A construção do Forte São Joaquim em 1775 às margens do rio Tacutu, na confluência com o rio Uraricoera, foi um marco decisivo para o domínio dos portugueses em todo o vale do rio Branco.
Os militares do Forte traziam suas famílias e ao longo do tempo casaram entre elas. Assim, os oficiais, sargentos, cabos e soldados permaneceram na região, constituíram família e deixaram descendentes.
Em 1779 os portugueses, tanto do Forte, quanto outros que estavam chegando, começaram a instalar pequenas povoações na região e a recrutar os índios macuxis do rio Essequibo na cabeceira do rio Rupununi (na Guiana) e os índios da aldeia do Lago Amacu (na Venezuela).
O Forte teve como comandantes: Capitão Phillip Sturm (1775), Capitão Nicolau de Sá Sarmento (1787), Capitão Inácio Lopes de Magalhães (1830), Capitão Ambrósio Aires (1835), Capitão José Barros Leal (1839), Major Coelho (1842), Capitão Bento Ferreira Marques Brasil (1852) e o último o Cabo Pedro Rodrigues Pereira (1889).
Neste contexto se faz necessário registrar a história do frei José dos Santos Inocentes, cujo nome original era José Batista Mardel. Nasceu no Pará e é considerado um dos grandes heróis da história do Amazonas. Foi soldado, estudou para ser padre, plano que deixou ao apaixonar-se e casar-se com a jovem Maria Carmelita, com quem teve um casal de filhos: Carlos Batista Mardel (o major Carlos Mardel, nascido em 1798, e a filha Carmelita, nascida no ano seguinte).
Porém, quando do nascimento da filha, a esposa faleceu. Consternado com a perda, José Batista Mardel entregou o casal de filhos aos avós das crianças e voltou para o convento, consagrando-se frade, e adotou o nome de Frei Jose dos Santos Inocentes.
No ano seguinte, 1799, Frei José veio para o vale do rio Branco (Roraima), onde estava instalado o Forte de São Joaquim, cujo comandante à época era o capitão Nicolau de Sá Sarmento, que o nomeou como “Capelão do Forte” (o padre geral).
Em 1827 o seu filho, o major Carlos Batista Mardel, deixou o Pará e veio para o Forte São Joaquim onde encontrou o seu pai (frei José).
Em 1832, Frei José dos Inocentes deixou o Forte e foi para a província do Acre, depois Bolívia, e retornou ao “Lugar da Barra”, atual cidade de Manaus, onde passou a exercer a função de Vigário Geral. No entanto, além do oficio religioso, engajou-se na luta pela independência do Amazonas em relação ao Pará.
Antes de falecer em 1852, o Frei José dos Inocentes viu seu sonho realizado, pela Lei provincial de nº 582, de 05 de setembro de 1850, de autoria do deputado João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha, a qual elevava a então Comarca do Alto Amazonas à categoria de Província.
A filha de Frei José dos Inocentes, Maria Carmelitana, casou-se em Manaus com um jovem da Silva Ramos.
Quanto ao seu filho que havia ficado no Forte São Joaquim, no vale do rio Branco, o Major Carlos Batista Mardel, este passou a integrar a tropa de oficiais do Forte e tempos depois se casou com a índia da etnia Tucano, a jovem Geminiana Cândida. E, desta união nasceu a filha Liberata Batista Mardel.
O capitão Inácio Lopes de Magalhães nasceu no interior Ceará, na Fazenda São Clemente de Barros, no dia 14 de maio de 1805, e era filho do casal português Domingos Alves de Magalhães e Frederica Arruda de Magalhães.
Ao término do seu tempo de comando no Forte São Joaquim, o capitão Inácio Lopes de Magalhães, junto à esposa Liberata Mardel de Magalhães, instalou uma fazenda às margens do rio Branco, a qual deu o nome de: “Fazenda Boa Vista”. Em torno desta Fazenda formou-se uma Vila, que se tornou uma Freguesia e em 1890 o lugar se tornou o Município de Boa Vista, hoje a capital do Estado de Roraima. Pena que ele não viu a sua Fazenda chegar a este estágio de desenvolvimento, pois faleceu antes em 1881.
O casal Inácio Lopes de Magalhães e Liberata Batista Mardel de Magalhães teve oito filhos: Carlos, Francisca, Alberta, Manoel, Júlia, Januário, José Lopes e Prudência (todos com o sobrenome: “Mardel de Magalhães”). Eles deram origem a tradicional e nobre “Família Magalhães” em Roraima.
O Major Carlos Batista Mardel, após o serviço militar, passou a dedicar-se ao comércio de mercadorias importadas de Belém do Pará e de Manaus, em demoradas viagens de barco até Boa Vista.
O major Carlos Mardel fundou sete Fazendas na região do rio Cauamé: Monte Cristo; Nova Olinda; Monte Alegre; Santa Maria; São Salvador; Caranã e Boca do Auau. E, na região do Amajari, três Fazendas: Graciosa, Monte Verde e Arapiri.
Um dos netos de Inácio Lopes de Magalhães é o Horácio Mardel de Magalhães (filho de Carlos Mardel de Magalhães e de Eliza Rodrigues Brasil).
Sua história, contarei na próxima edição.
Publicidade
Publicidade