Bom dia,
A partir de hoje restam 20 dias para as eleições gerais do Brasil. Não sabemos, se para o bem ou para o mal, o clima entre boa parte do eleitorado tem ficado cada dia mais passional, o que pode ser visto de um ponto de vista positivo pelo engajamento de parcela cada dia maior dos eleitores no processo eleitoral, o que parece ser um resgate de uma tradição especialmente antes do golpe militar de 1964. Foi assim, por exemplo, quando da última eleição que levou ao poder Jânio Quadros, que derrotou o marechal Henrique Lott, para renunciar seis meses depois de assumir a Presidência da República.
De outro lado, o passionalismo exacerbado é inimigo da razão política e pode dificultar o que é de mais essencial numa campanha eleitoral: a escolha da melhor proposta de governo e do melhor candidato capaz de executá-la na forma e no conteúdo que foi objeto das promessas de campanha. Dois episódios recentes servem para exemplificar o que estamos dizendo, onde o ódio e o passionalismo tomam conta da racionalidade.
Quando daqui deste espaço condenamos aquele odiento atentado contra a vida do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) dissemos que aquele crime não ferira apenas fisicamente o candidato, mas atingia, na essência, suas ideias, aprovadas por uma imensa parcela da população brasileira, medida pela consistência dos índices de intenções de votos a ele dedicadas em todas as pesquisas realizadas até aqui no atual processo eleitoral.
Daqui, falamos sobre a intenção do candidato de resgatar nosso processo educacional sob a predominância da disciplina, do patriotismo, do respeito aos símbolos nacionais e do respeito à família como célula insubstituível na sociedade humana. Bolsonaro promete fazer uma escola para ensinar ciência e não ideologia de esquerda. Falamos, igualmente, da proposta do candidato de resgatar nossa soberania, especialmente sobre nossa capacidade de propor uma utilização da Amazônia, sob a égide do nosso interesse, e não do que nos mandam fazer os regimes internacionais do meio ambiente e dos direitos humanos, a serviço da cobiça internacional.
Logo depois que fizemos essas considerações recebemos várias mensagens, através de plataformas diferentes, indagando se Jair Bolsonaro seria o candidato da Folha, que como empresa jornalística privada pode legalmente ter candidato. A todas as indagações respondemos que não, e que tudo foi dito para resgatar a racionalidade que precisa ser feita para que a proposta dos candidatos seja avaliada sob um clima de seriedade e, não de passionalismo. Jair Bolsonaro, e seus admiradores, precisam ter o direito de expor as propostas que imaginam ser as melhores para tirar o Brasil do atoleiro econômico, moral e ético a que foi levado pela roubalheira instalada no país nos últimos anos.
Agora, vem outro exemplo. No último sábado (15.09), o candidato presidencial Ciro Gomes (PDT) visitou o Grupo Folha de Comunicação. Na ocasião, concedeu uma entrevista à Rádio Folha, onde falou abertamente de algumas de suas principais propostas de governo. Foi bem tratado, como são todos os candidatos que concederam entrevistas aos nossos veículos (Folha impressa, FOLHAweb e Rádio Folha) no atual processo eleitoral, nacional e estadual.
Nesse clima de tranquilidade, Ciro falou, com detalhes, da proposta de retirar cerca de 63 milhões da situação de inadimplência, como uma das estratégias para retomar o crescimento econômico do país. É uma proposta absolutamente exequível e necessária, não só do ponto de vista social, mas igualmente econômico. Também falou de como, já nos primeiros anos de governo, pretende enfrentar o déficit das contas públicas e expandir os gastos com setores prioritários do país, inclusive, na retomada de mais de 7.000 obras públicas paralisadas; também uma forma de retomar o crescimento da economia brasileira. Ele também falou da reforma da previdência que pretende fazer caso chegue à presidência da República.
Depois de sair da Rádio Folha, Ciro Gomes foi à Jaime Brasil, um importante e tradicional centro comercial de Boa Vista. Lá, cercado de admiradores foi agredido duas vezes: primeiro, por um simpatizante do Bolsonaro, que lhe colou no peito um adesivo com o número 17, e com certeza de seu leito hospitalar, o candidato, por certo não aprovaria aquela conduta. Depois, o candidato do PDT foi interpelado por um profissional que faz a produção da campanha de um candidato a senador (Chico Rodrigues), sobre as polêmicas declarações que fizera sobre o episódio de violência ocorrido faz algumas semanas em Pacaraima. Ciro não gostou da forma da abordagem, e o agrediu verbalmente, solicitando à sua segurança sua retirada do local.
Jair Bolsonaro, isolado, e Ciro Gomes – empatado tecnicamente com Fernando Haddad (PT) –, lideram as pesquisas de intenção de votos, medida por vários institutos de pesquisas. Estão sendo transformados pelos adversários, tanto à direita quanto à esquerda, como destemperado, homofóbico, autoritário, antifeminista e ultradireitista (Bolsonaro) e de coronel nordestino, destemperado, machista e muito de esquerda (Ciro Gomes). É claro, apesar do esforço ao contrário, os dois são ficha limpa e apesar de estarem, faz décadas, como políticos, nunca se lambuzaram no lamaçal da corrupção que tem propiciado o aparecimento de notórios canalhas na política tupiniquim.
Afinal, escrevemos tudo isso para dizer que esse passionalismo não contribui para escolher a melhor proposta, e quem será o condutor das reformas inadiáveis que a sociedade brasileira quer, e precisa urgentemente. Não seria melhor prestar mais atenção nas propostas, do que alimentar esse clima de ódio e agressão? De uma coisa temos certeza, os dois descartam qualquer aliança com os canalhas que roubaram dinheiro público, e continuam cinicamente impunes.
Isso já é um bom começo.