O líder nato é seguido, admirado, serve como exemplo e uni pessoas de comportamentos e pensamentos totalmente diferentes. Quando isso é abalado, temos a possibilidade de que erros passem a ser moedas de troca, onde o superior trabalhará para permanecer nessa posição e os abaixo dele, poderão herdar responsabilidades que colocam em risco a reputação, a história e o comprometimento de uma equipe. A partir daí, viveremos a cultura da transferência de responsabilidade e a criação de um ambiente de alto risco e insalubre.
Existe uma frase bastante propagada pelo mundo ao longo dos anos, e proferida pelo ditador romano Júlio Cesar, que diz: “A mulher de Cesar não basta ser honesto, deve parecer ser honesto” e será a base da discussão do nosso artigo de hoje.
Não há dúvida de que nossa reputação está intimamente ligada as nossas atitudes. Ao longo da nossa vida, como todo ser humano, somos afeitos aos erros e, desde que não comprometa a vida dos outros, podem ser devidamente deixados em um lugar onde poucas pessoas tenham acesso e, portanto, não terá problemas em relação a sua reputação, porém, quando o erro foge à normalidade, tenha certeza que sua reputação estará em perigo por mais que queira guardar seus erros em um cofre com muitos segredos.
Há muito tempo as pessoas escolheram criar e usar bodes expiatórios com o intuito de tirar de si e jogar no outro a responsabilidade por erros, já que o acerto é egoísta e na maioria das vezes as pessoas não compartilham. Quando as pessoas erram, de imediato tentam identificar desculpas e culpados, mesmo que o grande responsável pelo erro seja ela mesma, que numa tentativa desenfreada de se resguardar não pensa duas vezes em acabar com a vida do outro. Parece exagero, mas isso já foi literal no século II depois de Cristo e infelizmente, acho que ainda acontece nos dias de hoje.
Aqui vem à tona um dilema que sempre levanto sobre o RESPEITO e o MEDO. Tem pessoas que usam a força para subjugar quem está abaixo delas e as coloca em situação de total temor e condicionadas a assumir papéis para resguardar seus superiores e salvar seus empregos. Do outro lado, temos líderes que conquistam a todos pelo exemplo, pela forma cortes de conduzir as relações, de atrair a equipe dando a ela créditos pelos resultados alcançados e fazendo com que se sintam valorizadas. Quem trabalha dessa forma, pode até errar, mas seus erros são minimizados em função do muito que já foi feito pelas pessoas.
O competente não tem medo do erro, isso faz parte da força de superação e resiliência, características de um líder. O incompetente tem que creditar sempre a alguém a sua ineficiência, esquecendo que a falta de resultado não irá penalizar apenas o “bode expiatório”, mas sim dezenas, centenas, ou quem sabe, milhares de pessoas que dependem daquela organização. Quem usa da estratégia de bode expiatório pode ser um grande assassino de sonhos.
Veja o que diz a lei 26, do livro “As 48 leis do poder” de Robert Greene:
Lei nº 26 – Mantenha as mãos limpas: Você deve parecer um modelo de civilidade eficiência: suas mãos não se sujam com erros e atos desagradáveis. Mantenha essa aparência impecável fazendo os outros de joguete e bode expiatório para disfarçar a sua participação.
Hoje, já existe o que as pessoas chamam de “Revés da justificativa de Cesar”. No mundo em que a tecnologia nos vigia a toda hora “não basta parecer honesto”, é preciso “ser honesto”, diferente do que dizia o ditador romano Júlio César.
Quando a imagem criada, difere do discurso e da prática executada, a desconfiança encontra o ambiente ideal para si instalar.
O conflito ético entre ser honesto e apenas parecer honesto envolve a questão da autenticidade e integridade já tratada em artigos anteriores. Ser honesto implica em agir de acordo com princípios éticos, dizendo a verdade e agindo com sinceridade e transparência. No entanto, quando alguém se preocupa apenas em parecer honesto, pode estar mais focado em criar uma imagem ou aparência de honestidade, sem necessariamente agir de forma ética. Isso pode levar a comportamentos enganosos, manipuladores e até mesmo fraudulentos, comprometendo a confiança e a integridade nas relações pessoais e profissionais. O conflito ético surge quando a pessoa se vê diante da escolha entre agir com honestidade ou apenas fingir ser honesta para obter benefícios pessoais. Nesses casos, é importante refletir sobre os valores éticos e as consequências de tais escolhas, buscando sempre a integridade e a autenticidade nos seus atos.
O mais grave dessa questão não está no tentar esconder os seus erros, mas sim quando se chega ao absurdo de querer transferi-los. Normalmente essa transferência, também conhecida como “Busca de Bodes Expiatórios”, recai sobre as pessoas mais fracas, com maior distanciamento dos líderes e que por isso são resolvidas na base da força, pressão e ameaça.
Uma postura baseada na busca desmedida pelo poder, com o intuito de se preservar usando como artifício a transferência de responsabilidade é uma das atitudes mais repugnantes de um ser. Por trás dessa atitude identificamos pessoas cujos valores éticos e morais foram deixados pelo meio do caminho ou melhor, nunca existiram.
Você pode desejar crescer, ascender profissionalmente, chegar ao poder, mas não é necessário que você tenha que destruir sonhos e a reputação alheia. Use a sua competência como grande marca e seu grande escudo, trazendo para você o que chamamos da “Lógica do Artista”, ou seja, desenvolva suas tarefas de forma tão excepcional que mesmo quando você errar, as pessoas, ainda irão aplaudi-lo. Estar em um time significa fazer de tudo para alcançar a vitória, de todos e não apenas do treinador. Quem está acostumado a ganhar sozinho e a eleger os outros para assumir sua incompetência, está fadado a uma grande decepção, descobrir que ninguém faz nada sozinho, que tentar fazer os outros de “Imbecis úteis” é no mínimo expor o seu pior lado para que muitos o veja e queiram total distância de um ser que nada agrega.
Não busque ou use a fragilidade de ninguém para corrigir os seus erros. Errar todos erram, mas transformar a repetição de erros em eleição de bodes expiatórios é no mínimo ignorar que entre um dia e outro, temos uma bela noite no meio.
O mundo não é dos PHD’s em esperteza. O mundo deve ser dos honestos e verdadeiros. Um dia a desonestidade é descoberta e a vergonha vem à tona. A honestidade vira referência para gerações e enobrece a alma, enquanto a os espertos corrompem e se deixam ser corrompidos.
Não apenas pareça honesto, suas atitudes têm que confirmar a honestidade: Seja um exemplo, seguido e admirado. Use a civilidade, eficiência e foco nos resultados e você não sujará, com erros e atos desagradáveis sua reputação. Mantenha essa aparência impecável e intocável trazendo as pessoas para o seu lado, para que toda e qualquer dificuldade vire uma oportunidade de crescimento para todos. No exercício da liderança a honestidades é uma inspiração. Lembre-se: Ser honesto é fazer o certo, mesmo quando ninguém estiver olhando.
Por: Weber Negreiros