Bom dia,

Na série “Bolívar”, produzida pelo Netflix, que conta passagens da vida do general Simón Bolívar, tem um registro que vale a pena fazer aqui pela atualidade das circunstâncias. Depois de expulsar os soldados monarquistas da Bogotá (Colômbia) e com a necessidade de seguir para Quito (Equador) e Lima (Peru) no intuito de cumprir a mesma façanha, Bolívar – que havia sido proclamado presidente do país recém liberto – escolheu um de seus generais (Santander) e o fez vice-presidente da Colômbia. A tarefa de Santander era organizar o país, criando instituições que assegurassem a reconstrução econômica, ao mesmo tempo de gerar empregos dignos para a população, que com grande entusiasmo houvera recebido suas tropas depois de expulsão dos espanhóis.

Bolívar e seus oficiais demoraram alguns anos para conquistar o Equador e o Peru, por isso o Libertador – assim ele era chamado pela população – ficou algum tempo ser saber, de fato, o que acontecia na Colômbia, que ele entregara à administração de Santander. Quando a situação caminhava para a consolidação da conquista do Peru, Bolívar começou a receber notícias inquietadoras vindas da Colômbia e resolveu voltar para aquele país para avaliar pessoalmente o que se passava. No caminho, encontrou milhares de trabalhadores, especialmente camponeses, vivendo sobre a opressão governamental, sem trabalho e na maior miséria; o que lhe fez duvidar do sacrifício e da morte de milhares de pessoas na luta pela liberdade.

Bolívar só avisou que estava a caminho de Bogotá quando já estava próximo à cidade, justificando a estratégia para evitar surpresas desagradáveis. Quando chegou à cidade, Santander lhe tinha preparado uma grande recepção, levando boa parte da população às ruas para gritar “viva o Libertador”. Bolívar encurtou a cerimônia e convidou Santander para uma reunião a sós, quando lhe perguntou como estavam as coisas, recebendo como resposta a informação de que afora alguns problemas com a elite local, tudo estava muito bem, dando a entender que valera o sacrifício para expulsar os espanhóis com a promessa de liberdade ao povo.

Olhando nos olhos de Santander, o general disse que percebeu a miséria instalada na sociedade colombiana, especialmente entre os mais pobres. Lembrou que durante a viagem pôde ver com os próprios olhos o sofrimento da população, que estava doente, sem emprego, trabalhando em situação de escravidão, inclusive constatou a presença de várias pessoas, homens e mulheres, que como soldados patriotas, o haviam ajudado na luta pela libertação do país do julgo espanhol. Ali mesmo, Bolívar decidiu passar algum tempo na Colômbia para tentar melhorar a vida da população.

30 MILHÕES

E o leitor (a) da Parabólica deve estar se perguntando por que razão decidimos contar essa história bem no começo da semana? A razão da narrativa vem a propósito dos números divulgados na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), onde cerca de 30 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha absoluta da pobreza. Gente que recebe menos de 100 reais por mês, valor que não é suficiente sequer para comer. São brasileiros e brasileiras cuja fome envergonha o país, e sem dúvida representam combustível que produz esse quadro de violência que consome as entranhas da sociedade tupiniquim.

VERGONHA

Em Roraima, estado brasileiro que apresentou, no último ano, a maior taxa de crescimento da população em estado de pobreza absoluta, são pouco mais de 167 mil pessoas vivendo nesta vergonhosa situação. Esse número, em termos relativos, significa que quase 34% da população roraimense vive em situação de miséria. É um número escandaloso, inaceitável e imoral, e apesar disso, não sensibiliza a elite política local, que diz cinicamente, como fez Santander, a Bolívar, que está tudo bem, e que Roraima está no caminho certo e cada dia melhor. Basta dizer que a publicação desses números não provocou qualquer reação entre parlamentares e governantes do estado. Até, quando? 

ABUSO 1

Na entrevista concedida ontem, ao programa Agenda da Semana, da Rádio Folha FM 100.3, o presidente da seccional de Roraima da Ordem dos Advogados do Brasil, Ednaldo Vidal, não deixou dúvida do apoio da classe à aprovação da chamada Lei de Abuso da Autoridade, que vale, diga-se de passagem, para agentes dos três poderes. O presidente da OAB-RR fez questão de assinalar que nenhum agente público que exercer seu mister nos limites exatos da lei, deve temer qualquer restrição. “A nova lei fortalece a cidadania e protege as pessoas da ação descabida do Estado”, disse um advogado ouvido pela Parabólica.

ABUSO 2

Recentemente, um desses atos abusivos partidos de agentes públicos foi praticado contra uma professora, Ana Zuleide Barroso da Silva, da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Depois de concluir um doutorado, a professora foi acusada de plágio por ter citado alguns parágrafos de um trabalho de uma professora carioca. Sem que lhe fosse dado o direito de defesa, seu diploma foi anulado, trazendo-lhe imensos prejuízos morais, profissionais e financeiros. Ela foi, inclusive, obrigada a responder a processos movidos pela direção da UFRR. No começo deste mês, o Tribunal Regional Federal de 1ª Região (TRF-01) anulou a decisão que lhe havia cassado o diploma. E agora, quem vai lhe reparar os danos sofridos? 

SUSPENSA

O governador Antonio Denarium (PSL) quer prorrogar a intervenção federal no sistema penitenciário do estado. Para avaliar o pedido, uma diretora do Departamento Penitenciário Nacional veio a Roraima. A técnica tentou conversar com alguns deputados estaduais, convidados pelo governador, sem passar pelo presidente da Assembleia Legislativa, Jalser Renier (SD), que ao saber da reunião pediu aos colegas para suspendê-la. E foi atendido.