Jessé Souza

Os historicos problemas em tempos de chuva e o lampejo da piscina em J 13631

Os históricos problemas em tempos de chuva e o lampejo da piscina em J

Jessé Souza*

Embora as chuvas tenham dado uma trégua ao longo da semana que se passou em algumas regiões ao norte do Estado e na Capital, o período de inverno chuvoso praticamente  já começou em boa parte de Roraima. Significa que, novamente, assim como ocorre em outros anos, está declarado o período de sofrimento das populações interioranas, especialmente pequenos produtores rurais que dependem das estradas e vicinais para transportar seus produtos agrícolas.

O que historicamente surpreende é a incapacidade dos administradores públicos (incluindo os prefeitos do interior) de programarem uma ação de governo eficiente para recuperar as estradas e pontes durante os seis meses de estiagem em seus quatro anos de governo. Alguns deles até têm usado o período de chuvas para justificar a não realização de obras de recuperação e manutenção, uma vez que realmente é impossível trabalhar durante o inverno roraimense.

E assim os políticos vêm engabelando a população desde muito tempo, fazendo paliativos em regiões onde há algum interesse partidário e desprezando outras, as quais são levadas nas promessas renovadas a cada período eleitoral; ou dando prioridade absoluta a obras nas regiões onde há propriedades de políticos e outras autoridades, bem como de grandes produtores aliados dos grupos políticos da ocasião.

E isso não é nenhuma novidade, cujo exemplo clássico foi a pavimentação da estrada da região do Água Boa, zona rural de Boa Vista, onde o asfaltamento encerrou-se exatamente em frente da fazenda que estava em nome do irmão da mulher do governador da época. Esse caso tornou-se emblemático em 2013 porque esta fazenda, onde foi construída uma piscina em “J”, estava no centro do escândalo sobre a distribuição de centenas de títulos fraudulentos de terras, dos quais entre os agraciados estavam políticos, juízes, policiais e outras autoridades.

São esses tipos de agraciados que sempre acabaram sendo beneficiados por obras de pavimentação da estrada de acesso a suas propriedades, seja em qual região for, pois não tarda para um parlamentar apresentar emendas para a realização dessas obras. E as regiões onde estão famílias de pequenos produtores, populações isoladas e desprezadas eleitoralmente ficam na buraqueira e na poeira durante o verão e no atoleiro durante o inverno, além de pontes quebradas e bueiros rompidos.

Novamente, as populações interioranas estão enfrentando as consequências dessa política de agraciados que foi instalada desde os tempos de Território Federal. A diferença agora é que o atual governo anunciou o programa “Aqui tem obra” de recuperação de estradas. O problema é que foi lançado praticamente às vésperas do último ano de administração, não dando mais tempo de prosseguir por causa da chegada das chuvas.

E aqui surge um grande problema: não adianta mais insistir com essas obras de recuperação de estradas, vicinais e pontes, pois as fortes chuvas irão destruir tudo o que for feito a partir daqui, especialmente obras de terraplanagem e cabeceiras de ponte. Infelizmente. Ou o governo suspende tudo, a fim de evitar mais disperdício de recursos públicos, ou quem mora no interior irá pagar mais uma consequência, uma vez que irão surgir novos atoleiros ainda piores.

O que precisa ser feito, neste momento de chuvas, é disponibilizar máquinas de sobreaviso nas regiões mais críticas para socorrer as populações para que não fiquem isoladas ou para que não sofram ainda mais com os atoleiros que fatalmente se formam a cada período de inverno. Não adianta ficar querendo mostrar serviço para ser exibido em institucionais, já que as obras iniciaram tardiamente, coincidentemente com o ano eleitoral.

Se os idealizadores desse programa de recuperação de estrada pensaram que poderiam realizar tudo no último ano de governo, então planejaram muito mal. Se arquitetaram tudo isso de forma pensada, então estaríamos diante de mais  um engodo. Porém, se a suposta enganação irá funcionar ou não, somente as pessoas que estão vivendo essa situação poderão responder em um futuro bem próximo.

Por enquanto, quem está com o poder é a força da natureza. E contra ela não há como lutar, especialmente quando tudo é feito de forma improvisada ou mal planejada na base da velha política.

*Colunista