Pagamos o preço da idolatria
A Copa do Mundo revela não apenas o civismo pelo país, que fica enrustido no brasileiro na maior parte de sua vida cotidiana. O comportamento do brasileiro vai além da torcida pela “Pátria de chuteiras”. É um sentimento coletivo que nos une como uma nação, faz transbordar a alma por um sentimento coletivo e nos dá um descanso do fardo pesado de contribuintes, mas o futebol revela uma histeria pelo culto ao ídolo e o fanatismo doentio.
Assim como muitos defendem seus corruptos favoritos na política e os falsos pastores em suas religiões, há os que não admitem qualquer crítica ao seu ídolo no futebol, como se fossem deuses intocáveis, numa idolatria que faz muito mal para a cidadania e para a construção de uma sociedade consciente também de suas falhas. Foi isso o que ocorreu com Neymar, sem dúvida um craque, mas tratado como se fosse incriticável, acima de qualquer questionamento, por ser considerado a estrela maior do time e esperança do Hexa.
As críticas ao seu comportamento esbanjador, como se fosse um astro de cinema, e não um atleta chegando para defender um país sofrido que acabou de sair de um protesto histórico dos caminhoneiros, foram rechaçadas pelos fãs como se fossem uma ofensa a um deus intocável. Uma blindagem permitida por um comportamento exagerado de quem idolatra pessoas. E o que era uma crítica à luz da realidade brasileira acabou sendo atacada com o argumento de uma meritocracia irreal.
Até as piadas, memes e os comentários críticos à explícita imaturidade de quem ainda não aprendeu a lidar com fama, poder e dinheiro – reconhecendo a importância de seu comportamento para influenciar uma geração – foram absorvidos pelo culto excessivo. Seu teatro e destempero típico de um garoto que precisa crescer como um ídolo que deve dar bom exemplo não são de hoje.
Basta o desenrolar do jogo fugir ao seu controle e os fatos não lhes sejam favoráveis para que ele xingue qualquer um e desabe em choro quando a pressão acaba, como se fosse ainda um menino oprimido e não tivesse chegado ao topo. E assim os brasileiros criam ídolos e se ajoelham a qualquer objeto ou pessoas criadas pela mídia ou pelo culto à ostentação, mesmo que a realidade desses fãs seja a pobreza financeira.
Pela idolatria é que os brasileiros aceitam tudo que é criado pelos espertalhões ou pelos que ganham dinheiro com a exploração do fanatismo. É assim que as pessoas passam a cultuar seus corruptos favoritos, artistas fajutos, religiosos safados ou craques ostentação, que fazem os olhos brilharem daqueles que não têm e que desejam ter ou estar no lugar dos que são idolatrados.
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