Bom dia,
Ninguém pode cobrar do político Jair Bolsonaro (PSL) que explicite com clareza o conjunto de suas ideias sobre o que quer para o Brasil. Como a maioria dos políticos, Bolsonaro é ímpar em soltar frases que agradam boa parte da população, especialmente, dos que nele votaram. São afirmações genéricas, que muitos e muitas dos que aplaudem não têm a menor ideia do que significam. E foi assim, tanto no discurso que fez por ocasião da posse perante o Congresso Nacional, quanto naquele proferido durante a solenidade para o recebimento da faixa presidencial. Nos dois, Bolsonaro foi Bolsonaro.
Quem assistiu ao discurso de transmissão de cargo no Ministério das Relações Exteriores, na troca do ex-chanceler Aluízio Nunes Ferreira pelo novo ministro Ernesto Araújo, e prestou atenção nas ideias expostas pelo novo chanceler brasileiro, pode compreender melhor a visão de conjunto e a natureza do governo bolsonarista. E não só quanto ao balizamento que deve orientar a nova proposta da política externa tupiniquim, mas igualmente sobre muitas das políticas propostas internamente. Bolsonaro trata dos retalhos, o novo chanceler teceu o pano que servirá para confeccionar a nova sociedade brasileira na visão bolsonarista.
Ernesto Araújo disse que a ordem do globalismo que avassala o Planeta, nega Deus, a família e a pátria, e que tudo isso deságua na negação da própria espécie humana como ser superior aos demais animais. Nessa visão, os humanos passam a ser intrusos e promotores do desequilíbrio numa natureza que deve existir sem hierarquia entre gêneros e espécies. A busca no fim das nações é o objetivo mais visível dessa ordem global exacerbada, por isso, entre outras coisas, nossa educação ensina os jovens a terem ódio dos construtores da pátria.
Sobre a participação do Brasil no contexto das relações internacionais, comandadas pela Organização das Nações Unidas, o novo chanceler brasileiro diz que os que representaram o país nos últimos anos falaram e agiram no sentido de agradar os interesses internacionais, que muitas vezes foram de encontro aos nossos próprios interesses. Ele garantiu que, a partir de agora, o foco é o interesse nacional e não o das organizações não governamentais, e que o Brasil vai dizer o que precisa ser dito, e não o que a ordem globalista mundial quer que seja dito.
Por fim, Ernesto Araújo citou como exemplo de povo forte e destemido os judeus que antes mesmo de terem um território nunca abdicaram de ser uma nação, e quanto conquistaram sua porção de terra criaram um estado forte e competente para defendê-lo. E sem citar os brasileiros, disse que muitas nações que têm vasto território não mostram vontade e competência para mantê-los. Foi um grande discurso, como de há muito não se ouvia dos titulares do Ministério das Relações Exteriores. Fez lembrar Azeredo da Silveira, que foi por ele citado como exemplo de chanceler.
POUCAS
A posse de Jair Messias Bolsonaro na presidência da República teve a menor participação de delegações estrangeiras da história recente do Brasil. Apenas 48 delegações de outros países vieram prestigiar sua posse. E destas, apenas 10 eram presididas por chefes de Estado ou de governo. Para ver Collor de Mello assumir o governo brasileiro, em 1990, vieram 72 delegações; Fernando Henrique Cardoso foi prestigiado por 110; Lula, em 2003, por 110; enquanto Dilma Rousseff teve nada menos que 130 delegações estrangeiras a lhe prestigiar quando assumiu o Palácio do Planalto em 2011, e destas, 32 eram presididas por chefes de Estado.
CASSINO
Outro ministro que assumiu sua pasta dizendo claramente o que pretende fazer foi o czar da economia Paulo Guedes. Em síntese, ele disse que sua principal meta é acabar com o cassino financeiro em que o Brasil se transformou. E tem razão. Levantamentos feitos por organismos internacionais indicam que a dívida dos setores públicos e privados junto à banca financeira internacional já representa mais de cinco vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do Planeta. Esse endividamento dobrou na última década, sendo que a pobreza e a desigualdade planetária também dobraram de tamanho no mesmo período. O globalismo financeiro transformou muitos países num cassino, paraíso dos rentistas. Vamos esperar que Guedes esteja sendo sincero.
PARECIDO
Ainda como interventor federal, Antonio Denarium (PSL) decretou, no último dia 28.12, estado de calamidade nas finanças públicas de Roraima. Para gerenciá-lo, foi criado um Gabinete de Crise formado por vários secretários estaduais, que vão dizer o que pode ser gasto ou não enquanto durar a crise. Coisa semelhante foi feita no início do governo Suely Campos (PP) que, para contornar a dívida recebida do governo anterior, criou igualmente um gabinete de gerenciamento de crise, sem que tenha sido eficaz, ao que parece, na contenção dos gastos. É esperar para ver.
CRÍTICAS
Sem fazer referência à operação de busca e apreensão de documentos e bens na Assembleia Legislativa do Estado e em imóveis relacionados ao deputado estadual Jalser Renier (SD), comandada pelo Ministério Público Estadual, o novo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de Roraima (OAB-RR), Ednaldo Vidal, fez duras críticas àquele órgão de fiscalização. Na solenidade que marcou sua posse, realizada ontem à tarde (02.01), Ednaldo Vidal disse que os advogados têm que estar unidos para defender suas prerrogativas e conter excesso nas ações de alguns órgãos. Como dissemos, ele não citou qualquer ação específica para justificar sua fala.