Jessé Souza

Os tapumes da vergonha 6003

Os tapumes da vergonha A ação da Prefeitura de Boa Vista em cercar com tapumes duas praças públicas com os venezuelanos acampados pelo lado de dentro é o maior exemplo da incompetência do poder público municipal em lidar com a questão do êxodo dos estrangeiros para a Capital do Estado. Podem ser considerados como os tapumes da vergonha para a sociedade roraimense ou da falta dela por parte das autoridades.

Os tapumes acabam por deixar os venezuelanos “invisíveis” aos olhos da população, como se eles não existissem mais no cenário urbano deprimente que se formou nos espaços públicos, graças à falta de ação rápida principalmente das autoridades federais, que demoraram a estender os braços para os problemas de Roraima.

O que a Prefeitura fez foi, na verdade, criar campos de concentração de venezuelanos em dois pontos importantes da cidade, um na entrada principal de Boa Vista, na Praça Simón Bolívar, para onde convergem as BRs 174, de acesso a Manaus (AM) e Venezuela, e 401, de acesso à Guiana.

A outra praça, a Capitão Clóvis, uma das mais antigas de Roraima, fica na Praça do Centro Cívico, onde estão localizadas as sedes dos principais poderes constituídos, o Executivo, o Legislativo e Judiciário, além de ser a porta de entrada para o mais antigo centro comercial de Boa Vista, a Avenida Jaime Brasil.

Com esses espaços cercados, os estrangeiros ficaram ocultos da visão de quem passa, impossibilitando que as pessoas visualizem o problema e acabem por achar que o problema está sendo solucionado ou que todos estivessem bem acolhidos em abrigos ou enviados para outros estados.

Mas não é isso o que está acontecendo. As crianças voltaram para os semáforos, com destaque para o cruzamento das avenidas Ville Roy e Santos Dumont, uma área central, contando com as vistas grossas dos órgãos e entidades ligadas à infância. Inclusive, há pais venezuelanos levando crianças de colo para pedir dinheiro nos bares da cidade durante a madrugada, revelando outra situação preocupante.

O número de estrangeiros perambulando pela cidade, seja em busca de trabalho ou em situação de mendicância, revela uma realidade cada vez mais preocupante. A Prefeitura apenas escondeu os venezuelanos dos olhos da sociedade, mas a realidade fica exposta nos semáforos, na porta de restaurantes, por entre as mesas de bares noturnos e largas avenidas de Boa Vista.

Os tapumes não podem cegar a sociedade roraimense, que até aqui deu exemplo de solidariedade e acolhimento por parte das ações de pessoas que não se esquivam de ajudar quem chega fugindo da fome. Porém, o poder público é lento, relapso, optando por criar campos de concentração para tentar esconder o problema. *[email protected]: www.roraimadefato.com.br