Opinião

Opniao 07 02 2020 9750

Acreditando na humanidade

Oscar D’Ambrosio*

Você acredita no futuro da humanidade? Então assista ao filme “Submersão”, de Wim Wenders. O consagrado diretor alemão conta a história de amor entre uma exploradora de oceanos que acredita que exista vida nas profundezas da água, mesmo sem luz e oxigênio, e um agente secreto que se disfarça de engenheiros de águas para combater uma ameaça terrorista na África.

Os atores Alicia Vikander, com sua delicada sensualidade, e James McAvoy, com ampla intensidade, apresentam personagens marcados por ideais. Acreditam piamente nas teses que defendem e isso leva a uma dificuldade de envolvimentos afetivos. Colocam suas profissões e sonhos acima de tudo. E isso traz seus ônus.

O principal está na dificuldade de acreditar nos outros. Vencido esse desafio, a mesma energia utilizada para mergulhar nas profundezas do mar ou para resistir a humilhações e torturas é utilizada com foco na possibilidade do reencontro, que, em diversos momentos, parece improvável e incerto, já que a ciência e a segurança mundial demandam muito.

O filme reacende a esperança do ser humano em si mesmo e de se reinventar emocionalmente, dando espaço a uma paixão sem perder a competência na atividade profissional. Desse modo, seria possível ser o melhor em uma área e, mesmo assim, se apaixonar. Para o cineasta, o amor é um aglutinador de forças e não uma fraqueza, algo corajoso de defender no atual mundo empresarial altamente competitivo.

*Jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

CRIACIONISMO E DESIGN INTELIGENTE

José Victor Dornelles Mattioni*

Na terça-feira (28/01/2020), o Jornal Nacional publicou uma matéria, que já havia sido realizada por outros veículos de comunicação como a Globo News, O Globo, Brasil 247, Isto É, Gaúcha ZH, Conversa afiada, Folha, Revista Fórum, sobre a crença pessoal do novo presidente da CAPES, Benedito Guimarães Aguiar Neto, na teoria do Criacionismo por meio do chamado Design Inteligente.

A reportagem citou um trecho atribuído ao novo presidente em que o mesmo defende a possibilidade de um ensino do Design inteligente na rede regular de ensino a partir de estudos científicos. Até o momento eu não encontrei o discurso de Benedito acerca do tema. Porém, a citação mencionada pelo JN cita que o mesmo defende uma visão a partir de argumentos científicos, não através do senso comum, achismos e etc. “Queremos colocar um contraponto à Teoria da Evolução e disseminar que a ideia da existência de um design inteligente pode estar presente a partir da educação básica, de uma maneira que podemos, com argumentos científicos, discutir o criacionismo”.

No decorrer dos três minutos e 47 segundos de matéria, a reportagem de Giovana Teles ouviu dois professores, Sandro José de Souza (UFRN) e Natalia Pasternak Taschner (USP), que defendem o Evolucionismo e apontaram as suas opiniões sobre as teorias Criacionistas, o que é um exemplo para a construção de uma boa reportagem, uma vez que você apresenta pesquisadores que possuem uma teoria em comum. Como o tempo para a apresentação de argumentos é curto por não ser um jornal de caráter científico, não houve menção a autores, textos e teorias que refutam a crença do professor Benedito.

No entanto, o JN erra ao não apresentar pelo menos um(a) pesquisador(a) que defende a Teoria do Design Inteligente. A repórter incumbiu para si a responsabilidade de explicar o que é esta teoria citando que esta visão Criacionista é diretamente ligada a uma visão Judaico-Cristã sobre a origem da vida, o que é um erro.

Para refutar esta ideia, nada melhor do que um defensor do Desenho Inteligente. O Professor da Unicamp, Marcos Eberlin, aponta que existe diferença entre o Criacionismo Bíblico e a Teoria do Design Inteligente: “O criacionismo bíblico parte já de pressuposto: A Bíblia tem razão, conta toda a história da humanidade, que Deus fez o universo, como Ele fez, os materiais que usou do nada (…) Conta toda a história da humanidade e projeta esta história para o futuro. Então, o criacionista bíblico já tem um pressuposto e busca na ciência evidências para corroborar a sua tese. A Teoria do Design Inteligente começa do outro lado declarando que nada sabe, então ela não tem nenhum pressuposto se foi Deus ou não foi Deus; ela não sabe se a Bíblia tem ou não tem razão; ela não sabe se foram ações naturais ou uma ação inteligente. Então ela só declara ‘só sei que nada sei’, e vou seguir as evidências científicas; se foram forças naturais, eu direi. Se foi uma ação inteligente, eu direi (…) então este é o jogo legítimo da ciência. Eu não estou dizendo que o criacionismo bíblico não seja um empreendimento válido, mas ele não se encaixa dentro de uma pesquisa científica autêntica porque você não parte de pressupostos”.

Nada melhor do que um criacionista para citar que o Design Inteligente não é, necessariamente, vinculado aos textos bíblicos.

Ao ler as várias páginas do currículo, eu não encontrei no seu Lattes as palavras Jesus, Deus, Evolucionismo, Criacionismo, Darwin, mas 11 áreas de pesquisa como Processamento e Transmissão Digital de Voz, Redes Neurais, Processamento Digital de Sinais de Voz e de Áudio, Síntese de Fala, por exemplo. 

Destaco que a matéria do jornal Nexo, que segue uma linha crítica a ideia Criacionista de Benedito, está mais bem elaborada do que as que foram realizadas pelo JN, Globo News e Folha. 

Embora o novo presidente não tenha concedido entrevista ao Jornal Nacional e à Globo News, Benedito falou ao jornal Gazeta do Povo, onde enfatiza que não haverá uma política de incentivo à privatização das universidades públicas e a uma disseminação ditatorial do pensamento Criacionista a partir do Design Inteligente.

Logo, em tempos de polarização e matérias rasas, parte da imprensa preferiu analisar um ponto de vista sobre como Benedito acredita que a vida tenha surgido do que destacar as suas áreas de pesquisa e o que podemos esperar da sua gestão à frente da CAPES como os cortes e contingenciamentos das verbas do governo federal ao órgão.

*Historiador

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Cada um na sua

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Meu senhor, se nós pensássemos exatamente do mesmo modo, um de nós seria desnecessário.” (Lady Winston Churchill)

Madame Churchill disse isso respondendo a um repórter quando ele lhe perguntou se ela tinha os mesmos pensamentos do seu esposo, Winston Churchill, na política. Simples pra dedéu. Seus pensamentos são seus, e de mais ninguém. Afinal, v
ocê é o que você pensa. E quando não mantemos esse controle na nossa maneira de pensar, acabamos pensando que somos o que não somos. Muito cuidado quando estiver se sentindo superior a alguém. Afinal, somos todos iguais, desde que respeitemos as diferenças. Até podemos não concordar com os pensamentos de outra pessoa, mas temos que respeitá-los. Senão seríamos todos iguais. E você não quer ser igual àquele cara, quer?

Respeitar os pensamentos dos outros nos leva ao crescimento mental e racional. Quando aprendemos a respeitar, estamos criando o campo do respeito mútuo. Porque passamos a ser respeitados, porque respeitamos. Que é o meio mais eficiente para a construção do respeito. E onde há respeito não há contradições vulgares. Então vamos nos preparar para a educação própria. É quando nos educamos na Universidade do Asfalto. Onde aprendemos a aprender no que vivemos como ensinamentos. Por que criticar quando devemos analisar o que queremos criticar e entendê-lo com racionalidade? Quando for criticar alguém, reflita, e se quiser mesmo criticar, critique o ato e não quem o praticou. Porque é assim que passamos a lição no nosso dia a dia.

Quando você acha que não faria o que alguém fez, com certeza ele acha que não faria o que você fez ou faria. A roda-gigante do viver. E é nela que podemos a contemplar o horizonte e ver o que devemos fazer da próxima vez. O que nos leva a aprender com os erros. E não se iluda, porque você, como eu e todos os seres humanos, está errando a cada momento na vida. Se não fosse assim não aprenderíamos a viver. Então vamos aprender aprendendo a não nos aborrecermos com os erros, tanto os nossos quanto os dos outros. E isso não significa ignorá-los, e sim não se influenciar por eles.

“Errar é humano. Insistir no erro é estupidez.” Eu ouvi isso, dos meus pais, há mais de oito décadas.

Valorize mais a sabedoria que veio de pensadores que não sabiam que eram pensadores. Porque a cultura está pairando na sabedoria da simplicidade. Tudo de que você necessita para ser feliz está em você. Valorize-se acreditando nisso e explorando, através dos seus pensamentos, o que você tem de mais valioso. Valorize-se para viver a vida como ela deve ser vivida. Você pode, se achar que pode. Pense nisso.

*Articulista

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99121-1460