Bom dia,
Uma das coisas que precisa ser entendida em toda sua dimensão por Jair Bolsonaro (PSL) é que as palavras de um presidente da República geram expectativas e consequências. Veja-se, por exemplo, as afirmações dele sobre o que pensa da situação dos índios brasileiros, ao dizer com todas as letras que considera o indígena um ser humano igual aos outros: com sonhos, ambições, desejos e direitos de lutar por todos eles. Como corolário desta visão de mundo, o presidente da República defende abertamente que as populações indígenas que vivem em áreas já demarcadas possam aproveitar todo o potencial de seus recursos naturais.
Ontem, quinta-feira (01.08), quatro lideranças indígenas que acreditam nas ideias e promessas do presidente da República visitaram a redação da Folha: Altevir Souza (presidente da Sodiur), Lu Pedro (presidente da Asprovolt – uma associação criada para explorar o agronegócio indígena -), Adriano Nascimento (que já foi secretário estadual do índio) e Rondinele (cacique), para comunicar que viajarão na próxima segunda-feira para Brasília. Elas vão tentar uma audiência com o presidente Jair Bolsonaro para apresentar ao governo vários projetos de exploração agrícola em áreas da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol.
ORIENTADOS
Essas lideranças indígenas, da etnia Macuxi, estão sendo orientadas pelos índios Parecis, do Mato Grosso, que já tem larga experiência no plantio de grãos como milho, sorgo e algodão. Os Parecis já ganham dinheiro plantando grãos há várias décadas e aproveitam os ganhos auferidos para gerar benefícios em suas terras, mas especialmente para financiar os estudos de jovens indígenas que voltam para suas terras para melhorar a vida da população e a produtividade das lavouras. Além dos Parecis, outras duas etnias indígenas brasileiras já aderiram ao agronegócio em suas reservas. Os Macuxi de Roraima querem ser os quartos.
BUROCRACIA
Foram os Parecis que disseram aos Macuxi de Roraima que para poderem explorar o potencial de suas riquezas, como quer o presidente Jair Bolsonaro, será preciso enfrentar a burocracia estatal, que não é pouca. Para início de conversa, essa exploração de recursos só será possível se os indígenas obtiveram a concordância da Fundação Nacional do Índio (Funai), Advocacia Geralda União (AGU) e da Secretaria do Patrimônio da União (SPU). É muita burocracia, e não será um caminho fácil convencer esses órgãos que receberão pressão, com certeza, do aparado ambientalista/indigenista internacional, representado pelas mais de 500 organizações não governamentais que atuam na Amazônia.
PROJETOS
Um dos projetos a serem levados na bagagem dos índios que vão a Brasília para falar com o presidente da República é o reaproveitamento de algumas áreas que já foram utilizadas com o cultivo de arroz irrigado na Raposa/Serra do Sol. A ideia é arrendar essas áreas para empresários que estejam interessados em explorá-las por um prazo de 10 anos com a obrigação de que sejam transferidas tecnologias aos indígenas através da utilização compulsória de mão de obra local e do pagamento de um percentual da produção. Os indígenas já conversaram com alguns empresários rurais do estado que demonstraram interesse, desde que seja assegurada a segurança jurídica dos contratos.
AQUISIÇÃO
Por falar em agricultura indígena, afiliados à Cooperativa Agropecuária Indígena de Pacaraima, em Roraima, receberam orientação técnica de representantes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para saber como operar com o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Esse programa tem sido fundamental para a sobrevivência da agricultura familiar de um modo geral, que não consegue cumprir todas as exigências para colocar no mercado formal.
DOAÇÃO
A cooperativa será uma das organizações fornecedoras de produtos no estado, envolvendo recursos da ordem de R$ 216 mil. Os alimentos produzidos pelos indígenas, de acordo com as normas do programa, serão destinados à doação e entregues nas entidades socioassistenciais cadastradas, para auxílio de pessoas em situação de insegurança alimentar.
MUDANÇAS
Após fazer críticas à Comissão Nacional da Verdade (CNV) e ironizar o desaparecimento de Fernando Santa Cruz durante o regime militar, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) alterou a composição da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Bolsonaro justificou a mudança de forma direta e sem firulas. Segundo o presidente, os antigos integrantes da comissão foram indicados por presidentes de esquerda, e agora a Presidência da República é ocupada por ele, Bolsonaro, que é de direita. Muitos podem até estrebuchar, mas na lógica ele tem razão.
SACADO
O que ninguém sabia era que uma figura, que já teve passagem política por Roraima, trazida por Ottomar Pinto desde Brasília, participava da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que tem entre as atribuições reconhecer desaparecidos que teriam sido mortos em dependências policiais durante o regime militar. Trata-se de João Batista da Silva Fagundes, coronel da reserva do Exército e ex-ministro do Superior Tribunal Militar, feito por Ottomar deputado federal por Roraima entre 1983-1987 e 1991-1995.
PRIORIDADE
O senador Telmário Mota foi a público denunciar o repasse de R$ 28 milhões feito pelo governador Antonio Denarium (PSL) ao Ministério Público para a construção da nova sede do órgão. Segundo o senador, a falta de merenda escolar, a deficiência estrutural e de material na segurança pública e a suspensão de concursos públicos são fatores que não justificariam tamanho gasto público numa época, dita pelo governador, de profunda crise orçamentária e financeira. Telmário disse que fez um pedido de impeachment do governador, que até agora está engavetado.