Bom dia,
O presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, decidiu esticar a corda na disputa pelo comando do país vizinho contra o ditador Nicolás Maduro. Ninguém sabe ao certo qual o poder da fatia de militares que resolveu aderir ao presidente interino, mas seguramente foi o suficiente para que ele decidisse ir para rua, chamando a população a acompanhá-lo para exigir a saída de Maduro do Palácio Miraflores, onde aparentemente se mantinha cercado de militares e integrantes da Guarda Nacional que se mantinham fiéis ao um regime, com evidente repúdio popular.
O sumiço momentâneo do ditador Nicolás Maduro fez emergir como protagonista principal no enfrentamento das forças apoiadoras de Guaidó, o verdadeiro esteio que sustenta o apodrecido regime chavista: o general da reserva Diosdado Cabello, deputado da Assembleia Constituinte da Venezuela e acusado de ser integrante de cartel internacional de tráfico de drogas. Quem conhece as entranhas do regime de Nicolás Maduro diz de Cabello é seu principal fiador junto à elite militar venezuelana que se lambuza com a corrupção e o tráfico internacional de drogas. Os fatos ocorridos ontem, em Caracas, espelharam isso: enquanto Maduro ficou escondido, Cabello foi para as ruas comandar a repressão contra a população.
Diante de muitas incertezas – até o fechamento da Parabólica as informações existentes eram insuficientes para uma avaliação das forças militares favoráveis a Guaidó –, o único consenso entre especialistas era o de que a situação interna naquele país chegara a um ponto sem retorno. Se o ditador Maduro não deixar o Palácio Miraflores, deverá endurecer a reação contra Guaidó, quem sabe ordenando imediatamente sua prisão. E como reagirá a população contra uma eventual prisão do presidente interino? E a comunidade internacional – quase 60 países já declararam apoio a Guaidó – o que fará contra a prisão do presidente que esses países já declararam reconhecer como legítima?
Sejam quais forem os desdobramentos da crise venezuelana, o certo é que dos episódios registrados ontem, sairá um vencedor que deve impor – para o bem ou para o mal – medidas para acalmar um pouco a situação daquele país. E isso deverá ter reflexos sentidos aqui em Roraima. Se Maduro permanecer ditador, o fluxo de migrantes venezuelanos para Roraima deverá aumentar, mesmo que a fronteira permaneça fechada. Se Guaidó virar presidente de fato, é possível que muitos desses migrantes que já estão por aqui possam voltar para seu país, onde poderão receber ajuda humanitária por lá mesmo.
CALMARIA
A Parabólica falou ontem, terça-feira, à tarde, com uma brasileira que estava em Caracas. Ela disse que a situação nas ruas da capital venezuelana estava mais calma e que, aparentemente, o ditador Maduro teria conseguido controlar o início de rebelião de uma parte dos militares que havia decidido apoiar o presidente interino Juan Guaidó. Embora Maduro continuasse desaparecido, provavelmente homiziado no Palácio Miraflores, Guaidó não teria conseguido manter a população nas ruas. Para reforçar essa ideia de que a situação havia sido controlada pelo ditador, o ministro da defesa da Venezuela declarou, em rede nacional, irrestrito apoio das forças armadas.
COICIDÊNCIA
No meio da tarde de ontem, quando todas as atenções estavam voltadas para as escaramuças que ocorriam na Venezuela, uma edição extra do Diário Oficial da União (DOU) publicou uma Medida Provisória que abria crédito adicional no valor de R$ 223 milhões para o Ministério da Defesa. Logo a seguir, muita gente da imprensa nacional entendeu que a grana seria utilizada em possível operação militar decorrente da crise no país vizinho. Engano: embora o dinheiro liberado deva ser destinado ao Exército, sua finalidade é abastecer os cofres da operação Acolhida, que está sob a responsabilidade daquela força militar.
NADA
De novo, nenhum centavo dos recursos liberados para bancar a operação Acolhida dos migrantes venezuelanos deverá entrar nos cofres do governo do estado. Tudo será executado pelo Exército, na compra de alimentos e na manutenção de contingentes militares – ontem chegou a Boa Vista um novo contingente de cerca de 450 novos militares – e outros serviços próprios da operação humanitária. Até agora, parece que não sensibilizaram o governo federal as visitas de ministros e parlamentares que vieram ao estado, e comprovaram os esforços e os gastos do governo estadual decorrentes da migração venezuelana.
CONDENAÇÃO
Em volta com o controle rigoroso dos gastos públicos, até mesmo com a paralisia de alguns setores, o governo estadual vai ter de arranjar cerca de R$ 20 milhões para cumprir uma decisão da justiça estadual. O estado foi condenado a pagar, imediatamente, R$ 12 milhões referentes à progressão vertical de servidores efetivos da administração direta e mais R$ 8 milhões referentes ao mesmo direito a professores. É possível que o governo venha a recorrer, mas fontes da Parabólica dizem que dificilmente será bem sucedido.
DERROTADO
No encerramento da Parabólica, informações vindas de Caracas davam como certo o fracasso da tentativa de Juan Guaidó de retirar do Palácio Miraflores o ditador Nicolás Maduro. A consequência mais imediata desse fracasso é o enfraquecimento interno e externo do presidente interino e presidente da Assembleia Nacional. Internamente Guaidó começa a ser visto pela população como apenas um agitador, externamente parece ficar claro que não tem a confiança e a credibilidade capazes de convencer os militares a abandonarem o decrépito regime de Maduro.