Bom dia,

Hoje é quinta-feira (10.12). Ontem dissemos deste espaço que os brasileiros e as brasileiras pagavam os maiores custos do planeta para bancar os poderes legislativo e judiciário. A história verídica que vamos contar hoje serve para ilustrar como os contribuintes tupiniquins se acostumaram a aceitar com naturalidade pagar benesses exageradas a essa elite da máquina estatal do país. Ninguém cobra dos políticos, especialmente dos parlamentares, que mudem essa realidade imoral.

Por volta do final dos anos 70 e começo dos anos 80 do Século passado, os ministros dos tribunais superiores e do Supremo Tribunal Federal moravam em apartamentos funcionais de 400 metros quadrados, e além de um carro menor cada um deles dispunha de um Ford Landau, à época o mais caro e luxuoso automóvel fabricado no país. Possuíam funcionários públicos para cuidar de suas residencias, numa espécie de criadagem paga com dinheiro público. De lá para cá uma pequena redução ocorreu nessas mordomias, mas muita coisa ainda existe. É bom lembrar que cada ministro da Suprema Corte dispõe de um servidor para executar uma tarefa simples como a de colocar aquela capa preta sobre suas costas antes de começar as sessões.

Pois bem, na mesma época, o advogado criminalista muito famoso na Capital Federal, Aidano Faria, que era casado com uma funcionária da embaixada da Alemanha, decidiu acompanhar a mulher que fora chamada de volta a Berlim. Lá cumpriu inicialmente um périplo para conhecer a família da esposa e aos amigos ele contava a imensa dificuldade que encontrou para entender um pouco da realidade e dos costumes dos alemães. Bem diferente daquela que ele deixara no Brasil.

Aidano quase sempre citava dois exemplos que lhes provocaram um grande choque de percepção. Num desses exemplos ele contava que logo que chegou a Berlim foi convidado para jantar na casa de um dos tios da esposa, que era ministro da Suprema Corte da Alemanha. O magistrado foi buscar o casal no apartamento que haviam alugado para morar dirigindo seu próprio carro. Quando desceu o advogado brasileiro tomou um susto quando verificou que o carro do ministro era um fusquinha. E a surpresa não terminou aí. Quando chegaram à residência do ministro Aidano descobriu que o imóvel tinha apenas dois quartos e era propriedade do magistrado. Para quem conhecia o mundo luxuoso dos magistrados brasileiro foi um choque. Ele dizia isso aos amigos.

Noutra semana, o casal foi convidado para passar o final de semana na pequena fazenda de outro tio, irmão do ministro da Suprema Corte. Chegaram no meio da tarde e puderam ver o agricultor todo empoeirado em cima de um trator arando a terra. Marcaram para jantar muna cidade próxima, depois de assistirem a uma apresentação de ópera. “Tive outra surpresa. Fui acostumado a ver a situação de penúria dos pequenos agricultores brasileiros. Quanto vi aquele agricultor empoeirado poucas horas antes, agora vestido de smoking perdi minhas referências”, contava Aidano.

Só contamos essas duas histórias para ver o quanto nosso país precisa avançar.