Opinião

Opiniao 31 07 2017 4492

Vai, Safadão! – Tom Zé Albuquerque*

Existe um rapaz que se diz forrozeiro nominado de Wesley “Safadão”, que tem causado um furor, em alguns estados no Brasil, especialmente entre os jovens. Não se sabe, em verdade, o que diabos está acontecendo com a juventude brasileira.

A música brasileira na última década despencou abruptamente em qualidade. Tudo que é de mais ridículo, patético e superficial tomaram conta das locuções, ambientes públicos e festas em geral. Primeiro, o sertanejo de berros e gritos, dos pseudos artistas incrivelmente sem tino, sem voz (será por isso que precisam de outra voz em dupla?) e com letras tediosas, muito diferentes do conceituado sertanejo de raiz. Tem o tal de forró elétrico, uma música impossível de diferenciar uma de outra pela falta de diferenciação e, portanto, sem nada de conteúdo. Tem o funk que sequer temos como medir ou comentar, de tão bizarro e surreal que é.

Ultimamente surgiu uma linha de mulheres berrando em forma de sertanejo, com letras que falam de desamor, chifre, angústia e cachaça muita, avessa à música do passado em que o amor era a âncora das letras e de melodias cuidadosamente criadas. Nesse espectro, estão pessoas cantarolando que há pouco era manônimas e que se intitulam hoje de artistas; tem fracassado algumas vindas do ostracismo, anônimas e outras sustentadas pela fama de seus familiares (também resíduo), mesmo que comprovadamente não tenha talento algum. Em sua maioria, a rede globo empurra goela abaixo esse entulho na população brasileira, através de sua vinculada empresa de gravação “som livre”. Tudo é possível para uma sociedade que se curva à mídia e acata passivamente o que é incutido em sua mente, sem discernir nem refletir sobre o que é inteligente, de qualidade ou não.

Um estudo publicado pelo analista Leonardo Sales retrata indubitavelmente o declínio da música brasileira. O estudioso estudou letras e acordes, a evolução temporal da produção nacional e os respectivos ritmos. Foi constatada uma queda da qualidade desde tempos atrás, mas recuperada na década de 1980 e início dos anos de 1990, retomando ao declínio assustador até os dias atuais. “A produção de música de prateleira foi o golpe final na complexidade das composições brasileiras”, diz Sales. Para quem ouve Raphael Rabelo, Belchior, Elis Regina, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Baden Power, Cartola, Renato Russo, Djavan, Lenine, Chico Buarque, Caetano Veloso, Ivan Lins, João Bosco, Ed Motta, Toquinho, Chico César, Marisa Monte e outros tão qualificados e importantes quanto, com seus acordes únicos e harmonias herméticas, aguentar os safadões e as simarias da vida é massacrante, algo de dar inveja às piores torturas dos mais cruéis déspotas mundiais.

Ariano Suassuna, pouco tempo antes de morrer, explanou sobre a grotesca realidade da música brasileira atual, afirmando que os artistas brasileiros quando vão dar um espetáculo (pra jovens principalmente) eles fazem uma discriminação com o povo, eles baixam a qualidade achando que o povo só gosta de porcaria, e menciona seu amigo “Capiba”, ao qual ficava injuriado quando diziam que “cachorro gosta de osso”; ora, dizia ele, mas só dão osso ao cachorro… ele gosta é de comida; dê a chance de o cachorro escolher entre um filé e um osso para ver qual das opções ele se apropria. E Suassuna complementa: Não estão dando oportunidade ao povo brasileiro (principalmente aos jovens) de ter contato com o ‘filé’.

O cantor Safadão é o que tem de mais deprimente na música brasileira. O seu próprio nome já denota isso, o retrato do Brasil, de se destacar por ser safado. Ser ordinário é a esteira do sucesso… há quem acredite e defenda isso. Muitos defendem e se vangloriam do modelo “safadão” de viver. Ridículo!

*Administrador

As instituições e o Estado Democrático de Direito – Júlio César Cardoso*O nosso STF é um tribunal claudicante. Não se sabe até onde ele atua com seriedade. Parece até a reclamação que se faz: que a Polícia prende e a Justiça manda saltar. No caso, um magistrado dá uma determinação e a outra manda revogar. Não é um verdadeiro pandemônio, a nossa Justiça? Ou a política é mesmo lugar de corrupto, para justificar assim a volta de Aécio Neves ao Senado pelo ministro Marco Aurélio Mello? Veja, por exemplo, que a profusão de partidos, em ritmo crescente, não passa de um cipoal de siglas partidárias e sem nenhuma identificação ideológica de seus membros, pois os políticos têm se comportado como símios pulando de galho em galho em troca de partidos. O bem da verdade, os partidos brasileiros parecem ser de “mentirinhas”.  É censurável que lideranças petistas e a nota oficial do partido tentem desestabilizar a democracia com o propósito de não aceitar a condenação do ex-presidente da República pelo juiz Sérgio Moro. Tal insubordinação – de só acatar a absolvição completa e irrestrita de Lula – representa grave ameaça à democracia e incitação criminosa passível das cominações legais previstas nos artigos 147 e 286 do Código Penal. Lula, Dilma, Temer, Aécio e ninguém mais estão acima da lei. É muito curioso ver a oposição desejar com ardor a punição de o presidente Michel Temer ou do senador Aécio Neves. Mas a oposição finge desconhecer que as delações de Joesley Batista também incriminam de cheio Lula e Dilma como credores de 150 milhões de dólares na JBS, usados em suas campanhas políticas. As robustas provas documentais, periciais e testemunhais de delatores, que antes repartiam amizades com o ex-presidente Lula, agora são contestadas da mesma forma como ocorreu no processo do mensalão, em que o STF, de maioria de ministros de indicação do PT, julgou procedentes as acusações e provas, condenando ao xilindró uma quadrilha que conspurcava a imagem do Parlamento e assaltava a nação.

*Bacharel em Direito e servidor federal aposentadoBalneário Camboriú-SC

Perdido nas prateleiras – Afonso Rodrigues de Oliveira*“No Brasil, a cada 15 anos todos esquecem o que aconteceu nos últimos 15 anos.” (Ivan Lessa)Eu sou o cara mais antenado que alguém já conheceu. Sobretudo num supermercado. Sempre fico rodando entre as prateleiras. Às vezes até chamo a atenção dos seguranças. Dia desses ia pra casa e não teria tempo de fazer o suco para o almoço. Resolvi comprar uns pacotinhos de suco. Rodei, rodei e não encontrava os caras. Um garotão estava numa escadinha arrumando as mercadorias. Cheguei até ele e perguntei:

– Cara, onde é que vou encontrar os pacotinhos de suco?

Ele me olhou, pra ver se eu estava brincando, tocou com o dedo na prateleira e falou:

– Taqui, ó…

Tempo desses a dona Salete estava no Rio de Janeiro, e sozinho em casa me viro como posso. E não posso ficar sem banana com aveia e canela, pela manhã. Comprei a canela e a coloquei na banana. Mas foi horrível. Não deu mais pra verificar se a canela estava fora de validade.

Fui ao supermercado e peguei outro pacotinho de canela, verifiquei a validade, estava tudo em ordem. Joguei o pacotinho sobre o balcão. Quando a garota do caixa pegou o pacote foi que acordei. Eu tinha levado, e estava levando, colorau em vez de canela. É sempre assim.

Sexta-feira peguei o jornal, pela manhã. Passando pela papelaria, lembrei-me que a dona Salete me mandara comprar alguma coisa para um trabalho artesanal, em tecido, que ela estava fazendo. Parei, pensei e lembrei-me do que era. Entrei e pedi tinta para tecido. O vendedor, cordialmente, mostrou-me um cestinho cheio de frasquinhos de tinta para tecido. Aí a jiripoca piou, eu não sabia qual seria a cor. Pequei o celular e liguei:

– Tinha… Estou aqui na papelaria pra compra o material, mas não sei qual é a cor!

– Mas que cor, cara? Tem que ser branca, ora essa.

Por incrível que pareça, não tinha a tinta branca. Fiquei feliz e cheguei a casa dando uma de senho-das-alianças. Em tom de bronca falei severo:

– Como é que você me pede pra comprar uma tinta e não me diz qual é cor? E não tinha a tinta branca, na papelaria. Vou ter que correr por aí como um João-das-couves.

Ela me olhou severo e falou donona:

– Mas que tinta, cara. Eu não pedi, eu mandei você comprar cola pra tecido, e não tinta. E como é que eu ia dizer qual a cor da cola? Te manca!

– Tudo bem, eu só tô brincando.

– Ah é… Eu conheço essa brincadeira, faz muito tempo. E não deixe de comprar a cola, mas cola, tá? Porque eu preciso terminar esse trabalho.

Nessas horas eu olho pra ela, sorrio, ela tenta segurar o sorriso, mas não consegue e mais tarde vai contar o causo pras amigas. Pense nisso.

*[email protected]