Bom dia,

Vamos começar o ano falando da Bolívia para chegar ao Brasil. Lá, os bolivianos ainda não sabem como sair da crise política em que mergulharam depois da renúncia de Evo Morales, flagrado em fraude eleitoral quando tentava se eleger pela quinta vez. A Bolívia deverá enfrentar uma enorme dificuldade para sair dessa crise, especialmente porque lhe falta os mais fundamentais valores de identidade de um povo. Falta-lhe o Ethos – assim diziam os pensadores clássicos da Grécia – que une as pessoas formando um povo. Sem isso, não é possível traçar objetivos comuns capazes de mover a sociedade nacional. A Bolívia de hoje é um aglomerado formado por brancos, inclui os mestiços – tidos como colonizadores e opressores – e os índios, que se consideram oprimidos.

Nos mais de treze anos de poder, Evo Morales – um indígena feito líder pelos cocaleiros bolivianos, categoria econômica e social dominada por eles – combateu ferozmente a ideia de uma nacionalidade boliviana. Impôs como valor supremo da Bolívia a ideia de que o país era constituído por uma etnosociedade. No preambulo da Constituição que fez aprovar em 2009, assinada pelo próprio Morales, está expresso: “Refundamos a Bolívia. Deixamos no passado o Estado Colonial, republicano e neoliberal, para ser um Estado Unitário, social, de Direito Plurinacional”.

E vai mais além: “Nós povoamos esta Mãe Terra com rostos diferentes e, desde então, entendemos a atual pluralidade de todas as coisas e a nossa diversidade como seres e cultura. Assim moldamos os nossos povos e jamais compreendemos o racismo até o que sofremos desde os funestos tempos da colônia”. Está claro o estímulo para a criação de uma divisão étnica e maniqueísta, que destrói uma unidade nacional, gera ódios e ressentimentos que se acumularam por gerações. É um terreno fértil para vicejarem condutas separatistas.

E o que o Brasil tem a ver com isto? Lembram os leitores e as leitoras dos 13 anos do lulopetismo? Dos “coxinhas” contra nós? Da tentativa de separar o Brasil entre brancos e negros? De que os “brancos” – que não se pode dizer com precisão que tipo é esse, tal é variação da tonalidade da cor da pele – foram também opressores – e de fato muitos o foram – de negros e índios? O lulopetismo fez enorme esforço para transformar o Brasil numa grande Bolívia de múltiplas nacionalidades, diferenciadas pela cor da pele e da origem. Embora tenha conseguido avançar muito nessa direção, não conseguiram chegar onde os bolivianos chegaram, afinal, somos uma sociedade historicamente mestiça. Aliás, qual o limite entre o mestiço quase branco e o mestiço quase negro? E temos instituições bem mais complexas que as da Bolívia, por isso eles não conseguiram tanto.

Mas, infelizmente, não se pode dizer que o Brasil se livrou desse maniqueísmo do nós contra eles. Agora, quem não é cristão e tem qualquer simpatia por ideais igualitárias – mesmo que não professe o marxismo – é logo considerado um inimigo da pátria. Essa visão do nós contra eles dificilmente vai reconstruir as fissuras do divisionismo provocadas pelo lulopetismo – ao contrário, pode até ampliá-las. Neste início de 2020 é preciso combater este antagonismo maniqueísta, lembra que temos uma formação de uma nacionalidade, que apesar da herança que tem gerado muita desigualdade, foi a responsável por manter este país uno e com enorme potencial de crescimento.

ERRAMOS

Na última edição da Parabólica dissemos que estaríamos iniciando a terceira década do Século XXI. Erramos. O calendário gregoriano, pelo qual nos orientamos, conta os anos a partir do primeiro a partir do nascimento de Jesus Cristo. Assim, as décadas começam pelo calendário gregoriano no ano 01, o que indica que a terceira década do Século XXI só começa a partir do dia 1º de janeiro de 2021. Perdão, pois, pelo erro.

ACERTAMOS

Por outro tanto, faz quase uma semana que revelamos aqui na Coluna o nome do futuro secretário estadual de saúde. Acertamos na mosca: hoje, sexta-feira, 03.01, o governo estadual anuncia o médico maranhense Allan Garcês como o substituto da advogada Cecília Lorenzom, no comando da Secretaria Estadual da Saúde (Sesau), exonerada na semana passada pelo governador Antonio Denarium. Garcês, segundo fontes da Parabólica, já trabalhou aqui em Roraima como funcionário da Faculdade Cathedral. Como adiantamos, atualmente ele era chefe de um departamento – o Departamento de Articulação Interfederativa, da Secretaria Executiva Ministério da Saúde, em Brasília.

GESTÃO

Em entrevista à Folha, o novo secretário estadual de saúde disse que um de seus principais focos é a gestão na saúde pública do Estado. Por conta dessa declaração é possível ler que uma das metas do novo secretário é a terceirização de gestão completa da Secretaria Estadual de Saúde. Já faz algum tempo – na verdade desde o início da atual administração estadual – que se vem falando nessa história de terceirização na gestão da saúde pública do estado e tudo indica que esta é a principal missão de Allan Garcês à frente da Sesau. O futuro dirá se nossas fontes estão bem informadas.

INDICAÇÃO

Apesar de ter no passado recente trabalhado na Faculdade Cathedral, que tem como proprietário o empresário e deputado federal Haroldo Cathedral, nada indica que a vinda do médico maranhense Allan Garcês para comandar a Secretaria Estadual de Saúde tenha tido a participação daquele parlamentar. Faz algum tempo que circula a informação de que o ministro Henrique Mandetta teria manifestado interesse em colocar alguém de sua confiança no comando da Sesau-RR, especialmente para coordenar um processo de transferência da gestão do setor para uma instituição social.

CANDIDATOS

Já estamos dentro do ano eleitoral de 2020 e provavelmente seja afunilado o processo de lançamento de pré-candidaturas à Prefeitura Municipal de Boa Vista, a principal das 15 do estado. Uma das dúvidas para formar o cenário da disputa diz respeito à hipótese dos candidatos que seriam apoiados pela atual prefeita Teresa Surita (MDB). Ontem, dois nomes eram citados como prováveis candidatos que representariam o grupo da atual prefeita: Simone Queiroz e o vice-prefeito Arthur Filho. A conferir.