Bom dia,

Um dos profissionais da Folha esteve visitando, como paciente, o pronto socorro do Hospital Geral de Roraima (HGR) no último final de semana. Presenciou um movimento frenético de profissionais médicos e paramédicos que se revezavam no atendimento das pessoas que ali chegavam, a maioria vítimas de acidentes de trânsito. Já na entrada era possível ver quatro homens sangrando, sujos e que se debatiam amarrados em camas de emergência. Dois deles em aparente estado de gravidade máxima requerendo atendimento prioritário.

Ao penetrar no interior daquela unidade de tratamento emergencial, já nas instalações do hospital propriamente dito, era possível ver dezenas de pacientes, a maioria idosos, carregados em cadeiras de rodas e macas – quase sempre já muito usadas –, que circulavam em um vai e vem interminável, para realizarem sessões de radiografia e tomografia em dois centros ali disponíveis. Funcionários atenciosos tentavam atender a todos, que afinal quase todos e todas pareciam sedados, cheios de sondas e nalguns casos com amputação de membros inferiores.

Apesar desse ambiente com gente se esforçando para bem tratar os pacientes, não é possível escapar da observação de quem frequenta aquele lugar, o desleixo para com as instalações e equipamentos. São portas rangendo e descascadas – feitas aparentemente de aglomerados –, e paredes mal pintadas dando a impressão de falta de zelo, especialmente num ambiente em que pessoas, os pacientes e seus acompanhantes, já enfrentam uma situação de desconforto.

Conversando com algumas pessoas que trabalham ali – elas têm relação contratual que vai de servidores efetivos, cooperativados e terceirizados –, é possível descobrir porque não se dá a prestação de serviços à nível de excelência naquela unidade hospitalar. “Por aqui já passaram administradores bem-intencionados, que pareciam realmente comprometidos com a população. Queriam sinceramente melhorar o atendimento dado à população. Acontece que para fazer isso tudo funcionar são vários os contratos que têm de ser firmados, que vão desde a contratação de pessoal, fornecimento de remédios e alimentação, e manutenção de equipamentos. Infelizmente, e isso é histórico, por trás de quase todos os contratos existem políticos e gente muito poderosa interessados neles”, diz um servidor.

AUMENTOOs políticos gritaram, mas o certo é que desde o começo deste novembro, os consumidores roraimenses estão pagando um aumento da tarifa de energia elétrica de mais de 35%. E o pior é que daqui a algum tempo todo mundo se conforma com esta imposição, afinal a Eletrobras é monopolista e ninguém tem alternativa de buscar outro fornecedor. Os políticos sabem disso, e sabem também que o povo tem a memória curtíssima e um nível de informação e cidadania abaixo do desejável. Só alguns gatos pingados lembram, por exemplo, que o senador Romero Jucá (PMDB) disse, num passado recente, ter conseguido uma Medida Provisória que evitaria aumentos futuros da tarifa de energia elétrica para os roraimenses.

LUCRO FUTURO Sem nenhum pejo, autoridades do setor elétrico federal confessam que este aumento cavalar da tarifa de energia elétrica para os roraimenses é para aumentar a rentabilidade da Eletrobras Distribuição Roraima a fim de privatizá-la o mais rapidamente possível. Falando claramente, o aumento do preço da energia para os babacas dos roraimenses está antecipando o lucro futuro dos empresários privados que vão comprar a Eletrobras Roraima. Evidentemente tem gente muito poderosa interessada em comprar a concessão para Roraima, especialmente porque deve receber de bandeja todo o patrimônio da Companhia Energética de Roraima (CERR), avaliado segundo critérios que não foram discutidos abertamente.

TERMOELÉTRICAA revista Veja fez na semana passada matéria sobre a situação do fornecimento de energia elétrica ao estado de Roraima, inclusive sobre a existência de usinas termoelétricas que ganham dinheiro mesmo sem funcionarem. A revista induz a necessidade de uma investigação rigorosa da propriedade dessas usinas térmicas, o que só vem a reforçar as versões de que um conhecido parlamentar de Roraima tem interesse econômico na manutenção desse esquema caro e inseguro, que caracteriza o sistema de fornecimento de energia elétrica ao estado. Eles não perdem uma única chance de roubar o dinheiro público.

ROMBOComo se sabe, o governo Anchieta Júnior (PSDB) fez um empréstimo de R$ 600 milhões para serem utilizados no saneamento da Companhia Energética de Roraima (CERR). Esta montanha de dinheiro chega hoje, com juros e correção monetária, perto de R$ 800 milhões. Anchieta entregou a gerência dessa grana toda a uma administração da CERR, mista de gente indicada pelo Governo e pela Eletronorte, com o controle desta última. Ao final, a grana foi gasta não se sabe em que, tendo restado uma pequena parte destinada a investimento em subestações de rebaixamento e na recuperação da Usina Hidroelétrica de Jatapu.

CARAE agora com que cara vão ficar os políticos demagogos, e sem visão de futuro, diante da decisão do Ministério dos Transportes de retomar o projeto de construção de hidrovias na Amazônia, incluindo a navegabilidade do Rio Branco, da foz no Rio Negro, até a cidade-porto de Caracaraí. Alguns sequer serão obrigados a responder pelo enorme prejuízo que causaram ao progresso do estado, utilizando argumentos demagógicos e populistas para combater um projeto que é essencial para a produção de grãos em Roraima. O velho adágio de que o “tempo é o senhor da razão” nunca deixa de separar o joio do trigo.