A água não tem forma – Oscar D’Ambrosio*
O filme ‘A forma da água’, de Guillermo del Toro, parece ter sido feito como uma luva para a cidade contemporânea. O amor entre uma sedutora criatura fantástica, espécie de Iara masculina, presa em um laboratório dos EUA nos anos da Guerra Fria, e Elisa, faxineira muda com uma vida cotidiana sem maiores atrativos, torna-se um relicário.
A obra tem tudo para ser venerada, pois conta uma história de entrega entre dois seres que parecem estar muito além das vicissitudes contemporâneas, em que o discurso produtivo caminha ao lado da desconstrução das sensibilidades e onde a discordância é interpretada como resistência.
Contam que o escritor argentino Jorge Luis Borges, ao ser perguntado como se sentia ao assumir a direção da Biblioteca Nacional de Buenos Aires, respondeu apenas que havia se preparado a vida inteira para isso e que, ao ser chamado para dar uma palestra sobre William Shakespeare, apenas disse o nome do bardo inglês, se levantou e saiu.
O filme, considerado por muitos como favorito ao Oscar deste ano, caminha nessa mesma direção. Temos dois personagens que se encontram na plenitude por parecerem feitos para isso. Suas histórias anteriores, que pouco conhecemos, os formaram assim – diferentes; e fortes em sua aparente fragilidades de prisioneiro e de empregada.
E eles também não precisam de palavras. A criatura misteriosa acorrentada numa piscina urra de dor ao ser torturada e Elisa não pronuncia palavra alguma. Mesmo assim, ambas se comunicam em um universo de possibilidades de entendimento do mundo. Seus não falares são inteligências do cotidiano a serem desvendadas.
O filme nos lembra ainda o piloto Nelson Piquet em dois episódios. Ao ser perguntado sobre a quem dedica seu primeiro título mundial, disse: “A mim mesmo” e, certa vez, em uma entrevista que o incomodou, o filho tirou da tomada o cabo de luz dos refletores de iluminação.
Elisa e a criatura representam essa ambiguidade. Sozinhos por natureza, aparentemente não tem com quem contar. No entanto, para conseguirem realizar o seu amor, necessitam de três ajudas: um publicitário homossexual com desenhos vistos como ultrapassados perante a entrada da fotografia na área; um cientista russo, que coloca o conhecimento acima das rivalidades ideológicas, e uma colega faxineira que começa a descobrir que pode se libertar do estigma de ser mulher, trabalhadora e negra.
Sim, a água não tem forma. A forma é dada por nós e por nosso conceito de humanidade, qualquer que ele seja. *Jornalista, mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, é Doutor em Educação, Arte e História da Cultura
Os imigrantes venezuelanos em Boa Vista – Dolane Patrícia*
O Estado de Roraima possui um novo cenário com a chegada diária de venezuelanos vindos de Santa Elena, na Venezuela, cidade a 15 km da fronteira com o Município de Pacaraima.
Localizada no Norte da América do Sul, a Venezuela é conhecida por sua indústria de petróleo, além da biodiversidade e recursos naturais abundantes. No entanto, há mais de uma década, a economia venezuelana sofre com a inflação mais alta da região e a crise se agravou com o passar dos anos.
O atual presidente Nicolás Maduro era Ministro das Relações Exteriores de Chávez e já havia sido presidente interino da Venezuela, quando o mesmo se licenciou para tratamento médico em dezembro de 2012.
Após a morte de Chávez em março de 2013, Maduro foi eleito com 50,66% dos votos. Ficou no comando de um país em crise, com alimentos escassos, violência exacerbada e descontentamento da população.
A Venezuela então mergulhou em uma crise sem precedentes. Assim, a solução encontrada pelos venezuelanos para fugir de uma economia em coma foi se evadir para o país vizinho…
Nesse cenário aparece Boa Vista, capital de Roraima. A cidade era pacata, praticamente não existiam pedintes nas ruas, hoje é palco de uma cena dantesca!
Mais de 70 mil venezuelanos já adentraram na cidade de Boa Vista e se aglomeram em ruas e praças da cidade, considerando que a população da Venezuela é de cerca de 30 milhões de pessoas… Parece que ainda falta muita gente chegar…
Houve quem declarasse que não iria impedir os venezuelanos de entrar no Brasil, mas bem que poderia dar condições para isso, porque ficou ruim para todo mundo, pelo menos aqui na porta de entrada!
Já não havia emprego para toda a população existente na cidade, agora a situação ficou pior, os venezuelanos começaram a oferecer mão de obra barata, colocando em situação difícil pedreiros, diaristas e outros profissionais que viram o preço dos seus serviços despencarem, em razão da grande procura por emprego.
Mas esse não é o único problema, a violência cometida tanto por brasileiros, quanto por venezuelanos aumentou demais, o que era de se esperar, considerando o grande aumento no número de habitantes desempregados e sem perspectiva. Além disso, cresce o número de pessoas que na ausência de um emprego optam pelo tráfico de drogas e prostituição, inclusive de crianças.
A situação ainda é agravada pelo fato de que, com o aumento diário de venezuelanos legais e ilegais atravessando a fronteira com o Brasil, cresce o número de crianças venezuelanas desnutridas e com o aumento da prostituição, aumenta também o número de venezuelanas grávidas, superlotando a maternidade existente na Capital.
Assim, os venezuelanos tomaram as praças, até então cartão postal da cidade de Boa Vista, os abrigos destinados aos mesmos, não possuem cama, nem água e nem comida, sendo mantidos por entidades religiosas e habitantes que se comovem com a situação, mas longe de atender a demanda existente.
A verdade é que nem o Estado e nem o Município tem condições de dar aos nossos vizinhos melhores condições de vida, mas poderiam ser mais explícitos quanto a realidade dos fatos, expor a situação em Brasília e exigir providências.
Agora, venezuelanos e boa-vistenses estão com sérios problemas, porque a situação está insustentável para ambos e todos os dias chegam milhares. Até quando as autoridades competentes farão “vista grossa” para estes refugiados?
Ajudar, a população ajuda, mas se nem o Estado e Município e muito menos as ONGS estão conseguindo controlar a situação e ajudar esses refugiados, como a população conseguiria, ainda com toda boa vontade que tem de ajudar?
Muitos chegam sem nem falar direito a nossa língua, muitos chegam sem ter a menor noção de onde ir nem do que fará para sobreviver e muitos, não todos, partem para a solução mais rápida, furtos, roubos, arrombamentos nos bairros e até mesmo no centro da cidade.
Comovidos, alguns professores da UFRR tentam ensinar a língua portuguesa para facilitar a busca por emprego. Mas ainda assim, a realidade é que não tem emprego para todos, mesmo que se coloquem aos montes nos semáforos com placas em papelão escritas: “PRECISO DE EMPREGO”, “PRECISO SUSTENTAR MEUS FILHOS”!
A opinião da população se divide quanto a situação dos venezuelanos existentes na cidade, mas enquanto isso, cada dia eles se multiplicam e se multiplicam também o número de crianças implorando por comida e o número assusta!
Os verdadeiros responsáveis precisam parar de fingir que não estão vendo e pensar: De que adianta abrir a fronteira e receber milhares de venezuelanos todos os dias? Seres humanos que estão fugindo da fome da Venezuela, para virem morrer de fome no Brasil?
Isso porque a Constituição Federal garante em seu Art. 5º, que “Todos são iguais perante a Lei sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Que vida, que segurança e qual igualdade?
*Advogada, juíza arbitral, Personalidade da Amazônia e Personalidade Brasileira. Mestranda em Desenvolvimento Regional da Amazônia pela UFRR. Site: dolanepatricia.com.br . Whats 99111-3740
A importância do livro – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“É claro que meus filhos terão computadores, mas antes terão livros.” (Bill Gates)
Não há como analisar a importância do livro para o desenvolvimento cultural da pessoa. E com este desenvolvimento desenvolvemos a mente. Na astrologia espacial aprendemos que ainda não sabemos, nem saberemos quantos dilúvios já tivemos, sobre a Terra. A Cultura Racional nos diz que estamos aqui, sobre a Terra, há exatamente vinte e uma eternidades. É tempo pra dedéu. E voltando à astrologia espacial, ela nos diz que tudo que sabemos de dilúvios é sobre o último. E mesmo assim são apenas espalhafatosas fantasias. Porque quando voltamos após o dilúvio não sabemos como começar, ou recomeçar a história. E nesses casos, nada mais fácil e comum do que fantasiar. No que somos muito bons.
Acreditamos que quando houve o dilúvio já éramos muito desenvolvidos sobre a Terra. E que já havia astronautas em missões pelo espaço. E o que você faria se estivesse nessa, e voltasse depois da Terra destruída?
Imagino que os daquela época não souberam se preparar para o futuro. Deixaram-se embriagar pela tecnologia de então. Não seria bom que meditássemos sobre isso, atualmente? Será que o envolvimento das pessoas no celular, por exemplo, não seria um exemplo disso? Será que nossos filhos e netos não estão se deixando levar pelo encanto, diante dos computadores e celulares? Cuidado, porque isso pode ser um exemplo do despreparo intelectual.
Libere o computador e dê o celular para seu filho, mas não deixe de lhe dar o livro, e orientá-lo para a importância da leitura. Porque é na leitura que enriquecemos nossas mentes. Não importa o que lemos, o que importa e interessa é o que sabemos aproveitar do que lemos. E não deixe de usar o exemplo como didática. Leia você também. Sempre há riqueza no que lemos desde que estejamos racionalmente preparados para a escolha do que nos interessa. Mas só somos capazes para escolher conhecendo o que escolhemos. Nunca despreze o valor do livro.
O conhecimento é fundamental e necessário para o nosso desenvolvimento. E é com ele que aprendemos a usar a tecnologia, sem os riscos de envolvimento doentio. Incentive seu filho à leitura. Faça isso, presenteando-o com livros. Mas não basta presentear, é necessário o incentivo à leitura. Faça isso e você se beneficiará com os benefícios que seu filho colherá no futuro. Já estamos a caminho de um novo dilúvio. Os riscos com as inclinações já registradas, no eixo da Terra, são um aviso. E não deixemos que o novo dilúvio nos pegue despreparados. Leia algo sobre isso e repasse para seu filho. Pense nisso.