Meninos e lobos
Walber Aguiar*
A tarefa mais árdua do adolescente é aprender boas maneiras sem ver nenhuma Fred Astaire
Era um menino. Vendia guloseimas pela rua. Estudava e trabalhava para “ser alguém na vida”. Era o que sempre ouvia da mãe, semianalfabeta, e do pai, um agricultor que fazia bicos pela cidade, já que o campo se tornara inviável. Era mais um a encher os bolsões de miséria, a contribuir para as estatísticas da fome e do desemprego.
Escola, casa, turma da rua. O menino brincava com os outros. Assistia televisão e consumia virtualmente tudo o que aparecia nos comerciais. Tênis da moda, roupa de marca, brinquedo bonito, computador e outros artigos que surgiam de repente na “deusa dos raios azulados” e faziam brilhar seus olhos.
De menino virou lobo. Agora andava com os menores infratores. Tornara-se um deles, na ânsia de poder e de consumo. Poder que via na cara de pau dos governantes, no cinismo dos “homens públicos”, na corrupção dos que deveriam representá-lo. Poder que agora adquiria na marra, conquistado com paus, facas e armas caseiras. Consumo que percebia no estilo de vida nababesco dos que lhe roubavam a saúde, a educação, o lazer e a cultura preconizados constitucionalmente.
À semelhança de Augusto dos Anjos, num mundo de feras, ele sentiu a enorme vontade de também ser fera. De mostrar dentes e garras a uma sociedade hipócrita e sem referenciais de moral. Àqueles que mandavam fazer e não faziam. Àqueles que criavam leis para vigiar e punir, mas que, ao arrepio da lei, pisavam os códigos em nome da conveniência e do interesse financeiro. Passavam por cima de tudo e de todos diante do dinheiro e da “lei do Gérson”.
Agora queriam reduzir a maioridade penal. Responsabilizar a “matilha de meninos sujos” por todo o mal que acontecia. Vistas grossas aos verdadeiros bandidos, saqueadores do erário público, ladrões de terno e gravata, destruidores do sonho e da esperança. As verdadeiras “galeras” estavam no Congresso Nacional, traçando planos para captar mais poder e influência e não fazendo as reformas que o país precisa.
Mas, embora a estrutura perversa queira cortar o mal a partir das flores e frutos e não da raiz, ainda há lobos que se transformam em meninos. Dos bolsões de miséria eles emergem, mostrando que diamantes podem sair da lama das ruas, que o extraordinário também acontece.
Mesmo que a idade penal seja reduzida, os lobos continuarão fazendo vítimas; pois não há ninguém bom. A natureza humana é pecaminosa e má; não há nenhum inocente entre nós. Embora se reforce a segurança no combate aos infratores, há que se pensar em medidas que reeduquem as “alcatéias”, na tentativa de mostrar aos lobos que podem se tornar meninos, que podem viver com dignidade.
Era um menino. Alguém marcado pela desintegração dos laços familiares, da frustração, do medo e da desesperança. Um menino que virou lobo, um lobo que virou menino…
*Advogado, Poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de [email protected]
Igreja disfarçada
Marlene de Andrade*
Mas agora, ó Senhor, tu és nosso Pai; nós o barro e tu o nosso oleiro; e todos nós a obra das tuas mãos. (Isaias 64:8). As igrejas evangélicas no Brasil vêm crescendo muito em números, mas infelizmente, não em qualidade, pois o que está crescendo não é o Verdadeiro Evangelho, ou seja, a Boa Notícia de Deus e sim um falso evangelho cheio de sutilezas para entre outras coisas, se apropriar da fé alheia e assaltar o bolso dos fiéis. Tal fato é muito lamentável, porém essa é a realidade que tem nos rodeado, pois a cada dia novas denominações vão aparecendo a fim de, literalmente, golpear os fiéis.
Oferecem um evangelho híbrido, sincrético e pagão e lamentavelmente, essas “igrejas” não passam na verdade de grandes empresas que só visão lucros usando os crentes como consumidores de suas mercadorias falsas e ludibriadoras
Li uma reflexão interessante a esse respeito: “…nossos herói$ são os “$howmen$ “, firmado$ e sustentado$ pela fama, poder, grana e statu$. A base dele$ é a glória terrena, não a cruz sangrenta e o Cristo chagado, sofrido e moído…” Ainda completando o raciocínio asseguraram que cruz não dá para enfeitar, maquiar e glamourizá-la e que os ”herói$ são os “$howmen$ “, firmado$ e sustentado$ pela fama, poder, grana e statu$ e que a base dele$ é a glória terrena.
Nesse viés, um dia desses assisti um vídeo de uma “pastora” que explicava entre outras asneiras que agosto é um mês de desgosto porque esse mês é o do diabo. Ela só não explicou de onde tirou essa aberração.
Não fosse pouco escutar essas idiotices, assisti outro vídeo de um deputado federal, o qual é “pastor”, afirmando que demônios amam água e que 70% do nosso corpo é água e que por isso eles, os demônios, se incorporam nas pessoas tornando-as possessas. Cabe uma pergunta: por que ele ainda não está possesso? Outro pastor, conhecidíssimos quase que no mundo inteiro, “explicou” que quando a gente dá para Deus tem retorno, pois Ele passa a ter obrigação de nos ajudar. Essas palavras além de pecaminosas, afrontam a Deus que é o dono de tudo e por isso Ele não precisa da gente. Ele não tem obrigação nenhuma de nos dar nada e se Ele nos cobre de bênçãos é porque é misericordioso e não um barganhador. Temos que entender que a Palavra de Deus é perfeita, mas a vontade dEle nem sempre nos soará de forma interessante, pois muitas vezes ela é confrontadora.
*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/Anamt(95) 36243445
Eu bem que gostaria
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Aquilo que você é irá sempre desagradá-lo se você ficar preso ao que você não é”. (Santo Agostinho).
Mudanças são sempre difíceis, penosas e quase sempre cobram em preço muito alto. Daí a necessidade de estarmos sempre nos preparando para pagar o que for cobrado. Mesmo porque se não houver cobrança será por que não houve mudança. Mas, na medida em que vamos mudando, vamos verificando que os preços vão ficando cada vez mais baixos. Quando você perceber isso vai perder o medo de mudar.
Até a Natureza é mutante. A Cultura Racional nos diz disso. E porque ela é mutante e fazemos parte dela, temos que procurar mudar. Mudar a todo instante, sem parar. O caminho do sucesso é uma vereda sem fim; mas é sempre uma vereda. Cabe a cada um de nós ir abrindo o caminho que será mais largo ou mais estreito de acordo com a nossa capacidade de vencer os obstáculos.
Procure estar sempre com a mente aberta para as novidades. Nunca reaja a uma novidade. É assim que você vai crescer mentalmente a ponto de saber exatamente o que lhe convém no que lhe é apresentado. Mas sem reatividade e com amadurecimento. É aprendendo sobre as coisas que vamos saber quais as que nos servem. E só aí seremos capaz de saber o que realmente queremos. A satisfação que sentimos em fazer o que nos dá prazer, já é um sucesso. Só é bem sucedido quem é feliz. E só é feliz quem faz o que lhe dá prazer. Faça isso no seu trabalho. Se ele não lhe agrada, mude de trabalho. Se você for realmente eficiente e capaz, isso não será difícil.
Não faz muito tempo que vi uma exposição no saguão do Metrô Sé, em São Paulo, mostrando isso. Havia o exemplo do gerente de um grande Banco, que abandonou o emprego para ser palhaço de circo. Se eu quisesse ser palhaço de circo, com certeza faria isso. As coisas e os acontecimentos só nos parecem estranhos porque somos estranhos. Estamos sempre nos espelhando no que somos, e não no que queremos ser.
E por isso nunca conseguimos ser diferentes nem felizes. Quantos não deixam de se especializar numa profissão considerada humilde, para não decepcionar a família? Estamos sempre deixando que os outros decidam o que deveríamos decidir por nós mesmos. Não somos capazes de ser o que queremos ser porque não somos capazes de deixar de ser o que somos. Muitas vezes somos até bem sucedidos no que fazemos, mas nunca seremos felizes. E se não somos felizes não temos sucesso. Simplesmente não fomos capazes de ser o que gostaríamos de ser. E não saímos do universo medíocre. Pense nisso.