Bom dia,

PRESOO ex-deputado federal Márcio Junqueira já está preso em Brasília por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, relator da Lava Jato na Suprema Corte. Sua prisão é preventiva, daquela que não tem prazo definido para acabar. A acusação que lhe pesa é de tentar obstruir o trabalho da Justiça através da tentativa de ameaças contra a vida e aliciamento de testemunhas mediante promessa de pagamento para que ajudassem o senador piauiense Ciro Nogueira, que preside o Progressistas nacionalmente, e que responde a processo de acusação por corrupção.

TÍPICOMárcio Junqueira, que foi tratado pela imprensa nacional como ex-deputado federal por Roraima, é um exemplo acabado de vários aventureiros que vêm para o estado buscar ascensão econômica rápida, principalmente política, através das estruturas de poder, instrumentalizadas facilmente por essa gente, que é minimamente esperta. Essa ascensão é facilitada por conta de uma sociedade local ainda sem valores definidos, que não tem filtros formados pela história, pelos valores éticos e morais, pelas tradições e pela cultura. Somos ainda hoje um mosaico formado por gente que ainda não construiu uma história coletiva.

INÍCIOJunqueira chegou a Roraima no início do ano 2000, pelas mãos do empresário e político paulista Moisés Lipnik, que veio tentar comprar um mandato de senador pelo estado, com um derramamento de dinheiro só comparável à tentativa de outro forasteiro, o alagoano e usineiro de açúcar, João Lyra, parceiro do notório senador Romero Jucá, na primeira eleição para governador do estado. Lipnik não ganhou aquela eleição, mas comprou, em nome de um irmão médico residente nos Estados Unidos da América, uma emissora de televisão e outra de rádio FM, como estratégia para chegar mais forte na eleição seguinte.

COMEÇOSempre ligado a Moisés Lipnik, Márcio Junqueira virou apresentador dessas duas emissoras em programas populistas muito a gosto dos segmentos mais humildes da população. Na época, os políticos Romero Jucá e a atual prefeita de Boa Vista, Teresa Surita, eram os alvos preferidos das críticas do apresentador Junqueira, cujos ataques tangenciam a honra, especialmente da segunda, que à época já governava a Capital roraimense. Por ironia, as duas emissoras são hoje de propriedade da família de Romero Jucá.

ELEITOTendo Junqueira como seu principal articulador e cabo eleitoral, Lipnik, que nunca morou em Roraima, apesar de ter comprado uma bela casa em Boa Vista, conseguiu eleger-se deputado federal na eleição seguinte. Levou Junqueira para Brasília como principal assessor, embora sem que este abandonasse definitivamente a apresentação dos programas na TV e no rádio. Em pleno mandato de deputado federal, Moisés Lipnik veio a falecer, vítima de um infarto agudo do coração. Já na época, o então deputado federal era muito ligado ao então governador do estado Ottomar Pinto, e suas emissoras eram praticamente porta-vozes do governo estadual.

ADOTOUAlém de garantir o financiamento da TV e da rádio, Ottomar chamou para perto de si Junqueira e o gerente das duas emissoras, José Haddad, que após sua morte virou nome de praça por determinação do então governador. Junqueira, agora mais perto do governo começou a pavimentar sua campanha para a Câmara Federal nas eleições gerais de 2006. Com apoio da máquina do estado logrou conquistar uma das oito vagas em disputa naquele pleito, transformando-se em representante do povo de Roraima, sem que tivesse na bagagem qualquer história de realização e de serviços prestados ao povo roraimense.

PROTEGIDONas eleições de 2010, Márcio Junqueira não conseguiu reeleger-se, mas teve a proteção do sucessor de Ottomar Pinto, o então governador reeleito José Anchieta Júnior (PSDB), que o nomeou para presidir o Instituto de Terras e Colonização de Roraima (ITERAIMA). A administração de Junqueira naquela autarquia estadual foi um suceder de escândalos, com denúncias de venda fraudulenta de terras públicas como nunca se tinha visto na história de Roraima. Vários processos de vendas dessas terras foram apreendidos pela Polícia Federal, sem que até hoje se tenha qualquer informação sobre o andamento de eventuais processos instaurados. Em entrevista à Rádio Folha, o ex-governador Anchieta Júnior disse que nomear Junqueira para comandar o ITERAIMA foi um grande erro de sua parte.

FICOUAfastado do ITERAIMA para disputar, mais uma vez, um mandato de deputado federal nas eleições de 2014, Junqueira saiu derrotado, mas ficou em Brasília como assessor de parlamentares com quem firmou amizade, até mesmo quando assumiu temporariamente o mandato que foi de Berinho Bantim. Agora, em função de serviço sujo prestado a um desses parlamentares foi parar na cadeia.

ENFIMEnfim, ocupamos todo o espaço da Parabólica para mostrar como um povo sem filtro que separe o joio do trigo pode eleger ou prestigiar aventureiros sem qualquer raiz ou vínculo com a história do estado. Para esse eleitor que vende voto, e também não tem igualmente apreço à nossa história, pouco importa escolher gente com história de realizações em benefício dos roraimenses e um aventureiro qualquer, que lhe possa pagar algo em torno de seu voto.