caminham para a destruição.

Nessa cosmovisão moderna, filhos mesmo pequenos podem ficar plugados no WhatsApp com quem eles bem quiserem e assistir qualquer filme, mesmo que tenham cenas erotizantes ou recheadas de violência.

Passou também ser normal homem não trabalhar, e sim a mulher se tornar a mantenedora da casa. É uma distorção tão grande que certos maridos ficam cuidando dos filhos enquanto a mulher trabalha a fim de arcar com as despesas do lar.  É como se o homem se afeminasse e a mulher se masculinizasse. Neste contexto, há que ficar bem esclarecido que a submissão da mulher ao homem não significa inferioridade, mas sim funções diferenciadas. E tem mais, o marido é quem deve ser o mantenedor da família e a este respeito a Bíblia é muito incisiva quando afirma que o homem é a cabeça da mulher.

Algumas escolas já nem querem mais festejar dia dos pais e das mães, mas ao contrário estão pensando em colocar o dia dos “cuidadores”, pois em meio a tanto liberalismo, muitas vezes é um casal de homossexuais que vai criar uma criança. E o pior é que existem crianças literalmente soltas nas ruas e sem nenhum controle ou disciplina.

Além de tudo isso, o liberalismo permite que alguns pais entreguem carro a um filho menor, muitas vezes até mesmo de 15 anos, para dirigirem, ou então saiam de casa com quem bem quiserem voltando no dia seguinte sem dar nenhuma satisfação aos pais. Não fosse tudo isso aterrorizante, existem adolescentes usando drogas lícitas e ilícitas sem que os pais, minimamente, se preocupem, inclusive com as notas dos filhos na escola. À luz de todas essas misérias como encontrar uma saída? Penso que estamos chegando ao fim.

*Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT, pós-graduada em Perícias Médicas e Saúde Pública, técnica de Segurança no Trabalhohttps://www.facebook.com/marlene.de.andrade47(95) 36243445—————————————Vamos racionalizar – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Hoje não se admite, racionalmente, que alguém viva sob o domínio escravizante de qualquer dogma ou ideia imposta”. (Waldo Vieira)A Terra gira, os astros giram, e nós giramos. Ainda não sabemos que somos racionais e não temos por que continuar girando. Preferimos viver seguindo dogmas e idéias dos que nem mesmo sabem que estão girando sem ideias. Ainda vivemos como os humanos do começo da nossa “evolução” humana. Ainda desprezamos nosso vizinho porque ele se recusa a seguir nossos princípios, sejam religiosos ou sociais.

Nas barbaridades ocorridas nos presídios brasileiros o que vemos é a repetição das barbaridades de séculos passados que ocorreram dentro da legalidade da lei ou da religião. Semana passada estive, por curiosidade, lendo um livro sobre a história da humanidade. E li que durante a Santa Inquisição, só a Escócia matou, na fogueira, 17.000 mulheres. E a história é estarrecedora. Lamento lhe trazer esse assunto, hoje, mas não pude deixar de me irritar com o carnaval publicitário que a mídia está fazendo com a prisão do empresário Eike Batista. É como se não fôssemos prisioneiros da história.

Como evitar os desmandos que nos prejudicam e nos torturam, não sei. Mas sei que os que sabem fingem que não sabem. E como somos, nós, ingênuos que sustentamos os sabotadores, tanto dos nossos recursos quanto da nossa moral, somos responsáveis pelos desmandos. Então vamos nos cuidar, cuidando da nossa educação para que possamos nos livrar dos criminosos sociais. E não iremos nos educar enquanto ficarmos dando ouvido aos faladores que, mesmo sem saberem, estão nos mantendo na ignorância racional. Porque tem que ser maduro para não se deixar influenciar pela notícia negativa. E o ser humano ainda não atingiu esse nível de evolução.

Por que as mulheres foram queimadas? Porque eram consideradas bruxas. Hoje não podemos queimá-las, mas podemos rejeitá-las. E isso porque ainda não sabemos, embora pensemos que sabemos, que somos todos iguais nas diferenças. E só quando soubermos o que somos, saberemos respeitar as diferenças. E só assim saberemos orientar, sem dirigir, para sairmos do mundo do crime, como crime e não como meros arranhões na ética. Mas temos que aprender, ainda na infância, que: “A educação é como a plaina: aperfeiçoa a obra, mas não melhora a madeira”. A madeira aperfeiçoa-se com e evolução racional. Não há outro caminho. A Ivete Sangalo disse que: “O segredo está em não confundir sucesso com notoriedade”. E só seremos realmente bem sucedidos quando nos racionalizarmos e aprendermos a ser o que somos no que somos. Pense nisso.

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