Com no mínimo seis anos de atraso, as forças policiais de Roraima decidiram deflagar a Operação Soberania, na noite de sexta-feira passada, com a finalidade de combater o crime organizado, cujos locais escolhidos para a atuação foram denominados pelas autoridades como “áreas críticas da Capital”: 13 de Setembro, São Vicente, Pricumã e Tancredo Neves .
Em tradução livre para quem não entende muito bem da realidade, uma operação anunciada às pressas para justificar a imobilidade de todos até a descoberta de um cemitério clandestino, no bairro Pricumã, de onde nove corpos foram desenterrados de covas rasas, na semana passada, numa área conflagrada por faccionados venezuelanos, realidade já conhecida de todos e amplamente repercutida a cada crime bárbaro ou tiroteio em via pública.
Tão conhecida que um Relatório de Missão Policial do Núcleo de Investigações de Pessoas Desaparecidas de Roraima (NIPD) da Polícia Civil apontou, ainda em abril de 2024, a existência desse local de desova, conforme mostrou a FolhaBV. E isso mostra o flagrante descaso com a situação, pois o fato deveria ter mobilizado, naquele exato momento, as autoridades para a questão da atuação dessa facção venezuelana, que vinha mostrando suas forças há tempos.
Assim como outras operações anunciadas em momentos críticos de outros tempos, esta provavelmente também deverá ser diluída à medida em que a população esquecer das imagens fortes de corpos em decomposição sendo retirados das covas. Da mesma forma que corpos esquartejados e desovados nos bairros 13 de Setembro, São Vicente e Calungá foram sendo esquecidos ao longo desses seis anos, sem que nenhuma providência drástica fosse tomada, a exemplo dessa Operação Soberania.
Além da falta de interesse em adotar uma política de governo para impedir o avanço da criminalidade advinda da migração em massa, inclusive com a chegada de uma facção venezuelana, é preciso também levar em conta o grande contexto da Segurança Pública em Roraima, com policiais militares e civis investigados por crimes ligados ao narcogarimpo, inclusive com membros da cúpula da Polícia Militar sob investigação da Polícia Federal por suposta participação na venda de armas e munições, além de crime eleitoral.
Assim como não é novidade a ação audaciosa de faccionados venezuelanos na Capital e interior, igualmente não é algo novo policiais sendo investigados, não coincidentemente a partir da ação do garimpo ilegal. Logo, não será esta operação realizada por uma obrigação de mostrar que as autoridades estão empenhadas após o episódio do cemitério clandestino que irá representar o marco do enfrentamento ao problema. Definitivamente, não.
Acima de tudo, será necessária uma política efetiva de governo, a começar com suas polícias não apenas equipadas (inclusive com tecnologia) e motivadas, mas principalmente livres de seus membros que estejam em conluio com o crime, seja ele qual for. Logo, antes de qualquer ação, é preciso começar a cortar na própria carne. Senão, tudo seguirá da forma que temos visto, com uns e outros policiais operacionais comprometidos em enfrentar o crime, mas cujo resultado é apenas “enxugar gelo”.
*Colunista