Bom dia,É difícil não voltar a escrever sobre a crise moral e política que se abate sobre o Brasil. Nesse sentido, é oportuno alertar nossos leitores sobre a estratégia que os corruptos tupiniquins, e seus aliados, à direita e à esquerda, estão utilizando para engabelar a opinião pública brasileira. Essa estratégia está muito clara, na medida em que eles tentam desviar o foco do que está acontecendo para transformá-lo em simples movimentos políticos.
Assim, os áulicos de Lula da Silva (PT) acusam o juiz Sérgio Moro de participar de um movimento de “coxinhas” e de burgueses para impedir que o ex-presidente possa ser candidato em 2018. Falam que Lula está sendo punido por ter dado ênfase em seu governo à inclusão de milhões de brasileiros antes excluídos dos frutos da economia brasileira. Alegam que o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, e distribuição em profusão de dinheiro público para movimentos sociais desagradaram a elite brasileira. Fazem questão de ignorar que não se está julgando o governo do Lula/petismo, mas os crimes de corrupção que Lula permitiu, e praticou, durante esses últimos anos. Que o digam o Mensalão e a Lava jato. É só isso.
Na outra ponta, os áulicos de Michel Temer (PMDB) dizem que ele está fazendo um bom governo, que conseguiu debelar a inflação herdada de Dilma Rousseff (PT), e que a economia está começando a reagir, uma vez que deve crescer este ano um pouquinho mais que zero – o que seria melhor que menos de zero –, criando um cenário para os próximos anos de recuperação do emprego. É uma estratégia muito parecida com a dos petistas de Lula. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não encaminhou pedido ao Supremo Tribunal Federal para abrir um processo de avaliação do governo Temer, mas um pedido para apurar evidências claras de eventual prática de crime por corrupção ativa. É isso que a Câmara Federal vai votar em conceder, ou não, o pedido de autorização para que a Suprema Corte o processe por corrupção. É só isso. SEM JEITODeu na coluna Esplanada, aqui da Folha, na semana passada. O notório ex-deputado federal Waldemar da Costa Neto, que já é dono absoluto do Ministério dos Transportes e do Partido da República (PR), sabe que é vantajoso neste país do cinismo ser dono de sigla política. O negócio é tão bom que ele está criando um novo partido: o Muda Brasil. E o pior é que pode pegar uma meia dúzia de malandros e, aproveitando a frouxidão de legislação brasileira, pode até registrá-lo a tempo de disputar as eleições de 2018. Não custa lembrar que Costa Neto já cumpriu alguns meses de cadeia por rolo no Mensalão. Já está leve e solto, provavelmente para continuar fazendo política da forma que sabe.NA CATEDRALPara que se tenha uma ideia de que a Lava Jato e tantos processos que andam apurando o desvio de dinheiro público no Brasil não amedrontam os canalhas, um jornalista flagrou, na semana passada, dois lobistas acertando a distribuição de propina em plena Catedral de Brasília. Foi o lugar mais seguro que eles acharam para ficar longe de gravações, de som e imagens, indesejáveis. É uma pena que dezenas de canalhas com tantas evidências de terem roubado dinheiro público continuem com esses malfeitos. E isso estimula que eles permaneçam roubando. É bom lembrar que o encontro entre Michel Temer e Joesley Batista ocorreu nas barbas da Lava Jato.LIVRO 1As agruras vividas pelo pequeno criador Ailton Cabral dariam com certeza para escrever um livro sobre como o governo brasileiro consegue infernizar a vida de uma pessoa humilde. Quando o pai de Ailton morreu, ele assumiu a administração de uma propriedade familiar de criação de gado na região do Amajari. No final dos anos 70 e início dos anos 80 do século passado, o Governo Federal decidiu incluir a pequena propriedade na Terra Indígena Ponta da Serra. Ailton e sua pequena criação de bovinos e ovinos foram obrigados a se deslocar para uma região mais a noroeste do Amajari. Poucos anos depois, de novo o Governo Federal decide incluir a propriedade de Cabral numa nova reserva indígena, agora a Terra Indígena Santa Rosa.LIVRO 2Outra vez, o pequeno criador foi obrigado a abandonar sua propriedade, com seu rebanho de animais, e se instalar na região do Surumu. De novo, em 2008, o Governo Federal criou mais uma reserva indígena, a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, e mais uma vez Ailton Cabral foi expulso de suas terras, recebendo uma verba indenizatória ridícula, um montante insuficiente para que pudesse recomeçar a vida. Depois de muito vai e vem, o pequeno produtor recebeu a promessa de um representante do Supremo Tribunal Federal de que lhe seria destinada, pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), uma área de 1.500 ha para que pudesse reinstalar sua criação.LIVRO 3Pois bem, dois anos depois, o Incra autorizou que Ailton Cabral ocupasse uma área de 469 ha, dentro do Projeto de Assentamento Nova Amazônia. Nunca foi dado ao produtor o título definitivo da área, mas, em 2014, foi assinado um acordo com o Incra, que se comprometeu a destinar-lhe outros 1.000 ha. Pois bem, até hoje nada foi cumprido, apesar de já haver decisão judicial favorável ao pequeno criador. E o pior: a pequena área onde Ailton Cabral está criando o que restou de seu rebanho, agora está sendo cobiçada pelas ONGs para a criação de mais uma terra indígena. E que ninguém duvide de que conseguirão, apesar da decisão do Supremo Tribunal Federal proibindo a criação e expansão de novas terras indígenas em Roraima.