Bom dia,
A cena foi descrita por um leitor da Parabólica e merece ser repassada aos demais leitores. Ontem, quarta-feira, no final da tarde, na Feira do Produtor, três migrantes venezuelanos conversavam um tanto alheios ao movimento que os cercava. Falavam, com ar de melancolia, de poder político de grupos que aparentemente são invencíveis, mesmo que flagrantemente roubam e infelicitam o povo que dizem governar. Embora não revelassem de que personagem falavam, não é preciso ter muita inteligência para concluir que tratavam do ditador Nicolás Maduro e sua quadrilha.
Diante da desesperança de alguma mudança política em seu país, que lhes tomava a alma falavam de Deus. Diziam que só lhes restava acreditar na ajuda divina para acabar com a miséria, a fome e o sofrimento da maioria do povo venezuelano. Pelo conteúdo da conversa, todos os três migrantes demonstravam saudade da família (pais, mulheres e filhos), e sonhavam voltar para viver, um dia, em sua pátria, ao lado de suas histórias e de sua gente. Só estavam em Roraima pela absoluta falta de opção na Venezuela, miserável e sem emprego, depois que o chavismo se consolidou no país.
Os três migrantes, todos com aparência de saúde debilitada pela subalimentação a que estão submetidos, falavam igualmente da Colômbia, país para onde foram alguns de seus parentes, também fugindo da miséria instalada pelo governo chavista de Nicolás Maduro. Narrava um deles, ter recebido informações de seus parentes de que lá a situação estava menos pior do que a deles em Roraima, mas lamentavam não ter qualquer dinheiro para tentar fazer meia volta e caminhar em direção a Colômbia.
Nosso leitor deixou tudo que estava fazendo e ficou por alguns minutos ouvindo a conversa dos três migrantes venezuelanos na Feira do Produtor, e teve tempo para ver um saco plástico acomodado entre os pés de um deles, contendo alguns tomates, pimentões, cenouras e pepinos, com toda a aparência de que haviam sido coletados junto ao lixo que os feirantes descartam. Por certo, essas verduras seriam utilizadas mais tarde para aplacar a fome deles. É uma história densa de conteúdo, mas que certamente, não será do conhecimento de Temer e de seus ministros, mas interessados em salvar seus correligionários da cadeia.
Em tempo: A Feira do Produtor, tradicional centro de comercialização de produtos hortifrutigranjeiros, está tomada por migrantes, constituídos de venezuelanos – a maioria- e também de haitianos. Os roraimenses que ainda não se acostumaram com a nova realidade instalada em Boa Vista, ainda sentem muita apreensão com tanta gente transitando lá na feira.
TRISTE
Dar uma volta por Boa Vista, em qualquer lugar, ou hora, tornou-se um suplício e uma certeza de que nossa Capital é, hoje, uma cidade triste, com um povo atordoado com a miséria instalada a partir da migração desenfreada. É impressionante o número de mulheres, quase todas muito jovens, com crianças pequenas -muitas em fase de amamentação, que expõem seus filhos com flagrante intenção de produzirem piedade- aos olhos e no coração dos boa-vistenses. Não há cruzamentos, restaurantes, supermercados, farmácias, casas bancárias e outros espaços que não estejam tomados por essa gente vitimada pela miséria e pela fome. Que saudade daquela Boa Vista onde não se via mendigos. Éramos felizes e não percebíamos.
ACABANDO
Se não houver uma rápida modificação na chamada 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), a Lava Jato estará inevitavelmente enterrada, sem choro nem vela. Ontem, quarta-feira (15.08), mais uma vez três ministros (Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes) mandaram arquivar dois processos investigatórios, com denúncias firmadas pela Procuradoria-Geral da República, contra um senador e um deputado federal. O ministro relator da Lava Jato, Edson Fachin, está isolado naquela turma. O outro, Celso de Melo, costuma faltar nas sessões mais importantes. É o famoso acordão para estancar a sangria.
EMPESTIADAS
As redes sociais estão quase todas tomadas por gente paga por candidatos para elogiá-los, e também para descer o porrete nos adversários. O volume das postagens é tamanho que chega a entediar aos que desejam ver outras coisas, e sabem que tem muitos canalhas, pagando outros do mesmo naipe para inventar elogios e fakes news, a favor de seus pagadores, e contra seus opositores. Vai ficando cada dia mais difícil ao eleitor, e à eleitora, separar o joio do trigo; o alho do bugalho. Só o resultado final saído das urnas é que vai dizer onde isso vai parar.
LIDERANÇA
Parece que os articuladores da candidatura à reeleição da governadora Suely Campos (Progressistas) têm de matar um leão todos os dias. Um dia precisam enfrentar confusão na formação de coligações para as eleições proporcionais, e perdem aliados. Noutro, são obrigados a administrar divergências públicas, entre o presidente estadual do partido da governadora, o deputado federal Hiran Gonçalves, que ontem discordou através de rede social, do pedido que o advogado de Suely Campos fez contra o registro da candidatura do ex-governador Anchieta Júnior (PSDB).
TIETAGEM
Ontem, correligionários do presidenciável Jair Bolsonaro fizeram viralizar nas redes sociais tietagem explícitas de duas jornalistas (uma da Rede Globo e outra da Rede Record) com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). As duas comandaram reportagens negativas sobre Bolsonaro durante a semana, e ontem, quando da visita da ex-presidente ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para acompanhar o pedido de registro da candidatura de Lula da Silva, as duas profissionais faziam selfies sorridentes com Dilma.