Bom dia,
Hoje é terça-feira (16.03). E os brasileiros e as brasileiras dormiram ontem sabendo que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cumpriu a ameaça e decidiu mudar o comando do Ministério da Saúde, no pior momento da pandemia da Covid19 no país. Ele mandou de volta para a tropa, o general de divisão Eduardo Pazuello, e trouxe da Paraíba o médico cardiologista Marcelo Queiroga, que é também presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologista (SBC), para assumir o cargo de ministro da Saúde, principal encarregado federal de combater a crise sanitária instalada no Brasil. Bolsonaro definiu-se pelo nome de Queiroga depois que que a médica paulista, também cardiologista, Ludhmila Haffas declinou do convite para assumir o cargo, após três horas de conversas com o presidente.
Para além de saber que razões levaram Bolsonaro a escolher o cardiologista paraibano, importa indagar o que ele pode fazer de diferente do que vinha fazendo o general Eduardo Pazuello. O diagnóstico sobre o que deve ser feito pelo governo federal para, pelo menos, tornar mais suportável o trágico cenário sanitário brasileiro em decorrência da Covid19, já é de conhecimento de todo o mundo. É preciso acelerar a vacinação em massa da população brasileira, de um lado; e de outro, aumentar e fazer cumprir a política de isolamento social, aliada ao uso de máscara e de cuidados sanitários.
No primeiro caso, a demissão de Pazuello agora só atrapalha a já atrasada decisão, e finalização, de compra de mais vacinas pelo Brasil junto ao mercado internacional. Afinal, quem vai assinar os contratos agora? Queiroga, deve naturalmente querer saber dos termos dessas compras; e os vendedores, evidentemente, restarão sem segurança jurídica sobre com quem devem realmente dialogar. Se houver vacinas em quantidade suficiente, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem expertise suficiente para vacinar milhões de brasileiros diariamente, independente de quem seja o ministro. O SUS, é sem dúvida, o melhor esquema de saúde pública do planeta.
Quanto ao aumento das recomendações mundiais de isolamento social e da utilização de práticas sanitárias adequadas, nada indica que o novo titular do ministério da Saúde venha peitar o presidente da República, que tem uma visão própria e já manifestada sobre a questão. Por conta dessa visão, Bolsonaro já cortou a cabeça de dois ministros, Henrique Mandetta e Nelson Teich, que ousaram contrariar sua visão quanto ao distanciamento social e uso de máscara. O presidente sempre manifestou sua concordância com o isolamento apenas dos grupos de alto risco, e sempre reagi, até com atitudes pessoais ao isolamento geral. Por que mudaria de opinião agora?
VACINAS
Aliás, em Roraima as autoridades estaduais e municipais decidiram fazer silêncio absoluto sobre o Programa Nacional de Imunização (PNI) no estado. Nem o governo estadual, via Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), informa a população sobre o recebimento de novas doses de vacinas vindas do Ministério da Saúde, e sua distribuição aos municípios; nem a Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV) informa a população sobre o calendário, por faixa etária, da programação de aplicação de vacinas. Na melhor das hipóteses, os três postos que ainda funciona na capital, mantém vacinação só para os que precisam da aplicação da segunda dose. É uma vergonha.
DOSES EXTRAS
Com a chegada do cardiologista Marcelo Queiroga ao Ministério da Saúde é bem provável que acabe o envio de doses extras de vacinas para os estados da região Norte. Seja por quais razões foram -diz-se, que inclusive, elas tinham motivações eleitoreiras-, o certo é que o ainda ministro Eduardo Pazuello decidiu mandar uma cota extra de vacinas para os estado de região Norte, o que permitiu, por exemplo, que o Amazonas ainda lidere como o estado brasileiro que vacinou o maior percentual de sua população. No caso de Roraima, o estado perde um importante apoio para receber mais vacinas. Trata-se do ex-deputado federal Airton Cascavel que deve deixar o posto de assessor especial do Ministério da Saúde junto com Pazuello.
AMEAÇAS
A cardiologista Ludhmila Hajjar comunicou ao presidente Jair Bolsonaro, na manhã de ontem (15), que não aceitava assumir o Ministério da Saúde. A médica se reuniu no domingo (14) por quase três horas com o presidente, na presença do atual comandante da pasta, Eduardo Pazuello. Após a imprensa divulgar sobre essa reunião, Ludhmila passou a ser alvo de ataques ferozes de pessoas ainda não identificadas, que não concordaram com o apoio dela a medidas de isolamento social, à vacinação em massa de brasileiros e à constatação de que até hoje nenhum estudo confirmou a eficácia de medicamentos como a cloroquina no tratamento da doença. Está difícil divergir no país, que segue tomado pelo fanatismo de direta e de esquerda.
CIRURGIAS 1
É antiga a história de pacientes que aguardam há anos para realizar procedimentos cirúrgicos, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Mas, vale a pena relembrar. Nos últimos quatro anos, foram muitas as notícias divulgadas, cá na Folha, sobre a suspensão de cirurgias eletivas. E desde o início, essa situação teria ocorrido por falta de materiais que comprometeram a realização desses procedimentos no maior hospital do estado. Inclusive, em 2017, tal problema foi descrito em um ofício encaminhado pela direção do Hospital Geral de Roraima (HGR) à Secretaria Estadual de Saúde (Sesau). Ou seja, um problema que vem de muito antes da pandemia, e não foi resolvido. A agora mesmo é que os pacientes terão que esperar por muito mais tempo.
CIRURGIAS 2
Em nota enviada à Redação da Folha, a Sesau informou que cerca de 2.800 pessoas ainda aguardam na fila para a realização dessas cirurgias, que seguem suspensas temporariamente. Entre as especialidades mais procuradas para a realização de cirurgias, estão as oncológicas e ortopédicas. A Sesau informou ainda que a retomada de forma definitiva das cirurgias eletivas está sendo planejada, mas a previsão para o retorno desses procedimentos só será possível após o fim da pandemia, mas estão mantidas as cirurgias de urgência e emergência.