Bom dia,
Difícil não concordar com a maioria das ideias sobre a economia e a sociedade brasileira do atual ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele parece ter uma visão muito clara dos vieses que acometem o comportamento de boa parte do empresariado brasileiro, que pede menos gastos públicos, mas vivem catando uma sombra proporcionada pelo mesmo Estado que eles dizem combater.
Guedes também tem a boa consciência de saber que a maioria do povo tupiniquim adora o clientelismo do Estado, no Brasil, que foi agudizado nos 30 anos da redemocratização, e especialmente adubado nos últimos governos da esquerda populista e corrupta, que se instalou no país. Boa parte das elites e da população brasileira tem verdadeira ojeriza contra qualquer tipo de meritocracia. E se tem esta consciência, Paulo Guedes sabe que terá uma difícil tarefa a enfrentar para tentar modernizar a sociedade e o Estado no Brasil.
MITIGADO
Vivemos, desde a Constituição Federal de 1988, uma espécie de presidencialismo mitigado, um verdadeiro semi-presidencialismo, onde quase tudo depende do Poder Legislativo, que é formado por representantes – senadores e deputados federais – que têm a cara do povo que representam. Por isso, é quase impossível fazer avançar medidas capazes de tirar o Brasil do atoleiro econômico e moral a que foi levado nos últimos anos. Guedes parece ainda um pouco atordoado, sem compreender muito essa realidade política/parlamentar.
MAIS EMBAIXO
Se é possível concordar com estas ideias mestras do ministro Paulo Guedes, é necessário também reconhecer algumas visões enviesadas do atual comandante da economia brasileira. Doutor pela Universidade de Chicago, centro acadêmico respeitado mundo afora, produtor de ideias econômicas para mercados consolidados como o é, o estadunidense, Guedes têm de aceitar que está propondo medidas para tirar a economia brasileira do atoleiro, e que sofre das deformações de uma economia de desenvolvimento capitalista retardado. Aqui, para falar em português claro, o buraco é mais embaixo.
EXCLUSÃO
Diferentemente dos Estados Unidos da América, não temos uma classe média afluente e integrada ao mercado consumidor interno. Ao contrário, somos um país cuja marca mais nítida é uma enorme política de exclusão, que deixa fora do mercado consumidor, total, ou parcialmente, cerca de 180 milhões dos quase 210 milhões de habitantes. E somos também, diferentes dos norte-americanos, uma economia refém do rentismo, um paraíso para ganhar dinheiro com a especulação, que sufoca o setor produtivo, especialmente as pequenas e microempresas.
RAZÕES
Como chefe de Paulo Guedes, o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), deveria ler as razões que levaram o presidente norte-americano Franklin Roosevelt, que assumiu a presidência dos EUA em 1933, e decidiu tocar um grande programa de obras públicas para enfrentar um desemprego que se abatia sobre um em cada três americanos adultos. Eram tempos da Grande Depressão, crise provocada por banqueiros, que se alastrou pelo mundo todo. Em três anos, Roosevelt tirou os estados Unidos do buraco e iniciou um grande período de abundância na economia do Tio Sam.
RETOMADA
Ontem, o ministro Paulo Guedes foi à Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso Nacional para pedir autorização para vender títulos da Dívida Pública, no valor de quase R$ 280 bilhões, a fim de arrecadar dinheiro para pagar despesas de custeio do governo federal. Existe, hoje no Brasil, cerca de 1.000 obras públicas paralisadas – entre elas ferrovias, hospitais, asfaltamento de estradas, conclusões de portos e escolas – que necessitariam de algo em torno de R$ 40 bilhões para serem concluídas. A retomada dessas obras geraria, direta e indiretamente, mais de 50.000 empregos. Já seria um bom começo.
VERBO
Depois de ler, aqui na Folha, que o governador Antonio Denarium (PSL) anunciou para hoje, 15.05, o início das aulas em várias escolas do interior, e para o dia 20.05 nas escolas indígenas, a deputada estadual Ione Pedroso (Solidariedade) soltou o verbo contra o governo. Da Tribuna da ALE, ela disse que não é verdade que o governo não resolve a questão do transporte escolar por conta da Operação Zaragata, da qual resultou sua prisão. Ela disse que foi vítima de mal-entendido e que agora não vai mais ficar calada. A parlamentar estadual disse também que não faltam recursos – na maior parte garantidos pelo FUNDEB – para pagar o transporte escolar. “O que falta é gestão”, diz Ione Pedroso.
PARA VARIAR
E pela undécima vez, o notório ex-senador Romero Jucá (MDB) foi citado como beneficiário de pagamento de propina por empresários. Agora foi a vez do empresário Henrique Constantino, um dos proprietários da Gol, que disse ter pago propinas a políticos de MDB para obter empréstimos milionários junto à Caixa Econômica Federal (CEF). A propina chegou a mais de R$ 7 milhões. Como sempre, a única informação que se tem a mais é que a Polícia Federal está investigando. Até quando?
FAZENDA
Só uma dica: Sabe aquela fazenda, na margem esquerda do rio Cauamé, chamada Brazilândia, que já foi objeto de questionamento entre posseiros e o filho do ex-senador Romero Jucá? E que depois teve a decisão favorável aos presumíveis proprietários por parte do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) de Roraima? Pois bem, ela já pertenceu aos donos da Gol Transportes Aéreos.