JESSÉ SOUZA

Os números frios e o apagão das estatísticas que alimenta o silêncio

Jessé Souza*

O Estado de Roraima não é atingido somente por constantes apagões nos serviços de fornecimento de energia, internet e água. Há um retumbante apagão quando se tratam de dados estatísticos principalmente sobre a violência que se abate sobre a população roraimense. Quase nada se tem conhecimento oficialmente a respeito da criminalidade.

Não se sabe qual o nome do milagre, mas a Polícia Civil foi a primeira instituição a divulgar uma estatística oficial nos últimos quatro anos apontando um recorde de apreensões de drogas em Roraima este ano em relação ao ano anterior. E só. Mas, a partir daí, quando a questão do tráfico se intensifica, já se pode imaginar o nível de crescimento de outras mazelas que vem a reboque.

Logo, é possível perceber que as autoridades não gostam de apresentar estatísticas. Não porque elas odeiam trabalhar. Não só por isso. Mas porque sabem que é uma técnica infalível a de alimentar apagões de dados e de informações, uma vez que, se não há números apontando mazelas, a tendência é achar que não há nenhum problema.

Da mesma forma elas sabem que, se não há imprensa denunciando ou noticiando algo, cria-se uma sensação na opinião pública de que nada está ocorrendo, ou seja, que estaria tudo dentro da normalidade. Significa que silenciar é a estratégica mais eficiente que pode existir em um governo que quer esconder suas mazelas e suas incompetências.   

Quando a estratégia do apagão de dados e do silêncio não funciona, há ainda a tática do uso de processos judiciais para meter medo em quem denuncia e provocar a autocensura, ou seja, impor o silêncio pelo medo para que as pessoas calem temendo receber um processo. Mais uma vez, uma prova de que o apagão de dados e o silêncio são a maior arma de maus políticos e maus governantes.

Então, a divulgação da estatística de apreensão de drogas só ocorreu porque os números mostram um lado positivo da polícia, mostrando que ela está atuando e que o governo está fazendo algo. No entanto, os frios números dessa ação positiva oculta a falta de dados das consequências da alta circulação de drogas em Roraima e da forte atuação do tráfico praticado pelo crime organizado. A criminalidade atinge em cheio outros setores da sociedade.

Fecharemos este ano não apenas com números recordes de apreensões de drogas, mas também de homicídios, de violência contra a mulher e a infância, bem como de furtos e roubos (lembrando que está se tornando comum casos de sequestros); e isso sem contar com as apreensões de arma de fogo que se tornaram uma constante, bem como as mortes no garimpo ilegal.

Se existirem estatísticas sérias (elas ainda vão surgir), os dados vão mostrar que estamos vivendo um momento delicado, pois ainda estão inseridas nesse grande contexto a imigração desordenada e a atuação do garimpo ilegal, que potencializam a criminalidade. Infelizmente, tais estatísticas só começarão a ser divulgadas a partir do próximo ano ou daqui a dois anos.

Por enquanto, o cidadão precisa observar a realidade que o cerca com olhares críticos, pois ele só começará a enxergar o que está sendo oculto pelo governo quando passar a ligar os pontos de matérias policiais divulgadas isoladamente. Mas quem terá tempo para ser crítico em um Estado onde a Educação é palco do caos e da corrupção?

*Colunista

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