Carne, papelão e lama
Jessé Souza*
A frase mais perfeita sobre o governo Temer (PMDB) foi escrita no Twitter, mais precisamente no perfil @temerpoeta, postada exatamente no dia em que começou a interinidade: “Minha terra tem calheiros, onde cantam os jucás”.
Esse perfil foi criado para satirizar as veias poéticas do presidente (sim, ele é um poeta, embora muitos não saibam). Porém, essa frase resume tudo o que se pode dizer desse governo cercado por ministros, lideranças e aliados encrencados com a Justiça, com o pescoço atolado no maior caso de corrupção já registrado no país.
Curiosamente, quando toda a mídia bombardeava as peripécias desse governo, como a reforma da Previdência e a mega delação premiada da Odebrecht, na Operação Lava Jato, envolvendo seus ministros e líderes políticos, surgiu o “escândalo da carne com papelão” para desviar o foco.
Porém, o que serviria para desviar a atenção acabou por provocar um estrago na economia brasileira, com a recusa da carne e do frango brasileiros pelos países que mais importavam os produtos do Brasil. É mais uma crise provocada, desta vez pela Operação Carne Fraca, um nome bem sugestivo para a política brasileira enlameada pela corrupção em todos os níveis.
Se o nome da operação é “Carne Fraca”, ao investigar mais um escândalo de proporção internacional, fraca também é a carne dos políticos que estão no comando do país quando se refere a meter a mão nos cofres públicos, conforme vem revelando as delações premiadas da Operação Lava Jato.
Foram as seguidas e insistentes investidas aos cofres públicos que levaram o país a esse cenário de terra arrasada, na qual esses mesmos políticos sabidamente corruptos querem passar a conta para o povo, aprovando a reforma da Previdência, que visa impedir que os trabalhadores brasileiros se aposentem em vida.
Então, enquanto todos ficam perguntando qual a marca da carne que está sendo vendida no açougue ou optam por comprar peixe, os políticos envolvidos na Lava Jato tentam, de todas as formas, aprovar uma reforma política como forma de sobrevivência.
Se a população não estiver atenta a isso, pode até se livrar de comer carne estragada ou com papelão, mas não escapará da lama fétida que escorre dos ralos da corrupção. E ainda pagará caro por toda vida, pois não irá conseguir se aposentar em vida, caso a reforma da Previdência for aprovada do jeito que foi proposta pela “PEC da Morte”.
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