Bom dia,
Esta semana iniciada ontem, domingo, será decisiva para a formação, quase final, do cenário sob o qual vão ser realizadas as eleições de outubro próximo. Em nível nacional, a grande expectativa é pela confirmação de que o Centrão, um grupo de partidos, de direita e fisiológicos, vai mesmo pender para a candidatura do ex-governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin, que ganhará musculatura capaz de aumentar a intenção de votos muito pequena nas medições até agora publicadas. O candidato do PSDB, em todos os cenários admitidos no primeiro turno das eleições, nunca passou de um dígito em todas as pesquisas, de todos os institutos.
Essa aparente surpresa, de ver partidos fisiológicos abraçando uma candidatura até agora muito mal avaliada nas pesquisas, parece demonstrar que a partir de agora, os profissionais da política brasileira começaram a agir com a competência que lhes é particular quando o assunto é a sobrevivência na ilharga do poder. Eles fizeram isso até com a coalizão montada pelo governo esquerdista de Lula e do Partido dos Trabalhadores (PT). Assim como fizeram com o petista, nos entendimentos preliminares com Alckmin, eles já emplacaram como vice na chapa encabeçada pelo tucano paulista, o empresário mineiro Josué Gomes da Silva, que é nada mais nada menos que filho de José Alencar, vice de Lula por dois mandatos.
O Centrão também já bateu o martelo para sacar de Geraldo Alckmin o compromisso de que, reeleito no Rio de Janeiro, o deputado federal Rodrigo Maia (Democratas) continuará como presidente da Câmara dos Deputados consagrando uma prática que vem sendo praticada nos legislativos estaduais e municipais brasileiros de manter o continuísmo de suas presidências. De igual forma, para acomodar as ambições dos partidos que integram o Centrão, também está encaminhado um acerto com Geraldo Alckmin para entregar a presidência do Senado Federal para o Progressistas, um dos partidos de direita que mais cresceram com o troca-troca de partidos na janela de mudança, permitida pela lei que eles mesmos aprovaram.
Parece que tudo está muito bem arrumadinho entre os tucanos e o Centrão, num aparente jogo onde todos eles saem ganhando: Alckmin que vê sua candidatura, que já começava a ser questionada pelos próprios tucanos, ganhar musculatura, com o aumento de seu tempo na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão para mais de seis minutos; e ganham também esses partidos do Centrão que não teriam possibilidades de continuarem médios, longe do poder, isto é, sem a força para indicar ministros e outros cargos no governo federal. Para eles, o tucano paulista é a tábua da salvação.
A única pedra que parece fora do jogo nessa revoada do Centrão em direção ao tucano Geraldo Alckmin é a ausência do partido mais fisiológico da história recente da política brasileira, o MDB. Ele domina o núcleo do poder nessa presidência de Michel Temer, que distribuiu ministérios para todos os partidos do Centrão, e tem pelo menos oficialmente, um pré-candidato à Presidência da República, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meireles, que diz não abrir mão da candidatura, aparentemente abençoada por Michel Temer e seus companheiros mais influentes. É pouco crível que esse mesmo MDB, que foi até pouco tempo atrás PMDB, e ocupou a Presidência da República, por golpe ou morte do titular, por três vezes a partir da vice-presidência (José Sarney, Itamar Franco e Michel Temer) aceite ficar fora do banquete (Alckmin/Centrão), sendo ele o garçom, que serve a comida para todos os comensais.
Essa ausência do MDB entre os partidos adesistas à candidatura de Geraldo Alckmin, que deve ser confirmada esta semana, parece ser um ponto fora da curva no arranjo do atual poder político que domina a cena política brasileira, inclusive, povoada de gente envolvida em denúncias de corrupção que desviou bilhões de dinheiro público nos últimos anos. Apesar de faltar ainda essa mexida no tabuleiro político da fisiologia explícita, o certo é que a movimentação do Centrão já produziu estragos nas principais candidaturas que vão enfrentar essa revigorada campanha do tucano paulista.
Mesmo os mais entusiastas da candidatura do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) sabem que ela restou isolada, afinal, o pedetista chegou a cortejar o Centrão, que lhe daria tempo de rádio e televisão. Sem outros partidos, detentores de bancadas médias na Câmara dos Deputados, Ciro terá menos de um minuto para poder falar pelo Rádio e TV para os leitores que ainda não conhecem suas propostas. Ficará igualmente com um exército de cabos eleitorais bem mais reduzido, o que é ruim dentro de um tempo muito curto de campanha oficial. O pedetista está, inclusive, sem muita alternativa para escolher um nome de peso para compor sua chapa como vice.
Outra candidatura à Presidência da República, que ficou isolada com a adesão do Centrão a Geraldo Alckmin foi a do deputado federal Jair Bolsonaro, que teve seu nome confirmado ontem, no Rio de Janeiro, pelo nanico PSL. Bolsonaro terá o apoio informal de muitos parlamentares, inclusive de deputados filiados aos partidos do Centrão, mas terá menos tempo de rádio e televisão que seus concorrentes, inclusive de Ciro Gomes. O deputado carioca, que tem a virtude de ter recriado um ambiente mais ideológico na campanha eleitoral, vai sentir falta de palanques fortes nos estados que possam lhe propiciar um contato mais próximo dos eleitores, que tanto têm se encantado com suas propostas de um governo genuinamente de direita.
Amanhã escreveremos sobre o cenário local.