Bom dia,

A história que a seguir vamos contar é absolutamente verdadeira e sem qualquer dramaticidade. O objetivo de contá-la é para chamar a atenção de todos quantos querem com sinceridade o desenvolvimento da economia roraimense; diferentemente daqueles que utilizam esse discurso para encobrir seus interesses corporativos, tentando convencer uma população que já ultrapassa os 500.000 habitantes de que é possível fazer o estado crescer colocando o governo e suas políticas públicas a serviço de um pequeno grupo, seja político ou empresarial. A história serve também para mostrar como uma estrutura estatal burocrática, e paquidérmica, está tornando a capacidade de sobrevivência praticamente impossível para os pequenos, aqueles a quem é negado o acesso à vida minimamente digna, o que significa tirar o próprio sustento a partir de um emprego, ou mesmo do esforço produtivo autônomo. E serve também para evidenciar a insensibilidade dos políticos e governantes que se mostram absolutamente indiferentes ao destino dos mais necessitados.

CENA 1

Um jovem, recém-formado engenheiro agrônomo, que ainda não conseguiu emprego – afinal, faz algum tempo que não se realiza concurso público para esse tipo de profissional – decidiu utilizar uma chácara da família para produzir hortaliças, com a esperança de que pudesse ganhar algum dinheiro, essencial para sobreviver. Conseguiu fazer, junto a um agiota, um pequeno empréstimo de R$ 5.500,00, que lhe permitiu plantar as seguintes culturas: quiabo (750 pés), berinjela (1.000 pés), abóbora (900 pés), pimentão (2.600 pés) e pepino (1.500 pés). Tudo plantado com a adubação que o pequeno empréstimo lhe permitiu.

CENA 2

Na semana passada, o jovem profissional começou a colher parte de sua produção. Gastou alguns reais a mais na compra de embalagens e saiu à procura de supermercados e restaurantes que lhes pudessem comprar o pouco que produzira. Foi vã a tentativa, pois todos lhes pediram a emissão de uma Nota Fiscal do Produtor, que ele naturalmente não tinha. Os estabelecimentos alegaram que são fiscalizados e precisam comprovar a origem dos produtos que utilizam, e por isso não poderiam pagar ao produtor apenas com um recibo comum.

CENA 3

Desencantado, especialmente preocupado com a necessidade de pagar ao agiota e ainda os dois trabalhadores que contratara para realizar o plantio, o pequeno produtor decidiu enfrentar o sol escaldante do último domingo (06.10) para tentar vender seus produtos diretamente ao consumidor. Dividiu suas verduras em pequenas sacolas, numa espécie de mix de produtos, lá foi para o Feirão do Garimpeiro, que funciona aos domingos na avenida Ataíde Teive. Sob um sol escaldante, ele colocou um chapéu e oferecia em voz alta suas sacolas, mas quando tinha conseguido vender apenas cindo delas – cada uma era vendida por dois reais – o produtor foi abordado por um fiscal que lhe pediu seu cadastro de feirante, que ele naturalmente não tinha. Foi obrigado a recolher seus produtos a sair do local.

CENA 4

Aos prantos – e quem diz que homem não chora –, o jovem profissional desempregado – e agora endividado – colocou as quase 70 sacolas em seu velho Uno Mille e começou a percorrer alguns semáforos de Boa Vista, doando sua produção a pobres venezuelanos que pediam esmola ou vendiam bugigangas. O que arrecadou com o que conseguiu nas duas horas que vendeu no Feirão do Garimpeiro mal deu para pagar a gasolina do veículo. Ontem, segunda-feira (07.10), o pequeno produtor contou essa história aqui na redação da Folha.

CENA 5

Que fazer para facilitar a vida dos pequenos? Muitos diriam que é preciso que todos tentem se regularizar perante os órgãos públicos de fiscalização, que abrange desde aqueles que cuidam de tributos; dos responsáveis pelo licenciamento ambiental; e os que cuidam da questão sanitária dos produtos consumidos pela população. A aí é outra longa história que o espaço da Parabólica não é suficiente para contá-la em sua integridade. Mesmo assim, na edição de amanhã tentaremos abordar este assunto.

ROUBO

No final da tarde do último domingo, a residência da família do ex-governador Neudo Campos, que fica na cidade de Pacaraima, foi arrombada. De lá os ladrões levaram colchões, lençóis, ventiladores, botijões de gás e outros objetos menores. O roubo foi cometido em plena luz do dia e tem sido assim naquela cidade fronteiriça, que sem qualquer dúvida é aquela que tem sido mais afetada pela crescente e incontrolável migração de venezuelanos para Roraima. 

SAINDO

À Parabólica, a ex-governadora Suely Campos disse: “Aí fui sentir o enorme problema que temos na fronteira, e não existe um olhar preocupado com o que se está transformando aquela cidade. As polícias sem nada, um simples carro velho, poucos profissionais, a cada madrugada várias casas são assaltadas; a minha foi de dia, porque à noite tem vigia. Pacaraima virou terra sem lei. Lamentável que os brasileiros estejam saindo de lá, e logo agora que estamos caminhando para ganhar a Ação Civil para manter o município”.

REAÇÃO

Partiu de uma liderança indígena de Roraima a mais forte reação contra os objetivos do Sínodo da Amazônia, que durante as próximas três semanas vai discutir a política de ocupação da região sob o olhar da igreja católica romana. Jonas Marcolino, líder Macuxi e advogado, disse sobre o encontro que se realiza no Vaticano: “Lamento que para este Sínodo não tenha sido convidado nenhum indígena que pense diferente da corrente desses missionários”. Ele está em Roma, num encontro paralelo para questionar o Sínodo do Papa Francisco. Boa parte da ala conservadora da igreja católica considera que o Sínodo da Amazônia é uma espécie de retomada da Teologia da Libertação, movimento que introduziu. Mais concretamente, o marxismo na igreja católica latino-americana.