Gratidão
Paulo Nicholas*
Um dia comum nascia. O sol estava alto e brilhante. Abri os olhos e, inspirando, senti-me despertado pela suave mordida do ar da manhã. Expirando, senti meu hálito quente subir como uma oração matinal. Não havia nada especial acontecendo, apenas uma suave borbulha de calma e beleza por toda parte. Um momento de paz. Senti-me feliz por poder perceber isso e ser grato.
O que significa ser grato? Ou simplesmente a palavra da moda: “Gratidão”? Não significa convencer-se de alguma noção falsa de que tudo está bem e postar uma vida feliz nas redes sociais. Viver com gratidão significa escolher concentrar seu tempo e atenção naquilo que você aprecia. O objetivo não é bloquear as dificuldades, mas abordá-las por outra perspectiva, parar e enxergar algo de bom em tudo. A contemplação aquieta a alma. Acalma as nossas mentes turbulentas, ligando-nos às coisas maravilhosamente comuns, grandes e pequenas, que normalmente podemos dar como garantidas.
Teste sentir gratidão por sua vida agora mesmo. Pense em qualquer coisa em sua vida pela qual você possa se sentir grato: O simples fato de você estar respirando ou sentir o sabor daquela comida gostosa, o sol que nasceu esta manhã ou ter alguém que ama do teu lado. Quando você está agradecido, como o seu corpo responde? Existe uma sensação de leveza? Formigamento? Calor? De que maneira expressar gratidão muda sua perspectiva? Pode haver uma conexão entre gratidão e felicidade?
A gratidão nos ajuda a perceber que nem tudo é ruim – nem o tempo todo. Praticar gratidão, especialmente pelas pequenas coisas, pode manter nossos corações abertos para a ternura em nossas experiências diárias. Há tantas coisas pelas quais devemos ser gratos e, ainda assim, descuidadamente, andando no “piloto automático”, perdemos de vista o que chamo de “maravilhas nutritivas da vida”.
O mesmo acontece com as pessoas em nossa volta. Você já catou do chão algo que outro deixou cair, cedeu sua vez no trânsito para alguém desconhecido, ou abriu uma porta para um estranho? Quando ninguém se incomoda em lhe agradecer, como se sente? Mas você já se tocou que, por vezes, também esquecemos de agradecer? Lembre-se: Oferecer nossa gratidão aos outros é uma maneira poderosa de conquistar, fortalecer e até consertar laços afetivos.
Tente ser grato. É grátis!
*Advogado e escritor
ALGO SOBRE UM CORAÇÃO AMARGURADO
Wender de Souza Ciricio*
Falar sobre coração é de uma complexidade sem tamanho. Não tem como mensurar o que o coração é capaz de fazer. Dentro dele habita um conteúdo de ideias, desejos e surpresas que nem mesmo seu dono é capaz de conhecer e de dominar. Domesticar o coração é trabalhoso.
Sem desmerecer segmentos da intelectualidade humana como a psicologia e filosofia, que também dialogam muito sobre o coração humano, a teologia, respaldada pela Bíblia, diz que o coração é enganoso, é frívolo e conduz o ser humano para aquilo que o mancha e o desqualifica. Por isso, em função dessa descrição, a Bíblia deixa claro que a intervenção de Deus se faz necessária para assegurar de que esse coração enganoso não conduza o ser para destruição, tristeza, ansiedade, maldade e perversidade. O processo de Deus para pactuar com o coração humano, conforme o cristianismo, se sustenta no plano redentor consolidado na pessoa e obra de Jesus Cristo. Através desse trânsito entre Deus e o homem e o homem e Deus, o coração encontra um norte e uma nova estrutura o faz enxergar que todo cuidado e vigilância sobre essa massa é pouco. O monitoramento e os ajustes devem ser diários e, sem exagero, para sempre, caso contrário, a tendência é do coração manifestar a bomba que o mesmo carrega todos os dias.
Voltado para esse dilema e dentro desse diálogo existe um sintoma nutrido pelo coração que faz muito mal, é corrosivo e muitas vezes fatal: a amargura. Esse sentimento tortura quem dele se apropria e quem dele está próximo. Um coração cheio de amargura evidencia o inconformismo com algum fato ou circunstância que a vida lhe impôs e que o mesmo não aceitou ou não entendeu o porquê desse fato e desse mal.
A amargura é o maior entrave para entender que no contexto humano haverá tristezas e não somente alegria, que existirá a coragem como também o medo, haverá o momento do forte, mas também o momento do fraco, que os arranhões estão programados para o decurso da vida e que tudo que é novo um dia envelhecerá. Sem entender essa dinâmica da vida a propensão de se debruçar no poço da amargura será inevitável. Poucas coisas na vida podem ser controladas por nós. Não determinamos os furacões.
A amargura não consegue entender que a pergunta errada é: “Por que tudo isso acontecendo comigo?” E que a pergunta certa é: “a fim de que tudo isso está acontecendo comigo?”. Tomado pela amargura, o coração não vislumbra propósitos em meio às circunstâncias.
No quarto de um ser tomado pela amargura nota-se nas paredes ódio, intriga, murmuração, desejo de vingança, maledicência, desespero, ansiedade e, mesmo que por meio de palavras, violência. O ambiente é carregado, pesado e de difícil convivência. A “poluição” verbal de uma pessoa amargurada é felina e nociva demais para dela partilhar e compactuar. A amargura repele as pessoas e cansa o inocente, o indefeso e o íntegro. Um coração amargurado é um coração pesado e carregar peso cansa, é insuportável.
Não deixa de ser verdade que nosso planeta produz situações complexas, desagradáveis e duras demais. Não tem como admirar um assassino, um gangster e malfeitor. Mas também não tem como fugir deles. Nutrir amargura nos faz sofrer sem que eles sofram. Sem ignorar de que o externo existe e que esse externo nos envolve e promove situações que extrapolam nosso controle, recomendo que não faça disso a justificativa para manter a amargura, mas que volte no início do texto e entenda que a aliança com Deus é o atenuante e é a cura para esse coração indolente e que tem a amargura como sintoma dessa indolência. Seja honesto consigo mesmo e busque ajuda antes de se precipitar ao erro e a maldade.
*Teólogo, historiador e psicopedagogo
fone: 98112.6086
O carro da mudança
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Devemos ser o que não somos, mas sem deixar de ser o que somos.” (Victor Hugo)
A vida está sempre exigindo mudanças. E as mudanças são necessárias para que vivamos com racionalidade. Ainda na década dos anos cinquentas, ali na descida para o Vale do Anhangabaú, saindo da Praça do Patriarca, em São Paulo, havia sempre uma exposição de arte. Eu sempre visitei aquela exposição. E foi ali que li, num quadro na parede, essa frase fantástica, do Victor Hugo. Mantenho-a na memória e uso-a com frequência. A necessidade de mudanças faz parte do Universo. E nós fazemos parte dele. Logo vamos mudar. Somos fruto do que pensamos. Então vamos amadurecer nos pensamentos.
Faz alguns anos, ouvi numa entrevista, pela televisão, com um jogador de futebol, na qual ele disse mais ou menos isso:
“…vamos viver o que temos hoje porque ninguém nunca viu um caminhão de mudanças acompanhando o dono no seu enterro.” E é precisamente isso. Vamos viver a vida atual com as riquezas que produzimos enquanto vivemos. E o mais precioso que vivemos é o nosso crescimento no desenvolvimento racional. E comecemos por não levar esse papo como religiosidade, ou coisa assim. É apenas uma opinião de como devemos viver cada vida. Porque na verdade vivemos num eterno ir e vir. Não sabemos quantas vidas já vivemos sobre a Terra.
Ame a vida. Viva-a com dignidade. E a dignidade está no respeito que temos, tanto por nós quanto pelos outros. Não há dignidade sem respeito nem respeito sem dignidade. Devemos sempre ser o melhor. No caminho do crescimento não há parada. O melhor que fizemos no final do dia é apenas parte do melhor que devemos fazer amanhã. O que nos mantém no dever de estar sempre atentos ao crescimento que só vem com as mudanças. E tudo vai depender da nossa maneira de pensar. Não perca seu precioso tempo com pensamentos negativos. Eles não levam você a lugar nenhum. Mire sempre o horizonte de sua vida. Onde você quer estar e para onde você está indo. E veja se é mesmo o que você quer.
A vida é para ser vivida. E só a vivemos quando a vivemos com amor. Ame-se para ser amado. Porque só quando nos amamos somos capaz de amar. E não considere esse papo como derramamento amoroso. É só um sentimento de engrandecimento. Não há como crescer sem amor. A brutalidade está no balaio da ignorância. E podemos, muito bem, estar sendo brutais conosco mesmo, quando não nos respeitamos como seres de origem racional. Não se esqueça de cumprimentar seu dia, quando acordar pela manhã, amanhã. Procure sempre o melhor em você mesmo. Você tem todo o poder de que necessita para ser feliz. Pense nisso.
*Articulista
99121-1460