Bom dia,“É virtude ser ignorante quando os sábios são perversos”– Carlos Drummond de AndradeBOATOSDesde que os jatos da Polícia Federal começaram a trazer agentes de vários estados, no Aeroporto Internacional de Boa Vista, na tarde de terça-feira, começaram intensos boatos de que seria um desdobramento da Lava Jato, em Roraima. Foi iniciado um verdadeiro “terrorismo psicológico”, via WhatsApp, levando alguns políticos a correrem da sala para a cozinha e mobilizarem seus assessores. Mas o alarme era falso para Lava Jato. VASSALOSO alvo mesmo da Operação Vassalagem, executada pela PF desde as primeiras horas da manhã de ontem, foram os grileiros de terras que arquitetaram uma organização criminosa para fraudar documentos no Instituto de Terras de Roraima (Iteraima) e transferir terras públicas para particulares, que vão de gente influente em Roraima a produtores de outros estados, como São Paulo, Amazonas, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Paraná, Pernambuco, Mato Grosso do Sul. PIABASTodo esse esquema vem sendo denunciado constantemente pela Folha e acompanhado pela Parabólica. Por enquanto, em sua maioria, caíram nas garras da polícia, em sua maioria, os “peixes pequenos”, aqueles que cumpriam ordens e ganhavam propina para práticas ilegais no Iteraima, a fim de “esquentar” documentos de terras para gente que sequer morava aqui ou que nunca colocou os pés em uma propriedade rural, ou nem   pegaram no cabo de uma enxada. CABEÇASFalta ainda chegar aos demais “cabeças” do esquema, aqueles que detinham poder de decisão nos órgãos fundiários e tinham a caneta na mão para abonar as práticas ilegais na questão fundiária.  E ainda tem um defunto nessa história, cujo assassinato, com claro sinal de execução para queima de arquivo, que está impune e cujas investigações dormitam em alguma gaveta da Polícia Civil. O fio desse novelo é extenso. GOVERNOO Governo do Estado não ficou indiferente à operação da PF. Tratou logo de emitir nota à imprensa afirmando que os fatos investigados ocorreram nos anos de 2009 a 2013 e “que não existe nada relacionado à atual gestão”. Afirmou que tem interesse em que o esquema seja desvendado e os responsáveis punidos, para que possa desobstruir o processo de regularização fundiária de Roraima, “que permanece comprometido em decorrência das irregularidades cometidas nas gestões anteriores”.REVISÃOO curioso disso tudo é que a operação da PF ocorreu justamente depois que a presidente Dilma Roussefff (PT) tomou a decisão de definir a questão da transferência de terras da União para o Estado de Roraima. Só para lembrar, o governo estadual chegou a anunciar a revisão de 700 processos fundiários que resultaram na emissão de títulos de terras, o que permitirá a anulação da titulação de terras feita de maneira irregular.ZEROCom nota zero no Ranking Estadual da Transparência divulgado pelo Ministério Público Federal em Roraima, o Município de Iracema, localizado entre os municípios de Mucajaí e Caracaraí, no trecho sul da BR-174, também coleciona notas zeros na administração. O desleixo pode ser notado no visual: quem chega para visitar aquela cidade encontra uma orla e um parque aquático jogados às traças, tomados pelo matagal e pela ação do tempo. O caos atinge setores essenciais, como a saúde e educação.PORTALA Prefeitura de Iracema não chegou a implantar o Portal da Transparência, conforme exige a legislação. Na verdade, existe um endereço do portal que foi criado (http://www.iracema.rr.gov.br/transparencia/index.php), mas lá não tem qualquer publicação. A página é apenas figurativa, um rascunho do que deveria estar servindo para que o cidadão acompanhasse a situação administrativa daquele município.FACHADANo Município de Caracaraí, a Prefeitura de lá sentiu-se pressionada a tomar algumas decisões depois que a Folha divulgou denúncias sobre a realidade daquela cidade. A questão do lixo, que se repete em outras cidades do interior, é um dos problemas. Depois das denúncias, a Prefeitura mandou fazer uma limpeza na praça que fica na entrada da cidade, o que parece que providências começaram a ser tomadas. Mas ficou só nisso mesmo.DEFESA 1A assessoria jurídica do vereador Adelino Neto (PSL) decidiu se defender das acusações sobre atos de improbidade administrativa, que constam na Ação Civil Pública de autoria do Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR). Afirmou que o MP se valeu apenas de “conjecturas e suposições, pois não consta nos autos nenhuma prova concreta de possível prática ou participação do ato improbo pelo vereador”.DEFESA 2A defesa ingressou com recurso junto ao Tribunal de Justiça, questionando a decisão do juiz e argumentando que não haveria provas que justificasse a decisão de afastamento do vereador do cargo. A Justiça, ontem, acatou a defesa e suspendeu o afastamento. “O vereador Adelino não é o ordenador de despesa daquela Casa legislativa [Câmara], sendo os atos de gestão atribuídos exclusivamente ao presidente da Câmara Municipal de Boa Vista (Edilberto Veras, do PP)”, frisou.