Bom dia,
Qual o tamanho ideal da população para Roraima? Esta é uma pergunta que nunca foi discutida com mais profundidade pelos que têm preocupação em viabilizar economicamente o estado. O professor Carlo Casadio, um italiano que chegou a Roraima no começo dos anos 50 do século XX – e que se transformou num dos mestres mais amados de uma imensa geração de alunos – ficava descrente na possibilidade de desenvolvimento do então Território Federal de Roraima quando lembrava a densidade demográfica local, que à época mal chegava a 0,22 habitantes/quilômetro quadrado.
Vindo de sua Itália densamente povoada, Casadio lembrava que seria preciso aumentar a população roraimense para algo em torno de 1.000.000 de habitantes, tamanho que ele atribuía como necessário para a constituição de um mercado interno capaz de viabilizar não só a agricultura como a industrialização. O velho, e respeitado, professor de matemática do Ginásio Euclides da Cunha (GEC) nunca explicou como estimava esse tamanho ideal da população local, mas ninguém que entende um pouco de geografia econômica, e de desenvolvimento econômico, ignora que é preciso ter um mercado interno mínimo para viabilizar o progresso de Roraima. Ter gente em número suficiente é certeza de mercado consumidor e oferta de mão de obra.
A Parabólica decidiu trazer à discussão este tema do tamanho da população roraimense a propósito da grande migração de venezuelanos para cá. Estamos com um novo governador, e um novo presidente, que terão de enfrentar o problema da imensa presença deles entre nós em decorrência da crise na Venezuela, que está longe de terminar. O futuro ministro da Defesa, o general Augusto Heleno, disse ontem que as Forças Armadas continuarão a prestar serviços de acolhimento humanitário aos migrantes, inclusive com o oferecimento de abrigos e alimentação.
Que tal, aproveitar os novos tempos para dar um olhar diferente a esse problema que tanto tem afligido a população local? Que tal, fazer desse limão uma bela limonada, transformando-o de problema em solução? É claro chegam todos os dias a Roraima muitos venezuelanos. Gente de toda a natureza, alguns com toda a família, gente sem qualificação, mas muitos com boa qualificação para atividades urbanas, e especialmente rurais. Pessoas que não vieram para cá, decididamente, para pedir esmolas, mas para tentar construir uma nova vida baseada no trabalho.
Faz tempo que o governo federal prometeu montar um posto de triagem na fronteira, inclusive sob o ponto de vista da segurança – evitar a entrada de bandidos e o tráfico de drogas e armas – e também para definir um perfil completo do migrante que está vindo para o Brasil. É preciso exigir que essa tarefa seja feita realmente com competência, e comprometimento, o que permitiria definir uma estratégia de geração de emprego para absorver essa gente que quer trabalhar.
Feito este competente trabalho de triagem, restaria buscar uma parceria realmente eficiente entre o governo federal e o estadual na definição de programa e projetos geradores de emprego não só para o migrante venezuelano, mas igualmente para os brasileiros e as brasileiras desempregadas que vivem no estado. Uma sugestão para criar empregos na área urbana seria transferir da Prefeitura de Boa Vista – que até hoje não demonstrou vontade política para implantá-la – a Zona de Processamento de Exportação (ZPE) para o governo do estado, o que seria possível com a edição de uma Medida Provisória. Com cerca de R$ 100 milhões é possível implantar a primeira etapa da ZPE, capaz de gerar em torno de 10 mil empregos.
Também com algo ao redor de cem milhões de reais é possível implantar, com seriedade e competência, projetos de assentamento agrícola em qualquer região do estado, especialmente em áreas de floresta para assentar migrantes e brasileiros com vocação para o trabalho agrícola, para o plantio de algumas culturas permanentes de mercado garantidos como, por exemplo, o cupuaçu, o açaí, o cacau e a pimenta do reino, entre outros. Tudo isso é possível de negociação entre o novo governo estadual, e o federal, que a partir de janeiro de 2019, será de Jair Bolsonaro, que, pelo menos do discurso, tem Roraima no radar.
Nada disso é utopia, e especialmente se acreditarmos na promessa do novo governador do estado, Antonio Denarium, que prometeu em campanha trazer para o governo sua bem-sucedida experiência na iniciativa privada, que tem como objetivo alcançar resultados. Se essa disposição de alcançar resultados, for acompanhada de um combate, sem trégua, à corrupção é possível ter a expectativa de alguns anos de ciclo virtuoso de desenvolvimento de Roraima; diferente deste atual ciclo de crise moral e ética em que estamos metidos.
PÍFIO
Ontem, dissemos daqui da Parabólica que alguns políticos querem continuar em palanque eleitoral. O movimento de protesto contra o presidente da Assembleia Legislativa do Estado (ALE), Jalser Renier (SD), acusado de ter agredido verbalmente a prefeita de Boa Vista, Teresa Surita (MDB), foi pífio. Cerca de duas centenas de pessoas, com o comando de auxiliares diretos da prefeita e participação massiva de servidores comissionados, ficaram menos de uma hora, gritando em frente da sede da ALE, contra Jalser. A gritaria irritou outros movimentos, especialmente de servidores públicos com salários atrasados.