Um homem do agronegócio para a pasta errada
Ranior Almeida Viana* Um tema polêmico, ainda mais em nosso Estado, são as demarcações das terras indígenas, lembrando que tem pelo menos dez estados da Federação que passam por isso. O Governo Temer sugere revisão nas regras para demarcação de terras indígenas, e o principal interlocutor neste tema é o ministro da Justiça, pois é por meio dele que o Executivo resolve essas questões.
Semana passada, mais precisamente no dia 07/03/2017, foi dada a posse do novo ministro da Justiça, Osmar Serraglio que era deputado federal pelo Paraná do PMDB. Em uma entrevista dada a Folha de São Paulo, publicada no dia 10/03/2017, ele disparou a a seguinte frase: “O que acho é que vamos lá ver onde estão os indígenas, vamos dar boas condições de vida para eles, vamos parar com essa discussão sobre terras. Terra enche a barriga de alguém?”.
Quando era deputado, tinha um grande alinhamento aos ruralistas, não é de se estranhar isso, já que seus principais doadores da última campanha eleitoral são de empresas do agronegócio, o que demonstra que ele tem que defender interesse das mesmas. Ressalto aqui que não tenho absolutamente nada contra o agronegócio, aliás, muito pelo contrário, pois o mesmo setor, segundo os dados do IBGE, foi o nosso principal fator de melhoramento dos indicadores econômicos.
Os Ameríndios estão desassistidos quando se coloca alguém com o poder de decisório de demarcação de seu espaço com apenas uma canetada, que tem essa visão reducionista: “Terra não enche barriga de ninguém”. Essa infeliz frase do atual ministro da Justiça veio deixar claro o total desrespeito e desconhecimento com o povo Ameríndio. Temos que levar em consideração as diferenças entre eles e nós.
Aproveito para trazer uma passagem do livro “A queda do céu”, do renomado Xamã yanomami Davi Kopenawa: “O pensamento deles segue caminhos outros que o da mercadoria. Eles querem viver como lhes apraz. Seu costume é diferente. Não têm peles de imagens, mas conhecem os espíritos xapiri e seus cantos.” (P. 64)
Portanto, tomara que realmente sejam dadas as boas condições prometidas na fala do ministro e que ele perceba que, além da barriga cheia, os Ameríndios precisam que seus direitos sejam respeitados e que não pense apenas nos interesses de seus doadores de campanha.
*Licenciado em Sociologia pela UERR e Bacharelando em Ciências Sociais pela UFRR.[email protected]
Pedro Nonato da Costa, o notável poeta que nos deixa para sempre
Francisco de Assis Campos Saraiva*
Foi impactante a notícia desoladora recebida na tarde do dia 11 do corrente, transmitida pela Fundação Nordestina de Cordel (FUNCOR), informando a morte súbita de seu diretor-presidente e fundador, poeta cordelista Pedro Nonato da Costa, vítima de um Acidente Vascular Cerebral, na manhã do mesmo dia, sábado, 11/03/2017. O velório foi realizado na sede da Funcor, na Rua Jornalista Antônio Diniz, 2776, bairro Parque Itararé, Teresina – Piauí. Pedro Nonato da Costa nasceu a 5 de abril de 1962, em Alto Longá – Piauí, cidade ao Norte do Estado, que dista pouco mais de 100 km de Teresina.
Mais conhecido como Pedro Costa, foi ator, poeta, violeiro, repentista, radialista, editor, produtor cultural e membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, eleito em 2001 e ocupou a cadeira 39. Era membro da Academia de Letras Vale do Longá. Foi um dos mais notáveis poetas de sua geração. Conquistou várias premiações nacionais, inclusive do Ministério da Cultura. Ele foi, também, fundador da Revista “De Repente”, a única do gênero em circulação há 20 anos. O poeta foi membro do Conselho Estadual e Municipal de Cultura do Piauí. Membro de várias academias regionais de letras. Seus trabalhos foram divulgados em todo o Brasil como Pedro Costa – O Dom Quixote do Cordel.
O Governo do Estado do Piauí manifestou seu pesar pela perda irreparável do poeta cordelista Pedro Costa, um nome expressivo da cultura piauiense, que editou a Revista de Repente, uma das publicações mais tradicionais da cultura popular e representou, com muita responsabilidade e serenidade, os poetas, cantadores e toda classe artística no Conselho Estadual de Cultura.
A Prefeitura de Teresina – Piauí associou-se às manifestações de pesar pelo falecimento do poeta, violeiro e cordelista Pedro Costa, reafirmando que o mesmo será lembrado como uma grande expressão da poesia popular, ora como autor, ora como produtor e divulgador. Foi de grande valia como parceiro em diversas iniciativas culturais, como o Projeto “Cordel nas Escolas”, laureado que foi pelo Ministério da Cultura com o “Prêmio Cultura Viva”, como membro do Conselho Municipal de Cultura.
Pedro Costa, por meio de seu trabalho invulgar, persistente, perseverante e inteligente divulgou a cultura Piauiense para todo o Brasil, através da divulgação dinâmica e relevante de seu talentoso trabalho.
O desembargador Edvaldo Moura também expressou lamentos pela morte do poeta e disse que Pedro Costa foi um artista de grande importância para a cultura popular piauiense, parceiro de primeira hora no projeto Ação Justiça Eleitoral e Cidadania e de muitos outros que ele soube honrar e dignificar. Era um poeta cordelista de reconhecidos méritos, amante da cultura e responsável pela criação da Academia Piauiense de Cordelistas, que deixou um importante acervo que soube valorizar ao longo de tantos anos, com autenticidade e a mais viva manifestação de espírito e da inteligência.
Transcorre mais de uma década que escrevo para a Revista De Repente e, mensalmente, envio uma crônica para publicação na mesma, como colaboração. Em janeiro de 2006, fui de férias ao Piauí com meu filho Carlos Eduardo Saraiva, que tinha à época 15 anos, e aproveitei para estreitar os laços de amizade pessoal com Pedro Costa, que foi um cavalheiro nos dias que ali passamos junto ao professor Wilson Seraine e Valter Alencar do Vale, que nos cercaram de gentilezas nos dias em que ali permanecemos. Foram visitas feitas a diferentes locais e famílias, que nos brindaram de apreço e amizade.
No dia 13, sexta-feira, fomos a Alto Longá, tendo o amigo Pedro Costa nos apoiando em todo o percurso. Muita cordialidade por aonde íamos passando, um preito de amizade, que até hoje guardamos com saudade. À noite comparecemos ao jantar oferecido pelo Prefeito Augusto César de Abreu Fonseca (César Sindô) e sua esposa Professora Nilde, que nos brindaram com uma linda homenagem em sua residência. Foi uma manifestação carinhosa programada pelo dileto amigo Pedro Nonato da Costa, que partiu subitamente para a eternidade, sem ter mais tempo de retribuí-lo numa visita que programava fazer brevemente a Boa Vista – Roraima. São desígnios de Deus em que o homem programa e Deus orienta de forma diferente consoante a Sua Santa Vontade. Hoje, são lágrimas que jorram a cântaros no seio da família contristada, formada pela esposa Luzia, filhos e entes queridos integrantes da mesma. A família da FUNCOR, Revista De Repente, Academia Brasileira da Literatura de Cordel, Academia Piauiense de Literatura de Cordel e a todos os conterrâneos de Alto Longá, que perde um de seus filhos mais eminentes, deixando uma lacuna de difícil preenchimento. Obrigado meu inesquecível amigo e conterrâneo Pedro Nonato da Costa pelas exaltações de amor, sublimação e grandeza que nos fez a mim pessoalmente, a minha família, a nossa amada Terra Alto Longá, ao nosso povo humilde e ao nosso Estado, reminiscências que ficarão guardadas no recôndito mais íntimo do coração de cada um.
Que o Soberano Pai Onipresente o tenha no lugar precioso reservado aos justos e a todos que fizeram cá na terra a Sua Santa Vontade. O seu trabalho cultural foi de uma preciosidade encantadora e veremos, por certo, a marca inconteste de sua fiel lembrança em todos os locais por onde haveremos de passar com júbilo e altivez, dádivas preciosas que serão deixadas com sublimação a seus descendentes. “E aquele que me enviou está comigo, não me deixou só, porque eu faço sempre o que lhe agrada.” (João 8.29).
*Oficial R1 do Exército, escritor, empresário e amigo de Pedro Nonato da Costa
Não olhe pra trás
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Países cujas constituições permitem que os políticos tenham foro privilegiado e que os próprios políticos nomeiem os juízes dessa mesma Corte, são pocilgas, hospícios legalizados em forma de nações”. (José Márcio Castro Alves) Dá pra perceber o quanto ainda temos que aprender para fazer. E o que devemos fazer é mudar o rumo da nossa política. Mas nada mudará enquanto não mudarmos a nós mesmos. Enquanto não aprendermos que, por exemplo, o voto obrigatório não faz parte da democracia. E o facultativo requer educação política e formação cidadã. E quando será que vamos sair do analfabetismo político?
Mas, mudemos o rumo da prosa. Estou ficando chato com minha preocupação. E agora foi que me caiu a ficha. Eu preciso me cuidar, senão vou acabar envelhecendo. Uma vez por ano visito meu médico.
E normalmente conversamos muito. Recentemente estive com ele e lhe falei de um comprimido que ele me receitara quando descobriu que o que eu usava não fazia mais efeito. Ele me perguntou o nome do comprimido substituído e eu fiquei gaguejando sem me lembrar, mesmo depois de usar o remédio por anos a fio. Não consegui, e o médico riu e falou pra eu lhe falar na próxima consulta, no próximo ano.
Não é nada agradável o esquecimento. E por isso sugiro que não nos esqueçamos das coisas do passado para vivê-las no futuro; desde que, claro, elas façam parte do presente. Porque é assim que vivemos o que aprendemos no passado, mas sem ficar olhando pra trás. “Varre, varre, vassourinha; varre, varre a bandalheira; que o povo já está cansado de sofrer dessa maneira”. Essa letra de música meio histriônica fez parte da campanha do Jânio Quadros para o Governo de São Paulo, em mil novecentos e cinquenta e poucos. O Jânio não foi um bom varredor, nem nós estamos sendo.
Mas não vamos esquecer o passado, para viver o presente com a dignidade que merecemos. Mas precisamos merecer. E ainda temos muito a fazer para que sejamos cidadãos, de fato e de direito. Porque enquanto formos obrigados a votar e a servir nas Forças Armadas, não seremos cidadãos. E quando formos cidadãos não precisaremos que nos obriguem a fazer o que devemos fazer por dever. O jovem servir nas Forças Armadas e votar nas eleições não é uma obrigação, mas um dever. E só cumprimos nossos deveres quando somos devidamente educados. Então vamos cuidar da educação como uma prioridade. E não devemos esquecer isso.
Vamos cuidar da nossa educação, já que os responsáveis por ela não cuidam. Vamos fazer a nossa parte com responsabilidade. E comecemos pelos nossos filhos, para que eles cuidem dos filhos deles. Pense nisso.